O novato

Furta cor é a cor mais brilhante

— ... E então, depois de tudo isso eu ainda fui trabalhar na loja do gato e quase tive um piripaque em ver o que a troca de todos os conselheiros causou na organização das finanças, mas ok, o Clóvis é fera nisso também e praticamente é ele quem está cuidando dessa parte, aliás eu conversei com ele sobre nosso atrito. – Inki me olhou praticamente suspirante e eu cutuquei um dos tentáculos que estava em cima de mim na beira da piscina – Não faça assim, ele é um cara legal, a gente tem as diferenças nossas, mas ele agora já percebeu que trabalha mais tranquilo lá do que aqui. Só nunca vai admitir e está tudo bem.

Inki rolou os olhos e eu suspirei. Sinceramente o Clóvis é mesmo o menor dos meus atuais problemas. Já era mais de meia noite, eu liguei para a Bianca para dizer que ia passar um tempo a mais com o Inki e ela disse que tudo bem porque ainda estava lidando com a 'situação' do Andreas no escritório de casa e que Pcy ia ficar me esperando.

Ela pediu que conversássemos quando eu chegasse e era isso que eu vim fazer com o Inki, eu precisava de conselhos antes de ir ver minha esposa essa noite.

Inki sabia nos meus olhos em como eu me sentia naquele momento depois de todo aquele longo e complicado dia e agora que eu contei tudo a ele, tudinho mesmo, de tudo o que aconteceu, do que vi, do que eu passei, ele parecia entender bem do que eu precisava. Ainda assim eu não disse a ele o que ouvi a Sirena falar dele e por isso mergulhei e o olhei bem de pertinho:

— A Sirena disse que você é um polvo ancião, isso quer dizer que você é muito velhinho, Inki? Tipo assim, eu sei que você já está há alguns anos com a Bi e que geralmente a vida de um polvo é até de seis anos, no máximo, então... Eu...

Engoli em seco. Não queria perder o Inki e podia ser que ele já estava no ciclo final da vida e tudo isso. Inki, por sua vez se sacudiu com todo o corpo negando e eu suspirei.

— Não o quê, exatamente?

Sussurrei e de repente ele fez algo inusitado: ele colocou a ponta de um dos braços dele na minha têmpora e me olhou mais fixo. Ficamos assim por um longo segundo de silêncio e então eu ouvi uma voz rouquinha, mas nada idosa dentro da minha cabeça:

"Eu sou um ancião para os sereianos, mas não para os da minha espécie em específico. Eu sou um polvo gigante do pacífico, aparentemente, mas minha existência é um Galileu. Eu vivo em torno de uns cinquenta anos humanos, meu príncipe, e ainda vou crescer mais, por isso fui sequestrado em primeiro lugar por aqueles tolos".

Abri a boca chocado e quase esqueci de bater os pés e nadar... Espera...!

— Eu sempre pude te ouvir!?

"Basicamente, mas como nunca me disse que tinha conseguido, eu pensei em esperar para te mostrar mais tarde... Embora você me entenda perfeitamente sem me ouvir – Nisso ele riu de forma doce e eu entendi que ele era apenas um jovem... Arregalei mais os olhos, ele deu de ombros. - A propósito a Imperatriz tirou todas as escutas daqui, para que meu príncipe ficasse mais confortável. Ela realmente pensa em todos os aspectos do seu conforto e bem-estar..."

— A Bianca tinha escutas aqui!? Isso explica muita coisa.

Rolei os olhos e por fim ri. Ele me soltou e eu quase o puxei de volta, mas ele rolou os olhos:

"Eu só usei o ponto mental para que abríssemos o canal, meu príncipe, não precisamos ficar grudados para ouvirmos um ao outro mentalmente"

"É como foi com a sereias?"

"Basicamente. Quando quiser fechar o canal é só tocar na têmpora e pensar em uma porta se fechando. Acho que isso serve com você, e acho que isso serve para que ouça a mente do irmão mais novo da Imperatriz também, isso pode te ajudar a resolver suas dúvidas".