Prazer, Vitória

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Assisti o mundo de Marta desabar diante dos meus olhos em tempo real, enquanto ela soluçava aos prantos dando socos na mesa recém trocada, soltando todo o choro que estava contendo durante todos os dias.

Fiquei imóvel por alguns minutos, sem saber bem como reagir, nunca me dei muito bem em consolar os outros, sempre fui do tipo que busca consolo, então fiz a única coisa que me veio à cabeça, me aproximei dela, acariciando suas costas e dando tapinhas leves pra mostrar que estava ali.

Tomei o celular da mão dela, e agradeci Estella pela ajuda, dizendo a ela que por hora aquilo era suficiente, e pedi que ela retornasse, e nos encontrasse na fábrica.

Após buscar mais um copo de água pra Marta, para que ela digerisse melhor a situação, me sentei de frente a ela, enquanto ouvi ela desabafar, com a voz ainda embriagada pelo choro, e com um olhar furioso.

- Desculpe por isso, é que você não tem ideia de quanta coisa está passando pela minha cabeça agora

- Eu posso imaginar - falei.

- Dois anos, o garoto tem dois anos.. Quer dizer, há quanto tempo ele estava escondendo isso? Quantos e quantos dias ele chegou tarde do trabalho e eu acreditei, eu senti pena do cansaço dele, ele vinha com todo aquele papo de passar mais tempo com nossa família, porra ele me cobrava isso - disse balançando a cabeça em negação.

- Eu sinto muito - acariciei sua mão pousada na mesa tentando conforta-lá de alguma forma.

- Ele me dizia pra passar mais tempo com a família, que eu só pensava em trabalho e eu me sentia tão culpada - disse comprimindo os lábios - e ele tendo outra família o tempo todo, eu tentei por tudo salvar nosso casamento por achar que ele merecia, que ele era bom demais pra mim, e era tudo mentira.

- Eu imagino que deva ser muito difícil... - falei baixo.

- Ele me fez de palhaça todo esse tempo, como eu não percebi. Meu Deus ele fez eu me sentir culpada por gostar de você, enquanto isso ele me enganava todos esses anos, sem nenhum peso na consciência. Como eu pude ser são burra?

- Não se deprecie, você não tem culpa de nada.

- Ele me deixou no dia daquele evento, tudo que eu precisava era que ele me acompanhasse, não estava pedindo mais nada, e ele preferiu a outra, me fez ficar esperando, ainda bem que eu tinha você. E o pior é que ele teve a cara de pau de inventar aquelas mentiras, colocou até a família dele no meio, ele é tão baixo.

- Eu realmente não entendo porque ele fez isso - comentei.

- Eu sempre fiz o que estava ao meu alcance, por ele, pela nossa familia... Eu posso ter sido ausente as vezes, mas eu estava lá todas as vezes que ele precisou de mim, e é isso que eu ganho em troca, ingratidão e um belíssimo par de chifres.

- Você não merecia isso - estava jogando frases de efeito como um robô na tentativa de que isso a consolasse de alguma forma.

- Eu pensei que sabia quem ele era, mas hoje eu percebi que não conheço o Sergio, tem noção disso? Eu não conheço o homem com que sou casada há quase 10 anos, o homem com quem eu dormi e acordei todas as manhãs, o pai do meu filho... E eu não tenho ideia de quem ele é Micaella, eu dividi meu teto; apior do que isso eu dividi minha vida todo esse tempo, com um completo estranho.

- Deve ser uma sensação horrível se dar conta disso - e eu não estou ajudando em nada, pensei.

- Isso não é nem a pior parte, sabe o que é pior nisso tudo?

Assenti negativamente.

- A pior parte, é perceber que eu fiz tudo isso por comodismo, por pressão das pessoas ao nosso redor, porque achei que eu precisava manter o casamento perfeito, a família perfeita, pra sustentar isso diante dos empresários, dos nossos amigos. Eu me enganei todo esse tempo acreditando em algum lugar da minha mente que eu amava o Sergio, mas hoje quando olho pra trás eu não consigo me lembrar de nenhum momento em que estive com ele onde senti que realmente o amava como era com o pai do Henrique...

Contrato AssinadoWhere stories live. Discover now