Capítulo 3

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Apesar de querer chegar logo ao seu destino, Metin estava adorando a viagem ao lado de seu amor. Sim, ele a amava. Não havia razão, nem explicações. Só sentia o coração encher-se de alegria desde que vira aqueles olhos verdes rasgados pela primeira vez.

Aos poucos ela ia falando mais, movimentando-se com mais confiança e até já arriscava sentar-se ou na carroça ou na cela com Metin, em alguns momentos da viagem. É claro que ambos apreciavam mais quando estavam juntos na cela do príncipe, com Clara a abraçar-lhe pelas costas, ou Metin segurar as rédeas com ela à sua frente.

Em pouco tempo eles já eram cúmplices naquele silêncio confortável dos que se amam, desfrutando apenas da presença reconfortante um do outro.

Mas, exceto em alguns momentos, com Metin a auxiliando, não se tocavam. Não era o momento certo para isso.

- Minha jovem, você precisa comer o assado - O médico Cem, tentava, sempre sem sucesso, fazê-la experimentar a carne da caça realizada por Kenan.

- Eu não gosto de carne. Não posso comer algo que estava vivo à pouco... Sinto muito doutor Cem.

Metin ouvia a frase familiar, com um meio sorriso nos lábios. Ele comera e até apreciara o assado, mas não podia deixar de concordar que realmente era estranho comer algo que há algumas horas pastava livre e cheio de vida nos arredores daquele caminho.

- Por isso continua fraca. E continuará se não obedecer.

Os olhos de Clara encheram-se de lágrimas.

- Doutor Cem, sabemos que o que diz o faz devido à sua experiência médica e conhecimentos - iniciou Metin ao perceber que Clara não estava à vontade - Porém, ela não pode comer algo que lhe causa repulsa. Se as frutas não lhe trouxerem o vigor necessário agora, os legumes e verduras de Istambul, com certeza restituirão sua saúde.

Clara amava Metin. E, amava-o por muitos motivos. Ele era gentil, cuidadoso e nunca deixava, como agora, que alguém lhe obrigasse a fazer o que não queria. Não se esquecia de que antes de partirem de sua casa, ele lhe perguntara se podia levá-la para Istambul com ele. E ela acenou que sim com a cabeça.

O filho do sultão encheu a cuia de madeira com a desculpa de oferecer água a Clara e, gentilmente, enxugou uma lágrima que escapara dos olhos magoados daquela que era a dona de seu coração.

Ela não queria chorar, mas não gostava que lhe obrigassem a obedecer. Não fora por isso que o tio a trancara no porão, algumas semanas atrás?

Sua mente divagou e agora, Clara estava limpando os livros da biblioteca, em uma linda tarde, com todas as janelas abertas, naquele que era seu lugar preferido da casa. Tinha entre as mãos um volume sobre árvores, todo ilustrado que ela sabia de cor. Foi quando ele entrou.

- Guarde o livro e venha até a cozinha.

O tio era um homem rude que mal lhe dirigia a palavra, exceto para lhe mandar fazer algo e que nunca, nunca lhe falara nada sobre sua falecida mãe, irmã dele.

Quando Clara chegou na cozinha, a esposa do tio preparava a massa de um pão.

- Encontrei um homem que se interessou em casar com você. Arrume suas coisas, pois ele a levará embora depois de amanhã.

As duas mulheres olharam para ele atônitas: uma novidade como aquela não era esperada.

- Quem irá me auxiliar com os serviços da casa? - resmungou a mulher.

Antes de responder, o tio bateu forte com as mãos na bancada, o que fez tanto a tigela, como a mulher, tremerem.

- Ele nos dará um bom dinheiro por Clara. Isso é o que importa.

A jovem sentiu um fogo invadir todo o seu corpo e se controlava para não atirar no tio tudo o que tinha à sua frente. Aquela casa era dela e ela não queria se casar, muito menos com um desconhecido.

- Senhor, meu tio - iniciou Clara com firmeza - não vou me casar ou sair daqui.

A reação do tio foi violenta. Mesmo com os gritos da esposa, que lhe pedia para parar, ele jogou a jovem no chão e começou a chutá-la e insultá-la.

Arrastando-a pelos cabelos desceu a escada que ligava a cozinha ao porão e empurrou-a para uma das celas. Chutou-a ainda mais algumas vezes e acorrentou suas mãos e pés nas grades.

- Vamos ver se dois dias aqui, sem comer ou beber, urinando e defecando sem poder se mexer, não a farão obedecer. - Sempre a obsessão pela obediência...

- Clara, é hora de dormir. - Chamou-a docemente Metin, trazendo-a para o presente.

A jovem levantou-se, seguiu Metin até o local preparado por Kenan para descansarem e ajoelhou no tapete que lhe serviria de cama. Deitou-se com cuidado e, com mais cuidado ainda, Metin cobriu-a com uma manta.

- Não fique triste com o doutor. Ele é um bom homem. - Disse Metin e beijou-a com o olhar. 

O SULTÃO E A PRISIONEIRAWhere stories live. Discover now