Capítulo 4

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Sob o lindo céu estrelado, observando a constelação de Órion e as pirâmides do planalto de Gizé, sobre o peito do homem que amava, Clara sentia o coração repleto de paz e contentamento. Próximo a eles a cabeça esculpida de algum rei antigo, tentava escapar das areias do deserto.

Era inverno, mas o sultão e a sultana quiseram contemplar o magnífico céu e, aquecidos pela fogueira no centro do acampamento, bem agasalhados em seus mornos trajes tecidos com destreza e maestria pelas tecelãs da tribo, descansavam após um dia repleto de emoções para ambos.

Após as visitas oficiais, nos arredores do planalto de Gizé, Clara e Metin puderam acompanhar um casamento. A linda e jovem noiva, tristíssima, tinha chamado a atenção de Clara, tanto por sua condição emocional, quanto por sua pele, negra e reluzente.

A sultana vira escravos e livres com peles de todas as cores em Istambul, assim como livres, com roupas em frangalhos ou vestidos com lindos trajes de seda. Ficara fascinada com a diversidade de características físicas que existiam nesse grande mundo. Nunca imaginara, em sua vida na vila, tal possibilidade.

A noiva era diferente. Alta e esguia, com lábios carnudos e olhos grandes, a tez preta reluzia. Sua beleza era impressionante, tanto quanto a profunda tristeza em seu olhar.

- Provavelmente ela é uma escrava vinda do sul, minha querida. - Explicou-lhe com pesar Metin, percebendo o incômodo de Clara. - Muitas famílias acabam vendendo os filhos, em vários lugares, porque não tem o que comer. Deve ser o caso dessa linda noiva que, infelizmente, pagará um preço alto por ser tão bela.

- Podemos fazer algo? - indagou Clara ao sultão, implorando com seus lindos olhos a intervenção do marido.

Metin queria parar o casamento imediatamente, resgatar a jovem, mandar prender o noivo, já na meia idade, utilizar a força de sua posição, mas algo dentro dele não permitia agir segundo sua vontade.

Desde que se tornara sultão isso acontecia com mais frequência do que ele queria. Tanto poder em suas mãos e, mesmo assim, as mesmas pareciam sempre acorrentadas à um mundo de tradições, preconceitos e violências.

Intervir nas tradições do povo, mesmo que esse fosse politicamente submisso ao Império, nunca trazia boas consequências. Mas, poderia ele não atender um pedido mais do que justo da mulher de sua vida?

Deixando Clara na companhia de seus janízaros, Metin foi cumprimentar o noivo que, felicíssimo com tal honra, prostrou-se aos pés do sultão.

- Não faça isso. - corrigiu-o Metin. - apenas para Allah tal ação é devida.

- Vossa Majestade muito me honra com sua presença em meu casamento. Sei que estava de passagem e quis nos abençoar nos acompanhando. Mas, é meu convidado de honra para o banquete.

- Eu agradeço. - disse-lhe gentilmente o sultão. - Minha esposa ficou muito impressionada com sua noiva. Ela gostaria de lhe falar, é possível?

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora