Capítulo Três

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Eu não queria mais sair do quarto.

Naquela noite, quando retornei aos meus aposentos, enfiei o rosto no travesseiro e gritei. Gritei enquanto chorava de raiva por ter todos os meus sonhos destruídos em uma noite. Gritei até não conseguir mais respirar e minha garganta doer, enquanto meu peito doía como se tivesse uma flecha em meu coração.

Meu corpo não me respondia, e eu pensei que estava morrendo. Puxei meus cabelos com força, arrancando alguns fios e mordendo o travesseiro para poder gritar mais alto, sem que algum guarda pensasse que eu estava sendo atacada.

Deveria ter esfaqueado Aemond. Era o que eu pensava quando passava os dedos no meu pescoço avermelhado. Agora estava doendo.

Andei até um espelho cambaleando. O quarto sendo clareado pelas tochas tremeluzentes que me traziam uma sensação escrota se sufoco. Me olhei no espelho e chorei ainda mais com a bagunça que eu estava.

Naquele momento eu me odiava. Odiava cada parte de mim a começar pelos olhos valirianos e pelo cabelo escuro que me separava de um bom tratamento. Odiava os vestidos caros e joias de ouro. Odiava tudo, absolutamente tudo.

Não aguentava mais olhar meu reflexo, então soquei o espelho. O sangue escorria pelo meu pulso, manchando o vestido bonito e o tapete vindo de Dorne. Os cortes latejavam, mas não me traziam arrependimento.

Enfiei os dedos no meu cabelo, apertando com força para que eu voltasse ao controle do meu corpo. Nunca havia me sentido tão desesperada em toda a minha vida.

Tudo havia sido em vão.

Enrolei a mão em um pedaço de tecido, torcendo para que parasse de jorrar sangue. Me deitei na cama de lençóis brancos, não me importando em estar suja muito menos com as manchas carmesins que nunca sairiam. Não conseguia fechar os olhos por mais de três segundos, com minha mente revivendo todos os piores momentos da noite.

Não consegui dormir, e no dia seguinte, não quis sair do quarto.

O sol iluminava o cômodo dessa vez, trazendo uma claridade confortável para meus olhos. Minha mão doía como o inferno e eu não conseguia ignorar. O sangue seco estava impregnado em todo o meu corpo, me deixando com nojo de mim mesma.

Sentia, enfim, meus olhos ficarem pesados, enquanto eu lutava contra o cansaço ao virar as páginas de um livro.

Eu precisava aprender valiriano. Mesmo que já soubesse o básico.

Só percebi que dormi, quando acordei nadando em minha própria baba. O livro por um milagre não havia sido destruído.

Decidi criar vergonha na cara e me limpar. Lavar todas as impurezas do meu corpo e tentar lavar a vergonha e o desgosto junto. Esfreguei tanto meu corpo que minha pele ficou arranhada e senti vontade de gritar e chorar novamente.

Peguei o livro, abraçando-o e o segurando com a mão boa, enquanto a direita me lembrava constantemente do surto que tive na noite passada. Agora eu estava arrependida.

Bati na porta do quarto de Daemon, com a cara de poucos amigos e os olhos piscando de cansaço. Mal me aguentava em pé.

Meu pai abriu, me encarando surpreso e querendo perguntar o que havia acontecido, mas ficou com medo da resposta e não perguntou nada.

— Me ensina — mostrei o livro, sentindo o nó na garganta me atingir novamente enquanto Daemon me olhava com aquela expressão que ele olhava a todos. Ela me dava raiva.

— Bom dia para você também, Visenya! — ele brincou, abrindo espaço para que eu entrasse no quarto.

Me arrastei até uma cadeira, me sentando com o livro aberto. Meu pai veio atrás, sentando ao meu lado e observando meus próximos passos.

Storm - Aemond TargaryenWhere stories live. Discover now