Capítulo Dezenove

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Suspeitosamente, Otto e Alicent aprovaram o casamento.

E suspeitosamente eu ouvi, pelas passagens secretas, algumas de suas conversas. Esgueirada no escuro como um ratinho sujo e criminoso, encarnando a lady fofoqueira que sempre me estimularam a ser e sempre esperaram que eu fosse.

Fofocas a meu respeito sempre me interessaram, eu gostava de saber sobre o que as línguas venenosas falavam de mim. E não existia língua mais venenosa do que a dos Hightower. Eram cobras verdes, tão repulsivas quanto perigosas.

E eles esperavam que, me casando com Aemond, poderiam me controlar. Esperavam que eu escolhesse o lado deles, que apoie a reivindicação de Aegon no trono. Que eu abandone os pretos.

Eu não queria ser obrigada a decidir um lado. Odeio guerras, já que é sempre o povo que sofre as consequências quando os ricos decidem se matar. Não quero escolher um lado, já que é conveniente demais que Rhaenyra suba ao trono, que é dela por direito. Ter a lealdade de Aemond a mim não necessariamente o faz um traidor, só evita que eu seja obrigada a escolher um maldito lado.

Lutas pelo trono não são da minha conta. Não deveriam ser.

Apoiar Rhaenyra é algo que foi implantado em mim e eu aceitei, pois é o justo, mas eu não quero morrer por ela.

Também não quero matar por ela, nem por ninguém.

Não sou pacifista, apenas egoísta.

Por anos me esforcei para ser neutra, mas sempre declarando publicamente meu apoio aos pretos, nunca tive motivos para mudar de lado e também não pretendo. Sempre longe de tudo que os verdes representavam, de tudo o que faziam. A ideia de escolher definitivamente um lado e lutar fervorosamente por ele me dava calafrios.

A ideia de Vermithor ser morto por culpa da minha inexperiência em guerras era desesperadora e eu preferiria morrer sozinha do que causar a morte do meu dragão em combate. Não o tirei da segurança de Monte Dragão para um destino trágico.

Também não gosto da ideia de morrer por alguém. Ninguém morreria por mim, então por que diabos eu tenho que me sacrificar? Era frustrante que todos esperem isso de mim.

Entretanto, era engraçado como Alicent mudou da água para o vinho comigo. Era engraçado como ela segurou minhas mãos e sorriu como quem gostasse da minha companhia e como, aos poucos, acreditava que estava me fazendo mudar de lado.

E era engraçado como ela acreditava que eu não via o que fazia com Aemond. Que eu não via como ele ficava tenso quando ela estava por perto e que eu não via o rosto vermelho com a marca de seus cinco dedinhos nojentos.

Me machucava não poder fazer nada.

A Rainha Consorte estava dedicada a me tornar um reflexo seu, começando aos poucos por joias caríssimas, brincos e colares de ouro maciço com grandes pedras de obsidiana verde. Foi isso que uma das criadas me disse quando as trouxe bem embaladas.

Eram lindas, mas eram verdes.

E então começou com os penteados. Eu odiava que mexessem no meu cabelo, os traumas de quando tiraram meus piolhos são fortes demais, porém permiti que fizessem, tentando parecer uma boa noiva para Aemond, para que sua família o maltratasse menos.

Fingir que eu estava caindo no joguinho de manipulação dos Hightower melhoraria seu relacionamento com a mãe, e evitaria alguns problemas. Então aceitei os penteados e usei as joias buscando um pouco de paz.

Naquele dia iríamos nos encontrar para planejar o casamento. Fizeram tranças por todo o meu cabelo, prendendo-as em uma espécie de coque baixo e colocando um enfeite estranho que parecia uma rede de pesca. Colocaram as joias verdes, com os brincos pesando e coçando minhas orelhas e, quando eu estava escolhendo um vestido preto em meu armário, a própria Alicent apareceu.

Storm - Aemond TargaryenWhere stories live. Discover now