UMA MULHER ESTRANHA

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"Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite; mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois fios."

Provérbios 5: 3-4


PARTE I

~*~

— Sofia, acorde seu pai, vamos perder quase o dia todo na estrada se ele não despertar de vez! — estava na sala de casa ajeitando coisas para a viagem.

Esta manhã especificamente não houve café. Hanna, Victoria e eu havíamos combinado de passar o final de semana em Búzios junto com algumas outras pessoas que trabalhavam conosco no hospital.

E mesmo sendo uma viagem curta, eu sempre me sentia encurralada com o monte de coisas que deveriam ser feitas e preparadas para que tudo desse certo.

Às vezes sentia inveja de Vick e Hanna, por serem solteiras. Elas não tinham filhos ou um marido para se preocuparem. Muito provavelmente já deviam estar na estrada rumo a região dos lagos para curtir a praia. Nada de marido preguiçoso para despertar em um sábado de manhã. Nada de crianças para se preocuparem.

Mas então eu olhava para Sofia — o grande amor da minha vida — e para Júlio, o marido que tanto amava e que considerava um verdadeiro presente de Deus, e respirava profundamente me sentindo a mulher mais completa e feliz na face da terra. Parecia que naquele momento da vida eu havia conquistado quase tudo que eu almejava.

—  Querido, eu imagino que o plantão tenha sido exaustivo. Mas vamos perder o dia, An? Ainda quero pegar sol lá em Búzios... Vamos, levanta! — Eu me sentei ao lado e Júlio para despertá-lo, já que Sofia não obtivera muito sucesso.

— Nossa, estou morto, Aura, morto mesmo. O plantão foi mega cansativo! Duas intubações na UTI ontem. Parecia não ter fim... Passei a noite toda regulando um ventilador que não parava de apitar. Mal consegui pregar os olhos — Júlio nem abria os olhos para falar, feito uma criança.

— Eu imagino, meu bem! — Disse acariciando os cabelos de Júlio.

— Eu queria dormir por mais cem anos! — Suspirou.

Júlio ergueu-se e ficou apoiado sob os cotovelos enquanto me fitava de uma maneira bem carinhosa.

— Acredito que todo esse estresse irá sumir feito poeira assim que chegarmos em Búzios e relaxarmos em uma espreguiçadeira pertinho do mar! — Me inclinei e dei um leve beijinho nos lábios dele — Levanta dessa cama, mocinho. Vai!

— Tem razão. Vou me ajeitar. Sofia já esta pronta? — Indagou saltando da cama e depois ergueu-se, indo em direção ao banheiro.

— Sim, ela está sentada na sala esperando sairmos. Já perguntou por você várias vezes!

Aproveitei para olhar dentro do armário e verificar se não esquecia nada.

— Quer ajuda para arrumar as malas e as coisas da Sofia, amor? — Júlio escovava os dentes me reparando de frente para o armário.

— Ah, não será necessário. Aproveitei que saí mais cedo do plantão ontem e deixei tudo preparado, inclusive as suas coisas também.

Júlio sorriu muito satisfeito, como se dissesse com os olhos que estava orgulhoso pela esposa que escolhera. Era algo satisfatório para mim.

— Você não existe, meu bem! Simplesmente não existe! Eu te amo muito! — Ele correu até mim e me deu um outro beijo, mais intenso.

— Ai, Júlio, sua boca está cheia de pasta de dente. Que nojo!— Protestava rindo presa aos lábios dele — E ah, olhe seu e-mail depois...

APENAS UM TRAIDOR - ALERTA! Where stories live. Discover now