UM ASSASSINO A CAMINHO!

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Duas semanas depois

~*~

Para alegria de Sofia, Júlio finalmente havia retornado para casa. A sertralina que algum psiquiatra havia prescrito surtia efeito, apesar de notar que Júlio ainda não dormia bem.

Eu orquestrei todo um malabarismo para não chegarmos ao assunto do divórcio. Usei a desculpa de que Sofia havia sentido a ausência do pai e que eventuais desentendimentos entre mim e Júlio poderia deixar nossa filha muito instável.

Júlio não disse que discordava ou não. Mas como não mencionou o tema do divórcio, entendi que minha tática funcionara e eu ganhava tempo para pensar no que fazer.

Mas às vezes, nem precisamos nos mover. Algumas cartas do jogo simplesmente caem na nossas mãos sem que você precisemos nos  esforçar.

— Oi Hilda, tudo bem? — Atendia à chamada da minha sogra pelo celular.

Eu estava tomando meu café com Sofia antes de levá-la para escola.

— Júlio está, Aura? — Seu tom de voz preocupado me deixou alerta.

— Ele saiu para o trabalho tem uns dez minutos. Não cosneguiu falar com ele, Hilda?

Ela suspirou do outro lado.

— Não, eu quero falar com você mesmo! É algo sério e não sei o que fazer. Júlio teve alguns comportamentos esquisitos aqui, sabe?

Era algo interesante para mim. O que a mãe de Júlio começava a dizer me deixava muito satisfeita. Mas precisaria de uma conversa presencial. Não perderia a chance de ver meu marido sendo entregue pela própria mãe.

— Hilda, será que posso passar na sua casa  depois de deixar Sofia na escola? Aí conversamos com calma, já que o assunto parece ser sério !

Me erguia da mesa sinalizando para que Sofia pegasse a mochila.

— Mas e seu trabalho? Não quero te atrapalhar, Aura.

— Fique em paz, Hilda. Eu levo Sofia e em uma hora chego aí. Vou avisar no hospital que tive probelmas de família. Agora que sou subchefe meus horários estão mais flexíveis.

— Ah sim, então está bem! Aguardo você , querida! Até breve.

— Até, Hilda.

~*~

Sofia insistiu durante todo o caminho que queria ver a avó, porém eu  não permitiria que ela faltasse ao colégio. Eu sabia que qualquer passo em falso me deixaria com uma imagem arranhada, de mãe desnaturada — e deixar Sofia faltar ao colégio sem uma razão plausível poderia reforçar essas coisas.

Bem, talvez eu também estivesse um pouco paranóia. Mas melhor pecar pelo excesso de cuidados que pela falta deles.

Me despedi de Sofia que desceu do carro toda emburrada ,  sem ao menos dar tchau . Pisava em passos firmes em direção ao portão de entrada do colégio. Eu já vislumbrava a adolescência de Sofia vindo a galope.

~*~

Hilda me recebeu com chá e torradas. A geléia de morango que ela fazia era algo divino.

— Então me diga: oque está te preocupando, Hilda? — Indaguei enquanto ela me servia chá.

Após um breve sorriso forçado, sua feição fora totalmente tomada por uma preocupação.

— Olha, Aura, eu sei que você e Júlio não andam bem. Porém eu não conheço ninguém que  possa saber coisas sobre ele mais que você. Na verdade eu ando bem desesperada sem saber o que fazer...

A curiosidade tomava meu corpo. Eu estava eufórica. Mas contive meus gestos.

— Bom, me diga o que houve e eu vejo o que poso fazer — Eu girava a xícara de chá em movimentos circulares precisos. O vapor subia e esfriava a bebida.

Hilda estava visivelmente  abalada com o que tinha a situação. As vezes hesitava, como se repensasse se a ideia de me contar o que estava prestes a dizer fosse boa.

— Não é da minha conta e não quero que me interprete mal. Mas acho que Júlio esta tendo uma amante.

Eu forcei um sorriso nervoso. Depois frustração. Se fosse apenas aquilo a "grande" notícia que Hilda tinha a dizer eu teria perdido meu tempo totalmente. Que Júlio era infiel eu já sabia há muito.

Teria que haver algo mais.

— Júlio? Tendo uma amante? — Me fazia de sonsa.

— Sim, Aura. E imagino, talvez ser esse o motivo  que tenha abalado seu casamento com meu filho.

Continuava me fazendo de desentendida. E ainda aguardava uma informação que não soubesse.

— Sim, suspeitei, mas nunca confirmei nada. — Menti.

Eu acabei dizendo isso de maneira vaga, já que Hilda mantinha um silêncio, me encarando. Ela esperava uma reação minha diante do que dizia, afinal, meu marido tinha uma amante!

Oh, céus!

— Aura, eu estou preocupada com outra coisa para além disso!

Finalmente, pensei.

— Sim. O quê?

— Eu não estaria contando isso se não acreditasse que seja algo grave... Bem, nos dias que Júlio passou aqui, eu o vi conversando na garagem com dois homens muito estranhos! Não agiam como se fossem amigos.

Meus ouvidos se atentaram ainda mais. Até parei de tomar o chá pela metade.

— Nossa! Mas sobre o que falavam?

Hilda pausava sempre, ainda receosa, em dúvida se deveria me confidenciar as informações que sabia.

— Eu não tenho certeza disso, Aura. Porém eu juro que ouvi Júlio planejando a morte de um homem. E provavelmente aqueles dois estranhos eram criminosos que o ajudariam.

Touché!!

— Como assim? Que maluquice, Hilda! Quem Júlio iria querer matar?

— Ah, minha filha, Eu  acredito que seja o noivo da amante que ele está tendo. Mas não sei nem quem é a moça ou o noivo dela.

Era óbvio: Vick e Atos.

— Mas a senhora está certa disso? Será que não ouviu errado? — Eu bancava aa dvogada do diabo, a cética.

— Foi mais de uma vez, Aura. A mesma conversa. Nossa, mil desculpas! — Parecia ter um estalo — Deve ser horrível pra você, como esposa do meu filho, ouvir isso. Mas ele está depressivo daquele jeito por causa da amante. Ela o rejeitou para ficar com o namorado... pelo que ouvi. Mas pelo amor de Deus, não conte a Júlio que eu disse essas coisas, sim?

Eu mantinha os olhos fixos nela, em silêncio. Que bela nóticia era aquela. Mas forcei certa preocupação.

— E o que acha que podemos fazer, Hilda? Não sei se Júlio teria coragem de fazer algo desse tipo.

— Enfim, Aura. Eu gostaria que você o monitorasse. E se for o caso, esclareça tudo o que te contei e o aconselhe. Faça isso por mim e por Sofia. Ela não merece perder o pai.

As palavras de Hilda até me sensibilizariam se eu não desconfiasse que ela tramava com Júlio a retirada da guarda de Sofia.

— Claro, claro. Fique tranquila, Hilda, que eu vou vigiar Júlio de perto e impedir que ele faça qualquer besteira.

Um lágrima escorreu pelo rosto de Hilda, toda aflita. Era amor de mãe, aquele sentimento incondicional e que nos levaria até mesmo a matar para proteger nossa prole.

O problema era que Hilda não parecia ser capaz de se colocar no meu lugar. Eu também era mãe e merecia a compaixão dela e não que arquitetasse um golpe junto com Júlio contra mim.

Eu estava entrando no jogo e não era para perder.

APENAS UM TRAIDOR - ALERTA! Onde histórias criam vida. Descubra agora