II. burgundy mess

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Dijon, Burgundy, France

February 1st, 1976

Melinda havia acabado de chegar à capital do vinho algumas horas antes de encontrar-se sentada em frente aos dois mais proeminentes produtores da região de Borgonha.

"Anette, mostre-lhe o quarto. Faça-a se sentir em casa!" instruiu o homem de cerca de 50 anos para a empregada. "Assim que estiver instalada, querida, você pode se juntar a nós." Ele terminou, desta vez se dirigindo a Melinda.

A empregada a conduziu pelos grandiosos corredores da casa. Melinda pensou que o lugar poderia ser considerado um sanatório, com todas aquelas paredes e decorações brancas e sem graça. Era o suficiente para enlouquecer qualquer pessoa que já não estivesse perdida.

Finalmente, no quarto que seria seu alojamento, havia um toque de cor: uma namoradeira verde-esmeralda ao lado da cama, que tinha lençóis florais brancos e de menta. A empregada ajudou-a a colocar as malas no canto do quarto, para que pudessem ser desfeitas mais tarde com facilidade.

"Você pode me ajudar com isso, por favor?" Melinda virou as costas para ela e reuniu o cabelo com as mãos no alto da cabeça, dando perfeita visão de sua nuca e do zíper ao qual ela se referia. "Obrigada!"

"Quanto tempo você pretende ficar?" Anette perguntou. Ela não parecia estar muito contente com a ideia de ter mais uma pessoa para servir.

A empregada era baixa e magricela, não devia chegar aos 45kg e, apesar da aparência infantil, ela tinha muitas rugas e linhas de expressão. Se melhorasse essa cara feia, talvez não tivesse tantas, foi o que Melinda pensou. Ela se perguntava como uma mulher tão pequena conseguia gerenciar uma casa tão grande com tanta voracidade, já que não se via uma poeira nos móveis.

"Isso vai depender de muitas coisas." Melinda deslizou o vestido pelo corpo, usando apenas uma calcinha, sem se importar com a presença da pequena. "Mas não se preocupe. Pretendo ser rápida." Ela provocou enquanto procurava uma nova muda de roupa em uma das malas.

Mas à medida que Melinda se instalava em seu quarto, não conseguia dissipar a sensação de que algo não estava certo. As paredes brancas imaculadas e a decoração de bom gosto pareciam perfeitas demais, quase como se estivessem escondendo algo. E à medida que a noite avançava e ela se juntava aos seus anfitriões para um passeio, ela não conseguia superar a angústia de que estava sendo observada, que cada movimento que fazia estava sendo monitorado de perto.

Como a estação ditava, não havia muito a ver, mas a primeira parada foi nas plantações. Eles explicaram cada detalhezinho dos fatores que influenciavam o plantio e a colheita - uma colheita precoce poderia resultar em vinhos aguados, enquanto uma colheita tardia poderia resultar em um teor alcoólico mais elevado, mas menos acidez. Melinda ouviu tudo em silêncio, com um interesse astuto e falso - como se não soubesse muito mais do que eles.

O tour se estendeu até o centro de controle de qualidade nas adegas. A vinícola inteira era completamente sofisticada, do teto ao chão. Eles a guiaram por todas as etapas da produção de vinho, antes de oferecer uma degustação de uma safra antiga. No final do tour, já era noite e as temperaturas tinham caído consideravelmente, considerando o inverno lá. O vinho fluía livremente e a conversa era leve e agradável, mas Melinda não conseguia se livrar do desconforto de que havia algo estranho.

O ar estava frio, mas o calor do fogo era convidativo. A luz tremeluzia em seu rosto, lançando sombras que ocultavam suas verdadeiras emoções. Ela tinha uma habilidade estranha de esconder seu verdadeiro estado de tédio, com um belo sorriso e acenos de cabeça sempre que era lisonjeada. Era um fato que ela os achava interessantes e agradáveis, mas sua atenção era pouco afetada por isso. Ela estava lá por uma coisa e uma coisa apenas, contando os segundos até que pudesse acabar com esse teatro.

Queen of My Pitiful Soul - James Patrick March | PT-BRWhere stories live. Discover now