a carta

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Sempre pensei que ninguém nunca estaria comigo, fazendo coisas por mim.
Se meus pais, as pessoas que deveriam me amar mais nunca o fizeram, alguém mais faria isso? Era estranho quando alguém que eu via como amigo me falava algo como "eu te amo" ou coisas do tipo, no final nem um deles o fazia de verdade.
As pessoas sempre diziam que eu tinha vários amigos e que deveria ser bom ser a extrovertida amiga de todos, mas na verdade eu nunca tive um amigo sequer.
Eu era a pessoa que todos convidavam para sua festa, mas eu sempre era a que acaba sem dupla. Minhas amizades nunca duravam mais de um ano. 6 meses no mínimo e 12 meses no máximo.
Eu fazia de tudo pra sempre ter amigos novos.
A verdade é que eu nunca me encaixei em nenhum dos grupos que eu já fiz parte, eu era a diferente, por isso eu nunca realmente tive alguém comigo.

Quando conheci Tomura e Dabi, pensei que finalmente tinha achado meu grupo, sempre tentaram me proteger e tudo mais, mas na verdade eu nunca consegui me encaixar no grupo deles. O mais triste de tudo é que quando perceberam que eu não iria me incluir, eles tentaram me incluir com as próprias mãos.
Como se fossem crianças brincando de encaixar o quadrado no lugar do círculo. Para a criança ele precisa ir naquele lugar, é o que ela quer. Mas ele nunca poderá entrar no lugar do círculo se você não alterá-lo. Se ela lixar as pontas do quadrado ele eventualmente se tornará circular, tirando sua essência de quadrado. A forma não será mais ela mesma, ela encarnou a forma de outro alguém.

Seria doloroso para o quadrado ser lixado, mas a criança queria encaixa-lo.
Tudo tinha sido uma mentira até agora, certo?

Mas afinal, qual era o motivo de tudo ser assim?

Nasci na família errada, cresci no lugar errado, vivi por muito tempo sendo a deslocada. Nunca tinha parado para pensar no motivo de eu sempre acabar me sentindo sozinha, mesmo tendo tantas pessoas ao meu redor. As vezes eu achava que era besteira ou drama, eu que estava me excluindo, porém, aquilo realmente doía, doía muito. A cada dia que passava eu via as pessoas me deixarem de lado, depois eu me distanciava delas e arranjava novos amigos, e depois tudo se repetia. Era um ciclo que nunca acabava. Mesmo depois de viver tanto tempo passando por isso, eu não sentia que iria me acostumar com aquela dor, ela apenas se intensificava cada vez mais.

Foi quando eu finalmente decidi parar de tentar me encaixar a um lugar que não pertenço. Fui estudar naquela escola e eu não sabia que seria assim. Depois de viver tanto a mesma coisa eu já não esperava mais nada, claro que não foi perfeito, nunca será, porém eu finalmente me senti livre para ser eu. Finalmente a criança entendeu que o quadrado não iria se encaixar no local do círculo. A criança cresceu. A criança finalmente teve a capacidade colocar o quadrado no seu lugar. Nunca foi a vontade dela, mas aquilo era o certo a se fazer. Era o melhor para ela entender aquilo, ela teria apenas que lidar com a situação, poderia ser difícil, mas não seria mais complicado que encaixar o quadrado no lugar do círculo. O quadrado viver sem sua essência seria pior.

quando eu fui estudar naquela escola eu não esperava pela felicidade, apenas queria um pouco mais de paz, achava que se eu ficasse longe deles minha dor iria desaparecer. Como se eles fossem o problema. Eu era o problema. Eu sempre fui o problema. Assim que cheguei eu estranhei o fato da dor continuar no mesmo lugar. "Por que ela não se foi?" eu pensava coisas assim.

"Bem peculiar uma pessoa perdida e machucada querer salvar outros, não?" li isso em um livro uma vez, e naquele momento nada me descrevia mais que isso.

Eu insistia em resolver tudo sozinha. Eu não precisava de ninguém.

Eu sempre precisei de alguém. Como alguém que nunca escalou iria escalar um monte sem a ajuda de um profissional? Eu estava no fundo do poço e nunca havia tido a experiência de escalar nenhum lugar. Eu só aprendi a descer dos lugares altos. Sem a mão de alguém eu nunca iria sair. Já tinha desistido de tentar a muito tempo. A escuridão me acolhia mais que as pessoas.

Enquanto eu estava sentada em um lugar escuro, alguém veio e me estendeu a mão. Eu me levantei rapidamente pensando que ela precisava de ajuda, eu não via que a pessoa que precisava ser salva ali era eu.

Muito obrigada por me ajudarem a fechar o ciclo que eu vivia todo dia.

Essa carta foi escrita enquanto Todoroki arruma minha sala, na verdade eu nem sei a razão dele estar arrumando a sala, sempre esteve arrumada. Nunca vivi isso, então deve ser algo normal. Bakugou me trouxe flores, Deku me deu um livro e Uraraka fez um desenho para mim. Shouta veio também mas nem chegou a entrar, talvez ele não consiga olhar para mim. Deve estar decepcionado, certo? Acho que ele não sabe que vi ele. Sei que devem estar lendo isso no sofá e quem está lendo isso é o Deku. Todoroki entregou a carta a Shouta, ele não sabia sobre o que era e apenas leu meu nome. Todos devem ter ficado curiosos e tomaram a carta das mãos de Shouta para ler.

Nunca soube me expressar direito. Era assustador demais.

Mas, depois de viver com vocês percebi que não quero mais me afastar disso.

Tenho muito tempo livre aqui, então tenho pensado muito. Escrever isso será uma forma de tirar todo esse peso das minhas costas. Vocês não precisarão carregar por mim, ou mesmo carregar comigo. Estou me libertando.

Do fundo do meu coração, Murakami Sana.

❝I will be a heroine❞ [Boku No Hero]Where stories live. Discover now