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Depois de um ano e meio..

Eu nunca apreciei vestidos.

Imagine um vestido de moda clássica, de pelo menos três séculos atrás.

Tecidos sobre tecidos com uma armação de ferro que me fazia parecer curvilínea, e um espartilho na cintura que deliberadamente parecia um tamanho menor.

Isso, sem dúvida alguma em minha mente, era uma tortura indireta para noivas.

— Vossa Alteza, mil perdões... — Grace murmurou com sinceridade, abalada por não conseguir auxiliar com o vestido, e eu a acalmei erguendo minha mão.

Eu estava de pé há mais de uma hora, sendo arrumada pelas criadas na tarefa de me transformar em uma noiva atraente e deslumbrante. Mesmo assim, era evidente, pelos meus gemidos abafados, que a cada ajuste do corpete ao meu corpo, aquilo não seria uma missão simples.

— Deixe-me apenas...

E então, antes que eu pudesse terminar de falar, as duas portas do quarto se abriram, atraindo o olhar de todas.

— O que nos céus está acontecendo aqui? — A Duquesa de Bergamo me encarou. — Como a futura rainha do Reino do Sul ainda não está pronta para seu casamento?!

No vasto território europeu em que vivemos após uma terrível e apocalíptica terceira guerra mundial. Os antigos países fragmentados naquela época decidiram, muito antes do nascimento dos meus avós, que a monarquia seria a solução para a sobrevivência, e a restabeleceram em todo o continente como uma medida emergencial. Assim, a Europa, antes composta por 50 países, foi reduzida a apenas quatro reinos: o Reino do Norte, Oeste, Leste e Sul, conforme os antigos países que estavam mais próximos territorialmente se uniram.

Portanto, atualmente faço parte do último Reino, o Reino do Sul, que é composto por cinco províncias similares a estados. Estas províncias agora levam nomes de cidades históricas da época dos países, como Sevilha (antiga Espanha), Lisboa (antigo Portugal), Belgrado (antiga Sérvia), Santorini (antiga Grécia) e Bergamo (antiga Itália). Cada uma é governada por um príncipe ou uma princesa, seguindo a linhagem hereditária. Os Lordes, nobres responsáveis por cada vila (cidade), formam um conselho que apoia e fiscaliza as decisões do governante, seguindo as tradições antigas.

No entanto, o Reino do Sul ainda tem seu monarca como chefe de Estado, com conselheiros reais que desempenham o papel de assistentes do monarca. Este posto máximo foi herdado por um dos príncipes da província de Sevilha, cujos pais foram os últimos monarcas.

E eu estava prestes a me tornar sua esposa, sendo a única princesa solteira restante de todas as províncias do Reino do Sul, com a ascendência próxima do trono para ser a Rainha.

— Você já deveria estar descendo! — Minha tia, a Duquesa de Bérgamo, aproximou-se angustiada, fazendo-me desviar o olhar para respirar fundo — Ayme, Ayme...

O suspiro da minha tia foi o bastante para eu perceber que tirei os olhos dela tarde demais. Ela notou que minha demora e os puxões incômodos eram porque eu havia passado o tempo possível em oração, buscando alguma solução milagrosa para evitar este casamento político.

— Deixem-nos a sós por um instante... — disse ela seriamente, indicando às empregadas a saída. Elas me fizeram uma reverência e se retiraram.

Inclusive Grace, minha amiga e dama de companhia que cresceu comigo, que ao fechar as portas me lançou um olhar encorajador, sussurrando:

"Você vai conseguir, é a sua vez de ser a rainha que nosso reino precisa."

Com as portas fechadas, o peso do vestido pareceu aumentar, e sentei-me no primeiro banco à vista.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora