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O Reino do Sul, em comparação com os outros quatro, não é o mais poderoso economicamente nem o mais respeitado. No entanto, é o mais pacífico, com um alto índice de alfabetização e uma taxa de criminalidade muito baixa em relação aos demais reinos.

Grande parte dessa reputação provém de Bergamo, uma província populosa que, apesar de ter uma fronteira perigosa com outros dois reinos e enfrentar problemas comuns a qualquer outra província, sempre foi invejada ou amada por ser um lugar pacífico.

Na ilha dos bárbaros, dentro de um quarto de hóspedes na casa do trio de líderes, observava Sault dormindo ao meu lado. Agradeci aos céus por poder ser essa referência para ele.

Após deixarmos a taverna, os meninos, preocupados que alguém quisesse falar comigo e comprometesse o disfarce, e também compadecidos pelo garoto, nos levaram para o casarão. Lá, conversei com Sault, que me contou tudo: desde como me procurou na taverna e no quartinho sem me encontrar, até sobre a morte de seu pai e como ficou sabendo.

Apesar de sua alegria ao me ver minutos antes, e mesmo que seu pai só lhe trouxesse problemas, era um pai que Sault havia perdido, e a dor estava claramente em seu coração. Então, como outra órfã que entendia essa dor, o abracei e permiti que desabafasse em meu colo até que o sono profundo o levasse.

Por isso, olhei para cima e, de olhos fechados, pedi ao céu que confortasse o menino, quando ouvi uma tosse.

— Se estiver pedindo perdão pela agressão, fique tranquila. Os dentes de Adam estavam intactos quando os vi — Carl, que tinha entrado sem que eu percebesse, me assustou com sua aproximação abrupta, olhando para Sault antes de me encarar — Então, mesmo não sendo a melhor opção, você ainda fez uma escolha justificável esta noite ao trazer ele.

— E quanto à tia de Sault? Ela deve estar em pânico por ele ter desaparecido...

— Você realmente acha que alguém lá se importava com Sault? Ela deve estar pensando que fizemos um favor ao levá-lo.

— Se os tios não cuidam dele, quem vai ser o responsável por esse menino agora?

Ele suspirou, concordando, e então me indicou a porta para deixar ele dormir.

Segui-o. Mas, enquanto caminhávamos pelo corredor, senti um cheiro tão agradável que minha barriga roncou alto o suficiente para me fazer corar, enquanto Carl fingia não ter ouvido nada a caminho da cozinha.

— Vamos comer algo primeiro e depois terminamos essa conversa, okay?

Na cozinha, Paul e Jackels saboreavam uma sopa que eu nunca tinha sentido um aroma tão convidativo.

— Fique à vontade — disse Carl, sentando-se ao lado de Jackels e indicando o banco à frente — Não é o banquete de celebração por ter concluído o plano de hoje que você merece, mas espero que ao menos sacie sua fome.

— Cale-se — retrucou Jackels, dando-lhe um beliscão — Não é o suficiente?

Escutei Carl rir baixinho para ela. Sentei-me, recordando como nunca fui fã de sopa, trazendo à mente os dias sombrios no Sul.

Dias de enfermidade, funerais ou luto.

Contudo, esta sopa exalava um aroma tão acolhedor quanto aquele que Killius me serviu, então resolvi dar mais uma chance ao meu paladar.

E ao saboreá-la, não me arrependi nem por um instante, já que há tempos não provava algo tão saboroso.

Isso me levou a murmurar um "Mio Dios" em italiano, a língua predominante em Bergamo, o que fez todos os três me olharem com atenção.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora