Coroa de Chamas e Flores

21

Enquanto observava as estantes de livros do Sr. Tobias, eu refletia sobre quanto tempo levaria para acumular uma coleção daquele calibre. Não pela quantidade, mas pela raridade das obras que possuía.

— C.W. Lewis é, sem dúvida, uma joia de mais de um século. Como conseguiu ter...

Interrompi-me ao ver o Sr. Tobias se aproximar com mais dois volumes.

— São heranças de família. Gosta de ler?

Fiquei boquiaberta ao ver as páginas amareladas e desgastadas dos três livros, mas muito bem preservadas para terem sobrevivido à terceira guerra mundial.

— Aprendi a gostar. Minha mãe era apaixonada. Ela vivia lendo para mim.

— Sua mãe pelo jeito, tinha bom gosto.

— Sim e o senhor deve ser o homem mais rico desta província, sem dúvida. Algo que prometo não revelar para o seu príncipe.

— Ajax nunca foi de se interessar por livros. Mas Mikail, esse menino era astuto.

Desviei minha atenção de outros títulos ao ouvir isso — Como conheceu os príncipes?

— Eu estava presente no nascimento de ambos, jovem. — ele disse, enquanto abria um livro — Eu vi eles crescendo.

Observei o livro que ele manuseava e lancei um olhar para as poltronas, notando que José continuava dormindo, da mesma maneira que deixamos ele.

— Ele parece exausto. Vocês vieram correndo por acaso? — perguntou Sr. Tobias, seguindo meu olhar para Jose.

— Sim, enfrentamos uma pequena aventura pelo caminho. A princesa teve o seu bebê. E eu vi a sua menina nascer.

Naquele momento, ele levantou o olhar rapidamente — Diana estava grávida?!

Eu abri a boca, mas diante do choque no seu rosto, desisti de tentar explicar isso.

— Melhor sentarmos novamente... — sugeri, apontando para as poltronas, e ele concordou, permitindo que eu o acompanhasse com cuidado, até lá.

— Isso é realmente verdade, jovem?

Com um aceno de cabeça o respondi, e após ele se sentar, me afastei um pouco para me agachar e ver ele respirar fundo.

— Eu realmente não tinha idéia disso.

— Sr. Tobias, por que não tem saído? O que está acontecendo? — perguntei, mas ele não respondeu — Pode me contar?

— Os vizinhos não são fofoqueiros. Por isso eu escolhi essa vila. Se você não os incomoda, eles não te incomodam sabe.

— Não quer me contar o motivo. Entendi.

Ele sorriu em concordância — Gostei de você. Não é à toa que você é a rainha da profecia. Não tem como resistir a você.

O sorriso que se formava em meu rosto desapareceu assim que eu escutei isso.

— Rainha da profecia? Que profecia?

Foi nesse momento que ouvimos José dar um pulo na poltrona, assustado por ter cochilado. O que fez o sr. Tobias na minha frente sorrir e querer trazer café pra ele.

E eu juro que tentei contê-lo, mas foi em vão, deixando-me encarar José, confusa.

— Quem consegue as coisas para ele? Se ele não sai de casa há mais de meses?

José deu de ombros, ainda sonolento, fazendo-me perceber que minha caixa de dúvidas só aumentava com a breve conversa que tive com o Sr. Tobias.

Após receber seu café, pedi a José que fosse descansar em casa. Ele hesitou, mas acabou indo, permitindo-me aprender mais sobre o cultivo do café e o momento ideal para colher. Uma das paixões que o sr. Tobias queria tanto falar para alguém.