Capítulo 07

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— Sr. Ezra, meu senhor... não posso dizer que estou surpreso por estar aqui, mas devo-lhe um profundo pedido de desculpa por cogitar que eu poderia ter um pouco mais de tempo, porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde o senhor me acharia — Coniffer disse suavemente ao passo que virava a poltrona de couro para poder o observar.

O seu olhar estava melancólico e o sorriso forçado que delineava o rosto do homem só o deixava mais sem vida.

— Mas também não vou pedir misericórdia, senhor — continuou a falar enquanto servia uísque em um copo para depois girar o líquido como se isso fosse retardar o tempo. — Sei bem dos meus pecados.

— Onde está a garota? — Ezra perguntou sem rodeios, apontava a arma na mira da cabeça do homem à sua frente.

— Penélope, ela chama-se Penélope, esse nome, na mitologia grega, foi símbolo da mulher fiel e virtuosa, que tecia de dia e à noite e desmanchava o que havia feito para não ser obrigada a trair o marido, foi Cibele que a deu — o olhar perdido estava na bebida alcoólica. — Ela é uma menina tão doce, tão gentil e tão... sozinha — e de repente ele volta a focar nos olhos cor das olivas do chefe da família D'Artagnan e ajoelha agarrando vigorosamente nas calças do homem. — Eu imploro-lhe, ela não merece pagar pelos erros que cometi.

— Ela já está pagando, Coniffer — e depois tudo o que se ouviu foi apenas o barulho estridente da bala.

Aquelas lembranças o aborreceu, não, o incomodou, e não era exatamente devido a Coniffer, e sim por causa dela.

Ezra observava a cena diante dos seus olhos, a sua noiva prometida há dezoito anos, Sara, abraçada a ele com firmeza enquanto a sua protegida, Penélope, era arrastada abruptamente por seu rival, Salvatore. Tudo em Sara o irritava. A sua pele não era tão suave quanto a de Penélope, a sua voz não era tão melodiosa e envolvente, o seu cheiro não era tão tentador.

Aquela situação o irritava profundamente, pois ele sabia que se demorasse mais um pouco, jamais poderia se deleitar com a voz suave de Penélope, com sua inocência cativante, com sua aparência encantadora, com seu perfume hipnotizante, e, acima de tudo, com a intrigante personalidade da garota.

Pela primeira vez, um dos maiores assassinos do submundo grego, chefe de uma das maiores máfias gregas, se via diante de um dilema moral. Teria que escolher entre manter a paz entre as organizações criminosas ou iniciar uma guerra, tudo por causa dela, uma simples e frágil garota.

E, como um marco na vida de Ezra, ele decidiu desligar o seu bom senso e agir por impulsividade.

O homem afastou-se rapidamente de Sara, que cambaleou para trás, confusa com a súbita mudança de atitude do seu noivo. Ele se apressou em alcançar Salvatore, que por sua vez se assustou sutilmente ao sentir o braço da garota escapando das suas mãos.

— Mas o quê...! — tanto Enok, o pai de Ezra, quanto Salvatore se viraram para encarar Ezra, que havia colocado Penélope atrás de si, protegendo-a de qualquer ameaça iminente. — Sr. D'Artagnan — Salvatore chamou, num suspiro que carregava uma leve ironia, enquanto formava um sorriso nos lábios finos. — Pensei que já tivéssemos superado isso.

Ezra olhou para Salvatore com um olhar gélido, a sua expressão agora mostrando o fio tênue de paciência que mantinha. Ele não estava disposto a ceder, não mais. Penélope era sua responsabilidade.

O olhar de Salvatore, por outro lado, permanecia astuto e desafiador. — Ezra, você sempre foi o sensato, o controlado. Desde quando se tornou tão impulsivo?

Ezra respirou profundamente, contendo a raiva que fervilhava no seu interior. A situação estava à beira de um abismo, e ele sabia que cada palavra e ação podiam desencadear uma guerra entre as máfias. Mas ele não estava disposto a ceder, não quando se tratava de Penélope.

O silêncio santoOnde histórias criam vida. Descubra agora