Capítulo 26: Revelações dolorosas

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Mariana ouviu tudo atentamente e ficou de cara com cada segundo da informação.

— O que foi, menina? Fala logo! — pediu Elena, apreensiva.

— É o fim do jornal da Ana. É o fim definitivamente. A justiça moveu uma ação e a partir deste momento as atividades foram encerradas. — respondeu apática, boquiaberta e inacreditada. Mariana sentou-se na beirada da cama, levou as mãos a cabeça e começou a chorar.

— Poxa, Ma. Nem sei o que te dizer. Sinto muito por vocês, pelo jornal e pelos acontecimentos das últimas horas. — Elena agachou-se no chão, ficando entre os joelhos da amiga e segurando em uma das mãos dela. — Você precisará ser forte pela Ana e pelas meninas. Elas só tem você.

— A Ana vai ficar destruída quando souber o que perdeu. A empresa é tudo pra ela!

— Mariana, ela está na cadeia, em um local horrível e sem a família dela ao lado. Tenho certeza que essa vai ser a menor das preocupações dela.

— Desde quando você passou a gostar dela?

— Ainda não gosto tanto, mas gosto de você,

A primeira noite na cadeia com certeza não vai ser esquecida por Ana.

Ela sentia a tensão. Parecia que qualquer movimento em falso que desse, algo desastroso iria acontecer.

Enquanto ela tentava simplesmente agir normalmente para não chamar a atenção das presas, as sensações dentro de seu coração eram tantas e tão intensas que seria inevitável não pensar que o pior possa acontecer.

Ana não podia controlar sua mente. Taquicardia,  tremor, calor, dor de estômago, dificuldades para respirar… a loira sentia uma verdadeira mistura de sentimentos ruins em seu peito.

A ansiedade tomava conta e ligava uma sirene de emergência.

Como se já não bastasse tudo que seu coração estava lhe fazendo passar. A presa mais influente e difícil da cela decidiu atormentá-la.

— Eai, loira! Vai falar nada? Chegou assim na área dos outros e nem falou nada? Como é? Que que tu fez? — disse Bárbara, em tom rude.

Ana continuou amuada no canto da cela, e agora com o coração acelerado, tomado pelo medo.

A presidiária sentou-se ao lado de Ana no chão, olhando-a nos olhos.

— Você tem filhos, né? Conheço de longe mulheres que são mães e que depois de fazerem merda ficam pensando no que vão perder só crescimento dos filhos.

— Não fiz nada, nem deveria estar aqui. — Ana respondeu seca.

— Todas nós dizemos isso, meu amor. E no fim ficamos aqui por anos e anos. Meu filho nem quer saber de mim, e eu prefiro assim. Não quero que ele se aproxime do presídio.

— Eu vou sair daqui. Tenho certeza que a minha mulher vai me tirar daqui. — lágrimas escorriam pelos olhos de Ana, que desviava o olhar para não enfrentar Bárbara.

— Você é casada? Tiraram a sua aliança? — sem qualquer delicadeza, ela puxou a mão de Ana.

— Somos noivas!

— Ih minha querida, vai esquecendo já, quando você sair sua mulherzinha vai ter outro casamento e outros filhos.

Ana continuou de cabeça baixa, chorosa.

— Caramba Barbara, deixa a mulher em paz cara! Primeira noite não é fácil, porra! – Carla se aproximou, enfrentando a outra presidiária, que riu na cara dela, mas deixou de atormentar Ana.

— Obrigada… — Ana sussurrou. — Sei que é um saco ter alguém chorando por perto, mas tenho medo de não ver minhas meninas crescerem. Por muito tempo sonhei com a maternidade, e com a Mariana, minha noiva, tudo isso aumentou. Ela me ensina todo dia que ser mãe é uma aventura sem fim. — Ana respirou fundo e continuou falando sem pausa, estava engasgada com tanto sentimento, a ansiedade estava a enlouquendo. — Quando olho nos olhos das meninas, vejo os textos que por anos li na empresa. Antes as notícias me nutriam, hoje tempo de qualidade com elas me completa. Nunca fiquei tanto tempo longe delas. Tenho medo que me esqueçam.

—  Moça, seu toque é o calor que personifica as emoções das suas filhas. Nada é como seu colo. Ainda que elas tenham duas mães, sabem que cada colo é único, cada colo tem um acolhimento diferente. Elas não vão te esquecer fácil assim.

— Queria ter uma foto delas aqui, uma foto das duas sorrindo. Aqueles sorrisos banguelos que trazem força para os meus dias.

— Com certeza devem ser lindas, tenho certeza! — A moça sorriu de canto e acariciou a mão de Ana. — Me chamo Carla, muito prazer.

— Me chamo Ana. — devolveu o sorriso.

— Você está tendo uma crise de ansiedade, suas mãos estão muito trêmulas.

— Como sabe? — Ana curvou as sobrancelhas em sinal de dúvida.

— Quase terminei minha faculdade de psicologia. Infelizmente a vida e as minhas escolhas me trouxeram para um lado ruim e não pude terminar. — lamentou cabisbaixa.

— A vida nem sempre é justa com a gente, né? Eu sei bem.

Mariana passou a noite em claro, andando de um lado para o outro no quarto, queimando de ansiedade e tristeza.

Ana não pôde dormir. Em meio a madrugada foi levada por policiais para responder perguntas e falar com a advogada. Muitas revelações estão por vir.

Boquiaberta, Ana descobriu quem assinou todos os documentos criminosos em seu nome. Quem falsificou sua assinatura.

E não, não foi Juan Carlos, essa capacidade ele não teve, mas recorreu à pessoa perfeita para isso, que agora se arrependeu e livrou Ana da prisão.

"Sei dos meus erros, aceito a grande parcela de culpa que tenho em tudo que está acontecendo na sua vida, filha. Fechei contratos com o Juan Carlos por você, na intenção de manter a sua boa vida e, consequentemente, a minha. Sempre estive por trás, sempre o ajudei em cada passo, e no fim, quem pagou caro foi você, que perdeu o que construiu e está tendo que viver coisas terríveis. A ganância e a vontade incessante de mais riqueza me transformou em uma pessoa ambiciosa. Destruí a vida que eu poderia ter tido com você. Te entreguei a um homem horrível e não fiz o papel de mãe protetora que deveria fazer. Talvez agora seja tarde, mas me sinto na obrigação de reaver meus erros e tentar de alguma forma me redimir. Você é uma mãe maravilhosa, e não é justo que as meninas não te tenham por perto. Já não quero seguir com tantas mentiras e tantos crimes. Estou me entregando para poder libertar você. Espero que um dia possamos conversar e que possa me perdoar. Não há justificativas para o que fiz".

A empresária leu a carta mentalmente, enquanto a segurava com as mãos trêmulas.

Me Salvaste - MaryanaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora