| Capítulo 01 - Novas amizades |

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Ana

- Come on, Noah! - gritei da arquibancada torcendo incansavelmente pelo filho da minha melhor amiga. O uniforme da escola de Noah era azul com detalhes em branco e preto, enquanto que a escola visitante jogava de vermelho. (Vamos, Noah!)

Samila que me perdoasse, mas o garoto era a cara do pai. Cabelo escuro, olhos azul piscina e um narizinho atrevido. Noah seria uma cópia fiel do Nathan e não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso. 

Gritamos todos ao mesmo tempo quando Noah chutou a bola direto para o gol e abriu o placar em 1x0. Ele abriu os braços correndo pela lateral do campo em comemoração com os coleguinhas. Antes de se virar e voltar para o centro do campo, ele apontou para mim e acenei de volta. 

- Auntie loves you - gritei pra ele que sorriu e voltou para o jogo. (Tia ama você).

Senti meu celular vibrar e o peguei checando a notificação da mensagem de Samila. Ela e Nathan queriam muito estar aqui hoje, mas ambos estavam em reuniões de trabalho extremamente importantes. Enviei uma foto do jogo acontecendo e comecei gravar um vídeo focando em Noah correndo pelo campo com a bola quando, justo nesse momento, ele marcou o segundo gol. 

High School Harvey 2 x 0 Visitors (High School Grand).

A gritaria foi ensurdecedora. Encaminhei o vídeo para Nathan também e verifiquei a mensagem da minha amiga que vibrava no áudio chamando todos os palavrões que só os brasileiros sabem usar. Voltei minha atenção ao jogo e continuei informando eles de tudo o que acontecia. 

Samila era a minha melhor amiga da vida toda. Conhemos-nos em um abrigo de menores para o qual eu havia sido enviada após a morte da minha mãe. Quando saímos de lá, dividimos um apartamento extremamente pequeno e um emprego que mais sugava a gente do que qualquer outra coisa. 

Ela e Nathan se conheceram na praia de Copacabana. Ele estava em uma viagem de negócios e nós duas trabalhávamos como garçonetes em um dos quiosques da praia. A comunicação não foi muito difícil entre eles, graças a dona Inês.  

A velha senhora foi nossa salvadora e nos ensinou de um tudo. Viver em um lar adotivo no Brasil era pior do que viver na rua a mercê do perigo. A escola era nossa fonte de segurança e garantia de comida, porque fora dela não tínhamos isso. 

Quando os seis meses de trabalho no Brasil acabaram, Nathan a pediu em casamento e foram morar nos Estados Unidos. Fiquei imensamente feliz por eles. Nathan era uma pessoa maravilhosa para Samila e com toda a certeza eles foram feitos um para o outro. Era incrível como eles se completavam. Ela, uma pinscher raivosa e ele, um Golden retriever brincalhão e sem medo do perigo. Não tinha uma mistura melhor. 

Eu havia ficado para trás, não queria sair do único lugar que tinha chamado de lar e foquei em tentar achar o meu pai. Permaneci no quiosque por mais dois anos e acompanhei o crescimento de Noah por videochamadas e fotos. O meu próximo emprego foi como vendedora de uma loja de grife e consegui juntar uma certa quantia das gorjetas que recebia com as economias que havia feito. 

Peguei todo o dinheiro, que não era muito, e consegui comprar a casa da minha mãe em um leilão. A casa ficava localizada em uma parte boa do Rio de Janeiro. Mamãe a havia herdado dos meus avós e era tudo o que ela tinha. Ainda lembro da sensação que senti quando voltei a entrar naquela casa. 

Nada estava fora do lugar. Tudo havia ficado exatamente como no dia em que os paramédicos entraram pela porta e tentaram socorrer a minha mãe. As manchas de sangue envelhecido ainda eram perceptíveis no chão de porcelanato, assim como na parede do corredor. Todo o lugar cheirava a mofo e a xixi de gato. 

Samila havia retornado ao Brasil no dia do leilão e ficou comigo por toda a semana. Limpamos a casa inteira de cima a baixo e reviramos as coisas da minha mãe atrás de alguma pista sobre o meu pai. Tudo o que encontramos foi um velho diário e uma foto muito envelhecida que mal dava para distinguir alguma coisa. 

Caindo no amorOnde histórias criam vida. Descubra agora