trauma and scars

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Marília point of view

Enfim, depois de me levantar, por algum milagre eu consegui cuidar da minha higiene pessoal, e me vestir, olhei-me no espelho e dei de ombros. O jeans rasgado, a camiseta e meu allstar não estavam nada mal, passei na cozinha, peguei uma torrada e voei para sala.

— Bom dia minha menina, não vai tomar café?

— Bom dia Mazé, estou atrasada. — beijei sua testa pegando minha bolsa no sofá, saindo do apartamento.

Cheguei na faculdade, a saga de  mexer no meu Instagram, procurando por Maraisa não parece ter fim.

— Fala sério!

Que minha amiga conseguia tudo que queria eu não tinha dúvidas, mais agora ela passou dos limites, Luiza e eu éramos grudadas desde mais novas, até mesmo nosso primeiro beijo foi juntas, desde então ficamos cientes que não gostamos uma da outra dessa forma.

Temos nossos esconderijos para isso e foi em um deles que vi Luiza beijando uma das garotas da faculdade.

— Luiza?

Ela soltou a moça e veio me cumprimentar, a tal Marcela ficou tão sem jeito que saiu sem nem mesmo dizer oi.

— O que era aquilo?

— Não sabe o que é um beijo não Lila?

— Cavala!

— Oi Lauana. — ela disse e só então percebi a presença de outra pessoa.

— Marília podemos conversar?

Lauana é minha namorada, fazemos o mesmo curso, mas ela tem dois semestres a mais.

— Aí tem viu sapatão.

— Não se mete.

— Amiga eu vou indo, porque esse teu carrapato não vai te deixar!

— Depois precisamos conversar, Luiza.

Talvez Luiza me ajude a pensar mais claramente, sobre a morena que não sai dos meus pensamentos.

Luiza saiu e Lauana começou o bombardeio.

— Amor vai ter uma festa na casa de praia de um dos meus primos, vamos? Você vai gostar, bora?

— Esse final de semana, é nosso aniversário de namoro Lauana.

— Eu sei, podemos comemorar lá!

— Pra repetir a última vez que você bebeu todas e ficou rebolando pros seus primos ou da vez que me rejeitou o fim de semana todo e quando fui falar com a sua prima, você deu um show de ciúmes, já vamos fazer três anos de namoro e você continua com isso de não falar pra ninguém, pra respeitar seu tempo!

— Tá bom Marília, se não quer ir então OK.

Lauana consegue me tirar do sério de todo jeito, mais essa cara dela de decepcionada, consegue me convencer a fazer tudo o que ela quer.

— Tá bom, eu vou com você.

— Não.

— Amor, me desculpa, eu vou...

— Não Mendonça, não quero que você vá.

— Mas você me convidou Lauana.

— Você é sempre tão irritante assim? — ela quis saber.

— Eu sempre faço tudo o que você quer Prado. — revirei os olhos.

— Não enche e me deixa. — ela saiu sem querer mais papo e eu revirei os olhos novamente diante de sua frase e do tom sarcástico que ela foi proferida.

Bufei e praguejei baixinho, depois coloquei meu melhor sorriso, vou procurar a Luiza e já marcar a boate, não tenho tempo para ficar pensando em Lauana, minha mente está ocupada por uma certa morena, e seu sorriso raro que fez até mesmo eu sentir as minhas pernas falharem.

Infelizmente não conseguiria ir ao escritório hoje, então não veria Maraisa.

Fui desperta pelo meu celular vibrando, era Luiza dizendo que haviam mudado nosso professor e que o novo já estava na sala, andei o mais rápido possível até a sala.

Cheguei até a porta e fiquei completamente perdida, o novo professor era Yugnir, um amigo de longa data do meu pai, ele me encarou, e eu desviei os olhos, pedi desculpas por atrapalhar e me sentei.

Yugnir não desviava os olhos de mim, estava sentindo uma agonia enorme de permanecer naquela sala, já havia me perdido no que ele falava e, sinceramente, só queria sair dali. Me perdi nas minhas lembranças e comecei a encarrar o nada até me interromperem com batidinhas sutis no meu ombro.

"Finja que presta atenção na matéria, sua cara de paisagem está cômica."

Olhei para a fila ao meu lado e Murilo sorria para mim – um sorriso lindo, devo acrescentar. Rasguei um pedaço da folha do meu caderno e peguei uma caneta para responder àquele bilhete.

"Mas Huff, acho que você que não está prestando atenção na aula, está muito ligado no que deixo ou não de fazer."

Amacei o bilhete, em seguida eu estiquei meu braço para entregá-lo, mas a mão que pegou o tal bilhete não foi bem quem eu esperava.

— Senhorita Mendonça, a troca de bilhetinhos acaba aqui. — falou meu professor sem tirar seus olhos dos meus lábios.

— A culpa não é dela professor, fui eu quem...

— Não me interessa quem fez o que Huff, não tolero esse tipo de coisa na minha sala, não entre alunos.

Eu fiquei nitidamente nervosa, com a aproximação e os olhares nada discretos de Yugnir.

— Não fique nervosa, garotinha. — falou com um sorriso maldoso.

— Não estou nervosa.

— Não é o que parece. — deu uma risada baixa.

— Marília preciso da sua ajuda. — Luiza saiu de trás da banca e veio em minha direção puxando meu braço para que eu levantasse e me puxou até a porta da sala. — A propósito professor, sua aula está um saco. — Luiza fechou a porta com força, me puxou pelo braço até o portão principal do colégio, o empurrando e saindo para a garagem.

— O que ele está fazendo aqui Luiza? — falei ofegante, e com os olhos marejados.

— Relaxe um pouco e respire, ele não vai chegar perto de você. — ela falou afagando minha costas.

"Não importa se somos fortes, traumas sempre deixam cicatrizes."

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