Sede de Sangue

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Seungcheol viu amanhecer, a preocupação tirou seu sono por completo. O cd tocou a madrugada inteira enquanto ele encarava o teto e pulava sempre a música que mais lhe doeu. Absorveu todas, cantarolou, leu várias vezes as letras. Levantou da cama se arrastando e demorou quase quarenta minutos no banho e colocou um conjunto de moletom qualquer, os óculos no rosto e uma touca. Saiu sem tomar café e sem guarda chuva. Cai o sereno da manhã, o frio vinha do leste de Pacatéia, realmente o inverno viria com força naquele ano.

Seungcheol trabalhava na biblioteca da cidade desde os quinze anos, cuidava da organização dos livros nas estantes, etiquetagem e da mesa do café estar sempre abastecida de copos descartáveis e açúcar. Passou boa parte do dia em silêncio, com o MP3 no bolso e os fones no ouvido. As únicas músicas que tinham gravadas eram rocks clássicos. Era um trabalho solitário e que não exigia interação com clientes, e por isso se dava bem nele até hoje.

Podia ouvir suas músicas.

Bebia café durante o experiente.

Pegava casais no meio das estantes.

Abrir um livro ou outro pela capa ser interessante e anotava mentalmente que precisava pegar aquele emprestado.

Sentia um cheiro forte de shampoo morango meio infantil na touca, que por sinal estava com um fio de tricô saindo do ponto.

E tudo isso lembrava Jeonghan.

Tinha uma pausa de uma hora e meia hoje no horário de almoço. Lee Seokmin tinha trinta anos, o filho do dono da biblioteca era quem gerenciava tudo pelo pai, e percebeu que o garoto não estava nada bem, deixou que ele fizesse meia hora a mais de almoço.

Seungcheol caminhou até a escola da cidade, ficava a quinze minutos dali. Do lado de fora da escola, próximo da quadra de futebol, tinha algumas mesas de piquenique feitas de madeira, onde o pessoal costumava almoçar. Sentou inquieto, enrolando as cordinhas da touca nos dedos e segurando o choro. O primeiro a aparecer foi o Chan, todo enrolado no cachecol. Os outros dois, Soonyoung e Seungkwan depois e Jihoon por último.

Essa reunião não era só por causa dele. Todos os dias se encontravam nessa mesa e nesse horário. Prometeram que seria assim até todos terminarem o colegial para ninguém ficar sozinho no almoço.

Ninguém tinha notícias.

Nada.

O choro de Seungkwan foi o que desencadeou o do Cheol, parece que agora todo mundo conseguia entender que não era só um encontro casual, ele realmente sumiu! Sumiu e ninguém sabia de nada. Jihoon pensou em ligar para mãe dele, mas como iria explicar que Jeonghan tinha sumido da casa dele? A senhora Jessica não pensava tanto no sumiço porque era muito comum quando saíssem assim dormirem na casa um do outro, então com certeza ela pensava agora que Jeonghan dormia na casa de um deles.

— Precisamos fazer alguma coisa... ele não pode sumir assim! — Soonyoung bateu na mesa chamando atenção de todos menos de Cheol que olhava por detrás dele boquiaberto. Os três se viraram.

Jeonghan caminhava pela grama. A mochila jogada no ombro, segurando um copo de café como fazia em todos os almoços. Apoiou a mochila na mesa e colocou o café na mesa e as mãos no bolso. Em sua boca, o cabo branco de um pirulito pendia para baixo, formando uma boca do doce na sua bochecha, uma blusa de gola alta o que era estranho porque ele odiava gola alta, mas ainda o mais estranho não era a gola alta... Não mesmo...

Ele tinha cortado o cabelo.

Do meio das costas o cabelo foi parar na altura do queixo.

Sentou na mesa tirando o pirulito da boca e observou todos encarando-o espantados.

Depois do 13 de agostoWhere stories live. Discover now