Engodo

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Algumas semanas se passaram, o inverno já estava anunciando sua chegada, a neve já cobria o telhado das casas, o chão da rua, o parapeito das janelas, a soleira das portas, as noites eram dolorosamente frias e longas, os dias eram curtos e pacatos. Poucas pessoas saíam nos dias de frio mais intenso para irem aos bares e tavernas, o que dificultava o empenho dos artistas. Najla havia feito muito sucesso nas primeiras semanas na cidade, garantindo sustento até o fim do inverno. Os artistas passavam maior parte do tempo dentro da pousada, jogavam todos os tipos de jogos possíveis, faziam algumas brincadeiras em grupo para passar o tempo. Najla não recebera nenhum sinal de Yuliy desde a manhã depois do jantar, nenhum animal preto apareceu, nenhuma sombra passou espiando... nada. 

O frio e a saudade estavam deixando-a deprimida. 

Sentia falta do sol, sentia falta de Yuliy. 

Era véspera do solstício de inverno. Layla estava estava silenciosa a manhã toda, Leo estava ajudando na cozinha, Najla passou a manhã toda com seu livro de poemas, lendo sentada em frente à lareira da sala de estar da pousada, se recusava a sair de perto do fogo. Najla olhava para Layla caminhando de um lado para o outro na sala com impaciência, estava ficando irritada com o barulho dos passos de Layla, estava atrapalhando sua leitura. Layla continuava andando para um lado da sala, mexendo em objetos e prateleiras, depois caminhava para o outro lado, mexendo em gavetas e abrindo portinhas. Najla respirou fundo. 

-Layla, BISMILLAH!!! O que você tem hoje??? -Najla gritou, fechando o livro. 

Layla parou para olhar para ela, estava pálida.

-Eu quero ir embora. -Sussurrou.

-Mentira. -Najla disse, firme. 

-Vamos embora daqui, Nana. -Sua voz ficou mais aguda, como a de uma criança.

Najla a encarou. 

-Você e Leo brigaram? -Najla perguntou, suavizando seu tom de voz. 

Layla só sacudiu a cabeça. 

Então Najla realmente olhou para ela. Sua aura estava atormentada, cinzenta, ela conseguia ver uma nuance a mais em sua aura, só que esbranquiçada, estava acoplada na altura do umbigo, como uma...

Najla se levantou quase num salto, encarou a aura de Layla.

-Layla... -Najla sussurrou, finalmente entendendo o que era aquela vibração estranha que havia sentido há muitas semanas atrás. 

Layla começou a soluçar, lágrimas rolavam frenéticas por seu rosto. 

Najla correu até Layla, tomando-a em seus braços. 

-Quanto tempo?

-Uns dois meses, nem isso. -Layla soluçava sobre o peito de Najla. 

-A Samira sabe? Warda? Leo? -Najla perguntou. 

-Não, não contei pra ninguém. -Layla ainda chorava muito, agarrava Najla pela roupa com força. 

-Ayouni... -Najla afagou seu cabelo. -Venha para cama, Yallah

Najla puxou Layla para as escadas, subiram para o quarto de Najla.

-Deite-se. -Najla disse, colocando Layla na cama. -Ninguém vai te incomodar aqui. 

Najla fechou a porta, girando a tranca, subiu nos lençóis e se deitou na cama junto com Layla.

-O que você vai fazer? -Perguntou Najla, depois de algum tempo, quando Layla já estava mais calma.

-Não sei. -Layla sussurrou, a cabeça encostada no peito de Najla.

-Você vai seguir com essa criança? -Najla perguntou, olhando para o teto e afagando o cabelo de Layla. -O que você quer fazer?

Dança da MorteWhere stories live. Discover now