It Took Me By Surprise

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Estávamos todos sentados no chão da lanchonete da delegacia, Lívia jogava uma bolinha na parede, que batia e voltava para ela. Olho para o lado e vejo Mari tirando um papel de sua pasta e escrevendo algo.

- Bolou algum plano? - Pergunto esperançosa.

- Sim, tô escrevendo meu testamento, dessa missão eu não passo.

- Boa ideia, vou fazer o meu também. Pra quem eu deixo a Mikasa? Já que todo mundo nesse cômodo vai ter a cabeça empalada num espeto pela máfia...

- Ei, o capitão acabou de mandar os detalhes pelo e-mail, aparentemente é super-confidencial, só nós e os demais envolvidos podem ficar sabendo. - Aki adverte, interrompendo minha linha de raciocínio.

- O que mais diz aí? - Kenny questiona.

- Bom, a missão vai começar em quatro dias, na sexta. Vamos ser encaminhados para um hotel na véspera da festa que vamos nos infiltrar, lá vamos ficar de tocaia procurando por atividade suspeita, já que esse hotel fica basicamente duas quadras acima de onde tudo vai acontecer...

Lívia o interrompe:

- E como eles esperam que a gente pague a estadia, viagem e equipamentos com nosso salário mixuruca? Espero no mínimo um aumento.

- Se você esperasse eu acabar de explicar saberia que eles vão lidar com todas as despesas, inclusive do traje que vamos vestir no dia. - Os olhos de Mari até brilham ao escutar essa frase. Tenho dó de quem vai pagar isso tudo. -  Também terá outros dois agentes nos cobrindo durante o evento, eles são o Cabo Shinsou e a Oficial Catra. Todos nós estaremos equipados com pontos de ouvido para comunicação e escutas, que Erwin nos encarregou de espalhar pelo local. Entraremos separadamente para não causar suspeitas, o resto cada um sabe o que tem que fazer.

- Bem simples graças a Deus - Faço sinal de oração com as mão - Não sei vocês, mas vou pra casa passar as últimas horas que me restam com minha gata, Falou. - Eu me levanto e saio para o estacionamento, minha cabeça dói tentando formar algum plano para passar despercebida ao coletar provas e distribuir escutas por aí no meio apenas de centenas de criminosos.

Era uma noite de quinta, três dias se passaram, eu estava em meu quarto tentando escolher qual roupa usaria no meu funeral, digo missão. Não poderia vestir nada muito chamativo, mas também teria que ser algo no mínimo extravagante. Pego meu celular e busco o grupo com meus amigos de trabalho.

Gays com Bolsonaro

Eu: Crias, o que vocês vão vestir amanhã? Eu não tenho a mínima ideia

Mari Emo: Não sei vocês, mas eu vou ser a pessoa mais estilosa da festa

Líva Autista: Se liguem no estilo da mãe

Líva Autista: Se liguem no estilo da mãe

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Keky Nóia: Pisa menos mana

Eu: 

Aki Broxa: Incrível vocês tratando como se fosse uma reuniãozinha entre amigos

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Aki Broxa: Incrível vocês tratando como se fosse uma reuniãozinha entre amigos

Eu: Alguém tira ele do grupo?

Aki Broxa: Ti fuder, Najulia

Kenny Nóia: Eu vou com uma camisa e calça social, por cima um sobretudo  

Mari Emo: Ana, por que você não vai com aquele seu vestido preto daquela vez?

Líva Autista: Aquele do aniversário dela? Porque se for, concordo, tava uma beldade, não é, Aki?

Aki Broxa saiu do grupo.

Líva Autista adicionou Aki Broxa.

Eu: Acho que vai ter que ser mesmo, valeu povo

Acabo então de fazer minha mala com todos os essenciais, sem contar os equipamentos que recebi e obviamente minha .40, que ficaria sempre ao meu alcance, só por precaução. Tentei dormir, mas quem disse que consegui? Lá pelas cinco da manhã desisti e achei melhor já ir me preparando, dividiríamos entreficaríamos uma parte da madrugada e todo o dia seguinte de tocaia, só depois desceríamos para o grande evento, sem contar que hoje um expediente inteiro ainda me aguardava na delegacia, só de imaginar a papelada já ficava com sono.

A noite caiu, para variar eu estava atrasada. O táxi me deixou na fachada do hotel, e caralho, que hotel. Não era de se esperar menos, já que se localizava em um dos bairros mais ricos de São Paulo. Adentrei o lobby e me deparei com Mari, que estava aparentemente me esperando.

- Eaí Maro.- A comprimento - esperou muito?

- Pra caramba, os outros cansaram e já estão cada um em seus quartos. Toma aqui o cartão do seu. - Ela me estende um cartão azul com o número 2125 - Fica no vigésimo primeiro andar, bacana né? Erwin falou que é porque tem uma vista melhor para o lugar que vamos vigiar.

- Realmente bacanástico. - Respondo. - Então, bora subir?

- Sim, é por aqui, vem.

Entramos no elevador, ela me acompanha até a porta do meu quarto, falamos o caminho todo sobre um novo jogo indie que havia lançado.

Chegamos, Ana. - Ela abre um sorriso. - Qualquer coisa estou no 2132, tchau tchau.

- Boa noite. - Retribuo o sorriso. - Sabe onde me encontrar...

Mal tenho tempo de acabar a frase e ela sai quase que correndo pelo corredor, a acompanho com os olhos até sumir após virar uma esquina. Bicho estranho. Levo o cartão que estava em mãos até a maçaneta tecnológica, a porta se destranca e a abro, coisa qual me arrependi imediatamente.
- Que porra...? - Quase grito ao ver Aki no lugar que era pra ser onde eu ficaria a noite, mas o pior era que ele provavelmente acabara de sair do banho, já que a única coisa cobrindo seu corpo era uma toalha por volta da cintura. Ele estava parado na frente de uma cômoda presente, enquanto secava seu cabelo com uma mão e checava algo no celular com a outra.

- Ana Júlia? O-o que você tá fazendo aqui? - Pergunta ao me ver, ficando cada vez mais vermelho, tenho certeza que também estou. Ficamos ambos nos escarando por longos segundos sem saber o que fazer, até Aki pegar uma camiseta preta que estava na cama e vesti-la, só então desvio o olhar de volta para o corredor, onde encontro no final dele Mari, Kenny e Lívia me observando, soltando diversas risadinhas, eles começam a fugir assim que perceberam que foram flagrados. Largo minha bagagem no chão e corro atrás deles.

- Abram essa porta, eu só quero conversar. - Na verdade eu estava pronta para mata-los. Bato agressivamente na porta. - Abre essa porra!

- Pra você matar a gente? nananinanão. - Uma voz que parece ser do Kenny surge por detrás da porta. - Isso é o que você ganha por nos fazer esperar mais cedo.

Filhos da Puta.

Aproveita bastante a noite com o Aki, é uma chance única. - Dessa vez é a Lívia quem fala, já passava pela minha cabeça apagar todas nossas fotos juntas enquanto ouvia Traitor da Olivia Rodrigo. Escuto mais risadinhas.

E se eu alugasse outro quarto? Impossível, não tenho essa grana toda, uma noite aqui deve custar uma fortuna. Sem contar que Mari é quem está responsável por passar os gastos para o capitão, ela não incluiria a despesas de um outro quarto já que é bem provável que essa baboseira tenha sido ideia dela.

Volto me sentindo derrotada, mas não seria nada demais passar algumas horas com o Cebolinha, certo? O que poderia acontecer de pior?

Paro na porta ainda aberta, o vejo sentado na cama, agora totalmente vestido, com vestígios de vergonha ainda em seu rosto, uma coisa que achei que nunca iria ver, mas é compreensível dada a vulnerabilidade da situação. Agora que passou eu assimilo as coisas e tento não soltar uma risada. Legal, ele levou minha bagagem para dentro e... Espera.

Por que eu só tem uma cama?

Execução ImperfeitaWhere stories live. Discover now