Sarcasm

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- Eu durmo na cama. - Aki protesta.
- O caralho, eu não durmo direto há dias. Dorme no chão.
- Acho que você esqueceu que esse é o meu quarto.
Mari seus dias estão contados.
- Tá. Ok. Eu fico no chão. - Finjo desistência. - Nos seus sonhos, otário! - Berro enquanto pulo para dentro dos lençóis, tentando ocupar todo o espaço possível, aproveito para chutá-lo, já que estava sentado na ponta, o fazendo cair no chão. Faço minha melhor cara de vitória, com os braços e pernas esticadas para que ocupasse todo o espaço possível.
Ele se levanta furioso e parte para cima de mim, segurando meus pulsos sob minha cabeça.
- Calma Cebolinha, vamos conversar - Acabo desviando meu olhar, só agora percebendo o quão próximo estamos.
- Vaza. - Diz com tom de ameaça.
- E se eu não quiser? - Sorrio, agora me divertindo com a situação.
- Quer saber? - Ele parece ponderar um pouco. - Tô cansado demais para essa merda. - Fala enquanto se levanta, só para me empurrar um pouco e deitar do meu lado.
De repente minha ficha cai. Não achei que Aki realmente cogitaria dividir o mesmo espaço comigo. Meu rosto está queimando. Olho para o lado para tentar ler sua reação, porém ele virou de lado. Não consigo me preocupar com isso por muito tempo, meus olhos começam a pesar e eu acabo cedendo ao sono.
Acordo sem saber ao certo o que está havendo, para ver Cebolinha me observando com um sorriso presunçoso no rosto. O que tá acontecendo?
- Finalmente. Bom dia. Você já pode me soltar agora ou prefere continuar por mais alguns minutinhos?
- Hmm? - Grunho tentando processar algo com meu cérebro recém despertado.
- Minha mão. Dá pra soltar ela?
-  Do que que 'cê 'tá falando? - Finalmente acordo o suficiente para perceber que estou agarrando a mão de Aki, como se fosse um ursinho ou algo parecido. Que desgraça. Imediatamente entro em desespero, largando-a. - P-por que você não tirou sua mão assim que eu segurei? - Ele vira o rosto, não consigo ver sua expressão, mas com certeza era de deboche.
- E perder a diversão de ver sua reação? Sem chances. - Diz deixando escapar uma pequena risada no final. 
- Babaca. - Reviro os olhos. - Que horas são?
- Oito e alguma coisa. Daqui a pouco começa nossa tocaia, vai se preparar. Vou pedir café para a gente, Erwin instruiu comermos no quarto, algo sobre não nos expormos demais. 
- Finalmente alguma notícia boa, comida. - Me dirijo em direção ao banheiro, fico na banheira até Aki acabar com minha vibe me chamando para comer. Visto uma camiseta com estampa de vários D20 e uma calça jeans. Assim que saio encontro o meu parceiro me esperando com dois pratos em cima da cômoda, ambos com croissant, pão de queijo e fatias de bolo, acompanhados com uma generosa xícara de café para cada. Só então percebo o quão ridículo ele está, ainda vestindo um pijama azul claro e o cabelo, agora solto, meio bagunçado.
- Pijama fofo, Cebolinha. - Caçoo.
- Obrigado, blusa legal, nerd. - Ele responde em um tom arrogante. - Vem comer logo, pelo menos sua boca fica ocupada e você cala ela. - Chega a ser inevitável rolar os olhos.
- Você e sempre tão cortês assim?
- Imagina, só sou assim com você.
- Que honra. - Falo enquanto me sento na cama ao lado dele e ele me passa a comida e bebida. Um silêncio constrangedor se instala no ambiente, me vejo obrigada a quebra-lo.
- Entãããão... - É tudo o que consigo falar, nada me vem em mente. Acho que deu pra perceber que falhei em começar um assunto então ele tomou a frente:
- Não sabia que gostava de RPG.
- 'Tá brincando? Eu amo RPG, inclusive eu, o Kenny... Espera VOCÊ curte RPG? - Soo mais animada do que gostaria.
- Um pouco. - Pondera, parecendo envergonhado. - Ok, talvez eu curta bastante. - Explodo em risos e aponto para ele:
- Caraca Cebolinha, você é um nerdola também.
- Não fode, idiota. - Diz tentando esconder um sorriso. Aparentemente não tinha odiado totalmente a situação.
- Como eu estava falando estou mestrando uma campanha com o Kenny, Mari e Lívia. Inclusive, da próxima sessão a Mari não passa.
- Sério? E qual sistema você usa?
- Call of Cthulhu, óbvio.
- Credo.
- Humpf, certeza que tu usa D&D.
- O melhor, né.
- Até acertando tu erra.
- Enfim, sobre o que é sua mesa?
- Você 'tá me perguntando sobre minha campanha? eu esperei décadas para perguntarem sobre minha campanha! - Não sei quanto tempo se passou, mas continuei falando enquanto ele ouvia atentamente. Infelizmente tínhamos trabalho a fazer.
- ...Cara, você tinha que ver a cara deles quando descobriram que era tudo uma armadilha, foi hilário.
- Eu imagino mesmo.
- Ei, até que você não é totalmente deplorável, Cebolinha. Gostaria de ter descoberto isso antes.
- Digo o mesmo de você. Mas ei, vamos começar a observa-los em turnos, posso ir primeiro se quiser. - Nós vamos até a grande janela de vidro do quarto, onde temos uma vista perfeita para onde aconteceria o evento com centenas de mafiosos. Engulo seco só de pensar que daqui a pouco estaria no meio deles. A cada meia hora revisaríamos um binóculo. Na primeira metade do dia nada incomum aconteceu, passamos a maioria do tempo apenas conversando e comendo algumas barrinhas de cereal. Porém não demorou muito para que alguns caminhões e vãs descarregarem grandes pacotes na grande mansão, também algumas pessoas adentravam, suspeitosamente mais cedo que o horário de início, talvez iriam para algum tipo de reunião de "negócios". Anotamos placas, tiramos fotos dos sujeitos e mandamos para análise, com sorte logo seriam desmascarados.


A noite finalmente chegara e precisávamos nos arrumar, ou melhor, colocar nossos disfarces. Deixei Aki ir na frente, porque provavelmente eu demoraria mais, enquanto isso pego meu celular pela primeira vez no dia, para checar as mensagens. No grupo que tenho com Mari, Keky e Livía estavam enchendo meu saco zombando que fiquei o dia todo com o Cebolinha, algo sobre eu estar ocupada demais com outras "coisas" para resolver. Toma no cu. Mandei um emoji de dedo do meio e me contentei por enquanto, contudo a vingança é um prato que se come frio.


Após minutos vejo a porta do banheiro se abrindo, tento fingir que estou desinteressada mas estava morrendo de curiosidade para ver a escolha horrível de roupa que ele fizera e logo zoar, mas fui surpreendida com o contrário, estava usando um terno azul marinho bem escuro, quase preto, uma gravata da mesma cor, seus cabelos estavam em um novo penteado, com apenas um pequeno rabo amarrado atrás de sua cabeça e o restante solto. Realmente... Inesperado. Desvio o olhar, por algum motivo isso vinha se tornando uma ação recorrente, acontecendo quase instintivamente, porém minha cabeça voltava em sua direção como se tivesse um campo magnético puxando-a.
- ... Sua vez, vê se não atrasa. - Diz me dispersando.
- Tanto faz, otário. - Balanço minha cabeça, espantando qualquer chance de um pensamento que me arrependeria mais tarde.

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⏰ Last updated: Feb 17, 2023 ⏰

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Execução ImperfeitaWhere stories live. Discover now