Capítulo 17

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Era dia vinte e sete. Haviam se passado dois dias desde o ocorrido e Pedro evitava falar comigo de todas as formas. Na verdade, eu não via ninguém saindo da casa, além de José, que estava correndo pela eleições do início de janeiro. Pedro havia me bloqueado no whatsapp e no Instagram, onde eu era sua seguidora número quinze. Ele bloqueou todas as minhas tentativas de ligar para ele e tentar conversar, e nem adiantava falar com Katy quando ela apenas visualizava e não respondia. Camilla deixou de ir na igreja, e, pelo menos quatro vezes ao dia, escutava suas altas orações. E tentava, tentava de verdade chamar Pedro pela parede do quintal, bater com as palmas das mãos nela para que ele me notasse, para que pudéssemos ter alguma conversa, para que eu dissesse que havia desistido, não iria fazer matéria nenhuma, estava disposta a pedir desculpas para todo mundo e que poderíamos viver felizes, juntos. Estava com abstnecia dele, e foi essa abstinência que me fez mandar menssagem para Lucas, pedindo alguma ajuda ou conselho, mas ele digitava e apagava, sem ter certeza do que falar.

 Era de manha quando me vi tão internamente que sai na rua de pijama e corri como o Usain Bolt por quase quatro quadras antes de chegar ofegante na porta da casa de Theo. Seu pai me atendeu e me pôs para dentro, perguntou o que havia acontecido, apesar de eu apenas negar e perguntar por seu filho. Minha barrigada estava prestes a roncar, e tinha olheiras de noites mal dormidas  abaixo de meus olhos. Ele me levou até o quarto, e, àquela altura, eu já controlava em 75% a minha respiração.

— O que aconteceu? — Ele perguntou assustado, pegando o óculos na mesinha ao lado da cabeceira e pondo-o no rosto, enquanto levantava sem camisa, segurava meu cotovelo com cuidado e me guiava até a cama. Ele devia ter visto as marcas roxas amareladas do aperto de Pedro, mas nada disse. Me fez sentar, e me ajudou a respirar, ofereceu um copo de água, que neguei, e novamente questionou o que havia acontecido. Havia preocupação em sua voz. — Você veio buscar sua escultura? — perguntou inocente, mesmo sabendo que não era aquilo. Àquela altura eu também já havia esquecido dela.

— Eu acho que fiz algo horrível — segurei um soluço e apertei sua mão — Eu tô com medo — apertei com mais força.

— Não precisa temer, okay? Vamos concertar isso, está bem? Eu estou aqui, lembra? — me olhou solidário, aproximando o rosto do meu, para que eu pudesse ver a verdade em seus olhos. — O que aconteceu, Isa?

— Você precisa… — me vi vacilante, mas apertei com mais firmeza suas mãos e pedi conforto — precisa me prometer que não me julgar ou falar coisas más para mim — pedi sem piscar, esperando que ele fizesse exatamente aquilo. 

 Theo assentiu, e eu contei tudo.

 Ao final da revelação ele estava em pé, com um olhar horrorizado e uma das mãos levadas a boca, em espanto. Ele ficou um minuto inteiro em silêncio, respirando pesado, balançando lentamente o corpo de um lado para o outro. Me levantei, esperando que dissesse algo.

— Acha que consigo reverter isso? — eu estava apreensiva, com o coração na mão. — Acha que Pedro pode me perdoar e me amar de novo? Hein? Theo! Me fala alguma coisa! — ele trancou a porta.

— Meu Deus… porquê você está me contando isso?..

— Você precisa me dizer algo!

— O que quer que eu diga? Qur você fez uma coisa horrível e agora esta sofrendo as consequências? Que merece esta passando por isso? Que usou uma família, UMA FAMÍLIA, por, o quê? UMA NOTA? Você nem É jornalista de verdade. Isabel. Você é uma ES-TU-DAN-TE. — segurei o ar, e o soltei junto a outras palavras.

— Para! Para de me dizer isso! — gritei — Acha que eu não sei! Mas eu estava precisando de uma boa nota! EU tinha que ter feito isso!

— Você não tinha que ter feito nada! — levou as mãos ao rosto, cobrindo os olhos — Você continua a mesma, foi por isso que me afastei de você. Você sempre quer ser a melhor e nunca sabe quando parar, e você fica usando as pessoas pra conseguir o que quer. Você é um ser humano horrível.

— Eu posso perder minha vaga na UF, é ser proibida de cursar jornalismo se isso vazar. Você precisa me prometer que não vai falar nada. 

— Você pode ser presa! — ele gritou.

— Eu vim aqui em busca de um ombro amigo, e olha o que você tá dizendo! — Theo respirou fundo, levou a mão a maçaneta.

— Vá embora.

— O quê? Mas eu preciso de você! 

— Vá embora.

— Ao menos me diga, está bem? — eu já estava chorando — Me diga se acha que ele irá me perdoar um dia. Eu estou arrependida de tudo.

— Está arrependida por ter feito algo ruim ou por terem descoberto? — fiquei quieta, muda. Não sei a resposta para aquela pergunta, e me sentir pior por isso. — Você o magoou, e pelo que me disse, foi a única pessoa que ele amou e confiou na vida. Ele idolatrava você e se fez de cego para não aceitar a verdade e poder continuar te amando, mas aí tudo foi jogado em cima dele. É óbvio que ele não vai falar com você por enquanto. — Theo engoliu em seco — Se eu fosse ele, eu não te perdoaria nunca, mas, conhecendo pelo menos um pouco do Pedro, ele não vai ficar sem falar com você por muito tempo.

— Então tudo vai voltar ao normal?

— Eu não disse isso — ele parou — Queria mesmo que ele te odiasse. — fiquei em choque, e quando percebi, já estava falando coisas horríveis para ele. 

— Você não gostava de mim Theo? Como pode querer uma chance comigo quando me fala essas atrocidades! Parece até que você me odeia! — ele abriu a porta, me segurou pelos braços e me pôs para fora.

— Você é repugante, manipuladora e infantil. Sempre quer ser a certa e ai de quem refutar você. Foi por isso que me afastei, por quê você me magoava e me fazia sentir pequeno, e eu fazia tudo que você queria, como um capacho sem personalidade. Mas eu te amei, Isa, eu infelizmente consegui amar esse monstro. Só que eu não vou cuidar de você. Aguente as consequências das suas atitudes e saia da minha casa. Tudo que você faz é usar os outros. 

— Eu nunca usei você.

— É assim que se engana? — fechou a porta do quarto e me deixou olhando para a madeira pintada de branco.

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⏰ Last updated: Dec 17, 2022 ⏰

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O SUICÍDIO DA CASA 92Where stories live. Discover now