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Quando Jonathan abriu a porta, não houve abraços e sorrisos dessa vez.

Vegas olhou para o rosto do seu primo e não podia convocar mesmo uma centelha de afeto por ele. Tudo o que ele podia ver era o homem que tinha enfiado a língua na boca de Pete.

Sim, eu quero ele.

Lembrando as palavras de Pete, ele sentiu as mãos apertarem em punhos ao lado do corpo, com sua respiração irregular e alta até mesmo para seus próprios ouvidos. Raiva borbulhava em seu intestino, misturado com uma dose de medo e ressentimento. Ele amava seu primo. Ele não deveria estar sentindo isso. Ele não deveria sentir a vontade quase irresistível de bater Jonathan contra a parede e socar a cara dele até que seu rosto estivesse uma bagunça sangrenta.

Como se lesse seus pensamentos, Jonathan deu um passo atrás, olhando com cautela.

- Vamos entrar.

A casa estava escura e silenciosa, a lareira era a única fonte de luz na sala de estar.

Vegas tirou o casaco e jogou em uma das cadeiras antes de afundar na poltrona ao lado da lareira.

Jonathan olhou para ele, caminhando para o mini-bar e pegou algumas cervejas.

- Então - disse Jonathan, jogando uma lata. Ele sentou no sofá e abriu a cerveja. - Sobre o menino bonito que você trouxe aqui.

Vegas se esticou, mas não disse nada. Ele não confiava em si mesmo para não dizer algo que ele iria se arrepender mais tarde.

- Relaxa - Jonathan disse. - Eu não quero o seu Pete. - Ele deu uma risadinha. - Bem, se ele cair pelado no meu colo, eu não vou dizer não, ele é ridiculamente atraente e eu não estou morto. Mas eu não quero ele.

Um pouco da tensão foi drenada para fora do corpo de Vegas.

- Por que você o tocou então?

Jonathan tomou um gole de cerveja.

- Eu estava curioso para saber como você reagiria. Você estava em cima dele o tempo todo, então eu pensei que iria incomodá-lo se eu o tocasse. Contudo, a sua reação excedeu todas as minhas expectativas.

- Se você quer me estudar como a porra de um rato de laboratório, mantenha Pete fora disso e a sua língua dentro da boca.

Jonathan olhou para ele, solenemente.

- Eu pensei que você tinha uma namorada.

Vegas olhou para sua cerveja, observando o reflexo da luz do fogo na lata.

- Eu tinha. Não tenho mais.

Silêncio.

- É um pouco estranho - disse Jonathan, seu tom cuidadoso. - Seu relacionamento parecia ótimo em alguns meses atrás. Eu achei que você realmente não gostava de caras.

Vegas abriu a cerveja e tomou um grande gole.

- Eu não gostava. Até que Mila convidou Pete para a transa a três. - Vegas olhou para a lareira, observando as chamas amarelas dançarem. Agora parecia que tudo tinha acontecido há muito tempo, não em dois meses. - Ele me incomodou. - Ele riu sem graça. - Não sei como eu fui de irritado a querer enfiar meu pau dentro dele.

Ele olhou para Jonathan, avaliando a reação dele.

A expressão de seu primo estava calma e sem surpresa. Essa era a postura de Jonathan: ele sempre era composto e de cabeça fria. Às vezes, Vegas o invejava, pois ele se sentia como uma bomba-relógio ajustada para explodir.

- Do jeito que você olha para ele hoje, não é só sobre sexo, não é? - Jonathan murmurou, bebericando sua cerveja.

- Eu não o amo - disse Vegas laconicamente.

- Eu não disse que você amava. - disse Jonathan, erguendo as sobrancelhas. - Mas por curiosidade... Por que você acha que você não o ama?

Suspirando, Vegas esfregou o nariz.

- Porque eu não amo. Isso... não é amor. O amor não é feito para ser assim.

- De que forma?

Vegas encontrou seus olhos e disse baixinho:

- Quando eu vi você beijando Pete, eu queria te quebrar em pedacinhos. Não estou exagerando. - Vendo a expressão de Jonathan, ele soltou uma risada dura. - Sim. E não importa se você é meu melhor amigo e primo. Essa coisa... me despoja de todo o controle. Eu me sinto como... como um homem possuído. Eu sinto que ele é meu e que ninguém além de mim deve tocá-lo. Veja, é obsessão, não amor.

Jonathan o estudou, com uma expressão contemplativa.

- Você nunca quis alguém o suficiente para ter realmente ciúmes. Você nunca se importou o suficiente. Você nunca precisou o suficiente. É por isso que você acha que não é normal se sentir desse jeito. - Ele riu, algo doloroso piscando em suas feições, antes que ele escondesse atrás de uma expressão neutra. - É bastante normal, confie em mim. E não significa necessariamente que não seja amor. Se você acha que não é amor, talvez você nunca tenha amado de verdade.

- Eu amei Mila - Vegas rosnou.

- Você amou? - Jonathan disse em voz baixa. - Eu não tenho tanta certeza sobre isso.

Vegas ficou tenso.

- O que você quer dizer?

Jonathan olhou para sua cerveja antes de olhar para ele.

- Escuta, eu não disse nada antes, mas eu sempre pensei que todos os seus relacionamentos eram meio rasos... Sim, todos eles foram bastante longos e sérios, belos e firmes. No entanto, não pareciam fazer você sentir muita coisa. Você nunca tinha ciúmes. Você nunca estava chateado. Você nunca se importava o suficiente. - Ele segurou o olhar de Vegas. - Mas era o que você queria, não é?

Seu aperto de mandíbula aumentou e Vegas aparou ele com um olhar.

- Eu não gosto do que você está insinuando, Jonathan. Você está errado.

- Talvez - admitiu Jonathan. - Talvez você amasse suas namoradas. Porém, sua reação enciumada sobre Pete fala volumes. Você acha que não é normal, porque não quer sentir. Você acha que qualquer coisa que é forte e demais não pode ser amor. - Jonathan olhou para sua bebida com um sorriso torcido estranho em seus lábios. - Você está errado. Suprimir as emoções não é saudável, Vegas.

Vegas apertou os lábios.

- Como você faz isso, Jonathan? Nada confunde você. Você tem resposta para tudo.

Alguma emoção atravessou o rosto de Jonathan.

- Não há necessidade para dizer isso. Eu não tenho resposta para tudo. Longe disso. Só estou dizendo que às vezes o amor não é bonito. Não é puro e perfeito como nos livros. Não há nenhum modelo para o amor. Às vezes é sujo, um pouco assustador e machuca.

Houve um longo silêncio, durante o qual Jonathan olhou para o fogo crepitante enquanto Vegas mirava ele.

- Se você quer o meu conselho, aqui vai: Foda-se as respostas que você não encontra pras perguntas que você tem. Nada disso interessa. Não importa como você chama. Obsessão ou amor, são apenas palavras. Se você olhar para ele e pensar "isso é meu", então é isso. Agarre se puder.

Vegas caminhou para ele e apertou o ombro de Jonathan.

- Sinto muito.

Os músculos de seu primo flexionaram sob sua mão.

- Sim - ele disse, com a voz inexpressiva. - Eu também.

obcecado × vegaspeteOnde histórias criam vida. Descubra agora