Te conhecendo pela segunda vez

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Soraya

Ah..

Solto um gemido de dor ao tentar abrir os
olhos, minha cabeça está latejando, meus
olhos ainda ardem e sinto meu nariz ainda
entupido. Ontem após voltar para o quarto
ainda chorando, me deitei agarrada ao travesseiro de Simone abraçado chorei até pegar no sono.

Minha cabeça não só parece que vai explodir como também está uma enorme bagunça, não consigo achar uma solução para tudo isso, não faço ideia do que fazer, qual direção seguir. Nem como seguir.

Isso tudo é uma grande bosta, eu poderia
simplesmente acordar um dia desses e estar livre dessa maldita depressão. Seria menos cansativo e doloroso.

Me levanto da cama

Vou até o banheiro lavar o rosto, molho a
nuca e suspiro. Nem sei que horas são, mas
deve ser cedo, tudo está quieto demais.

Uh...

Mal saio do quarto e já bato de frente com
alguém, cambaleio um pouco para trás e
olho para ver quem  quase me atropelou.

Janja. Seu rosto amassado deixa claro que ela acabou de acordar, eu nem fazia ideia que ela havia dormido aqui.

- Perdão, não vi você.

Se desculpa sem jeito e arruma seus cabelos
desalinhados, sorrio para tranguiliza-la e
ela suspira. Janja me olha fixamente, sei que
ela quer dizer algo, só espero que não me dê
sermão.

- Bom dia.

- Bom dia.

Ela desvia o olhar e continuamos em silêncio, isso já está me incomodando.

-E...

pigarreio duas vezes e ergo o tronco, ela me olha curiosa.

-Então... Você quer me dizer alguma coisa? Estou começando a ficar sem jeito de tanto que você me olha.

Ela pressiona os lábios, sem graça e
abaixa a cabeça e eu me controlo para não
rir.

–Oh... Perdão.

Pede timidamente e eu apenas balanço a cabeça.

- Eu já vou indo, er... Avisa a Sisa quando ela acordar.

- Tudo bem.

-Tchau, Soso.

Aceno para ela que está prestes a descer as escadas, mas para, sussurra algo consigo mesmo e grunhe.

Droga!

- Algo errado?

- Não, não!

Ela respira fundo e bagunça os cabelos, acho que é quase um toc dela.

- Quer dizer, sim...

Ela volta para perto de mim e olha de relance para a porta do quarto de Madu,
Simone deve estar ali.

- Eu prometi que não iria me meter, mas talvez você não faça ideia do quanto está me doendo ver minha amiga  da formna que eu vi ontem e durante a noite quase toda.

Ouvi-la dizer isso me deixa pior ainda do que estava antes, eu fazia uma ideia que estava sendo difícil, mas não pensava que era tanto assim.

- Eu sei que é tudo uma confusão para
você, e que talvez você já não a ame mais.

Entorta a boca e suspira, olho para baixo
envergonhada.

- Mas, Soraya, não é um pedido dela, é um pedido meu, tente ao menos conhecer ela novamente. Você não faz ideia do quão maravilhosa Simone é, não estou te dando uma ordem, muito pelo contrário, ao menos dê uma chance para conhecer ela novamente do modo correto.

- Janja, eu...

- Não precisa falar nada, apenas pense
nisso, okay?

Encolho os ombros e apenas concordo com a cabeça, ela vem até mim e beija minha testa.

- Simone é uma das melhores pessoas que conheço, se permita enxergar isso novamente.

E após dizer isso ela se afasta e sorri antes
de se virar e só então descer as escadas.

Apoio-me na porta do quarto e fecho os olhos.

Me permitir conhecer Simone novamente implica em deixa-la entrar outra vez na minha vida, mas para eu fazer isso preciso relembrar como nosso relacionamento funcionava antes.

[...]

Estou terminando de preparar o café da
manhã quando ouço passos no andar de
cima, ouço a voz de Simone e então os
passos são ouvidos vindos da sala. Sirvo as
panquecas de morango e banana e pego a
calda de chocolate que por sorte estava na
geladeira.

- Bom dia, Yaya.

Madu vem até mim e me abraça, sorrio para ela. Ela beija meu rosto e eu encho o dela de beijos, fazendo ela  gargalhar.

- Bom dia, minha Madu.

Sua e da mamãe Sisi.

Grita e levanta os braços, acabo rindo de
sua fala e animação. Diferente de mim Madu
e Simone são pessoas da manhã, hoje por
algum milagre divino eu não acordei mau
humorada.

- Isso, seu e da mamãe Sisa.

Olho pra porta e quase tenho um infarto ao me deparar com uma sonolenta Simone de pé na entrada da cozinha, observando a mim e Madu.

Bom dia.

Deseja com a voz bem grave, sua voz não está muito legal, e as olheiras estão de volta em seu rosto.

- Bom dia.

Sorrio para ela, Simone  retribui, mas seu sorriso não faz seus olhos brilharem.

- Fiz nosso café da manhã, espero que tenha acertado.

Sua voz morre e Simone  pigarreia, coloca a mão na garganta e faz sinal que eu espere. Noite passada foi tensa mesmo, ela ainda está sofrendo os efeitos dela.

-Panquecas recheadas?

Sua voz agora está esganiçada, não consigo
evitar uma expressão de desconforto. Ugh!
Confesso que me incomoda vê-la assim.

- Sim.

Pela primeira vez na manhã seus
olhos se iluminam e ela vai até a mesa, sorrio internamente. Ponto pra mim.

- Querem calda de chocolate mesmo ou morango?

- Chocolate!

Madu grita de boca cheia e Simone eu olhamos para ela na hora, a repreendendo com o olhar. Madu encolhe os ombros e limpa a boca com as costas da mão.

- Desculpem, mamães.

Pede baixo e envergonhada, me sinto
derretida com a cena dela fazendo biquinho.
Tão parecida comigo.

O café da manhã foi tranquilo, conversamos
o tempo todo, quer dizer, Madu falava sem
parar e Simone e eu apenas ouvíamos e
riamos do que ela falava. Me senti tão bem,
Simone também pois até seu rosto parecia
mais leve, menos cansado e triste.

Simone me avisou que iria levar Madu para
a escola, resolvi acompanha-la e pedi que
ela me levasse no centro cultural. Simone
pareceu surpresa, diria até que ela se animou com meu pedido e ficou feliz. Me senti muito bem por tê-la feito sorrir, depois de ontem eu só conseguia pensar em maneiras e mais maneiras de agrada-la de alguma forma.

E funcionou, durante o dia todo. Ela passou
o dia comigo no centro cultural, dançamos
com as crianças, tudo parecia estar se ajeitando.

The Stripper- a vida após Where stories live. Discover now