Falta de equilíbrio

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Já sonhou que estava dormindo nas nuvens? Como se cada amontoado condensado de gotículas de água no céu antes de chover fosse, na verdade, algodão doce daqueles que desmancham na boca e lambrecam tudo ao redor, deixando tudo mais macio, mágico aconchegante e... libertador. 

Um sonho certamente infantil e fofo, mas que tive o prazer de realizar parcialmente ao dormir uma noite inteira em Arcádia, pois aquela deliciosa cama disposta em meu aposento me desarmou de formas inimagináveis, ao ponto de depois da conversa com Draco, eu só acordar quase na hora do almoço do dia seguinte. 

E pela primeira vez em um bom tempo foi o cheiro de comida gostosa sendo preparada, como quando se acorda na casa de vó com o cheiro de pão fresquinho sendo feito. Foi desse jeito magnífico que acordei, e não com meu tio esmurrando a porta do meu armário com as suas pesadas e gordurentas mãos, ou ainda com pequenas aranhas se aventurando pela minha pele me fazendo cocegas nada agradáveis. 

Fiquei maravilhado com essa possibilidade, então levantei preguiçosamente com um sorriso pensando duas vezes antes de sair do abraço dos deuses que eram aqueles edredons fofos e chiques. O chão estava ligeiramente frio, mas o sol entrando pela sacada do meu aposento como se desse bom dia e cumprimentasse o mundo tocando de maneira sutil todos os objetos e os iluminando. 

Ah, certamente tudo isso compensava o fato de escapulir da cama descalço e ir para o anexo do comado. 

A vista também era algo que corroborava para isso. 

Perdi a noção do tempo enquanto observava a vida em essência em um dia comum em Arcádia; Comum para todos, mas expendido para mim. 

Todavia, infelizmente fui despertado desse meu devaneio admirativo quando uma voz sedutora e levemente rouca pela manha disse logo ao meu lado esquerdo perto da grade: 

- Olhe Harry, tudo isso que o sol toca é o nosso reino.

Pulei assustado no lugar tratando de olhar para a origem da voz, a qual logo descobrir vir de uma das personificações que havia conhecido no jantar da noite anterior. Se eu não estava enganado era... Pansy, a que representa a sedução e o desejo. 

Não era exatamente a personificação que eu desejava ouvir com uma voz assim de manhã... 

A menina tinha os cabelos curtos balançando ao vento, e estava sentada despreocupadamente da pequena e frágil grade de metal que cercava a varanda separando qualquer alma humana da segurança para a queda mortal de uma altura fatal. 

Mesmo assim ali estava ela, sem demonstrar medo. Na verdade, Pansy não chegava nem a piscar diante do perigo, apenas me encarando penetrante e com um sorriso de lado e um charme de quem sabe que desarma qualquer alma viva, seja homem, mulher, ou o que for. 

Tive que respirar fundo para não cair em seu encanto. Ontem a noite enquanto Draco me acompanhava de volta para os meus aposentos, lhe perguntei um pouco sobre as personificações. Ele admitiu que não tem intimidade com todas elas, obvio que todas a respeitam e seguem suas ordens por ele ser o intermediário de "você-sabe-quem", mas são poucas as personificações que podem chamar o loiro de amigo ou algo similar. 

Pensy é uma delas. 

Mas, segundo Draco, a menina pode ser tão perigosa quanto ele, e que eu não devo subestimar o que ela e seus dons de encanto podem fazer. O desejo, o charme... Pansy pode convencer um homem a se jogar de um penhasco só dizendo que se o fizer, a menina se deitaria com ele. Ou ela pode te fazer cortar os seus próprios pulsos, ver o sangue lentamente fluir para fora do seu corpo, mas em vez de desfalecer, você ainda achará que está a agradando. 

Não perguntei para Draco o porquê desses exemplos serem tão nítidos e específicos, pois eu já fazia alguma ideia da razão, e isso me causava náuseas. 

Arcádia/ DrarryWhere stories live. Discover now