01. Casting

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– Corta! – O diretor disse, assim interrompendo a gravação. – Muito bem, Hoyeon, o próximo take é só amanhã. Descanse bem. – O homem se afasta, indo em direção às câmeras. A garota assente, logo voltando ao camarim e sentando-se em frente ao grande espelho iluminado. Seu rosto carregava uma expressão exausta, consequente de seu empenho e dedicação excessivos ao trabalho. A produção do drama estava em sua reta final e, por conta disso, os últimos dias vinham sendo extremamente cansativos para si.

Kim Hoyeon era uma atriz que vinha ganhando espaço no mundo da teledramaturgia. Com excepcional talento e beleza, muitos críticos apostavam que a garota alcançasse o auge da carreira muito em breve: assim que o papel de protagonista fosse designado a si. No entanto, por ser considerada "inexperiente", apesar de sua atuação promissora, a garota acabava por desempenhar apenas papéis coadjuvantes, mas que ainda assim ganhavam toda a atenção dos telespectadores.

Hoyeon, diferente da maioria dos atores e atrizes, teve uma estreia tardia na televisão coreana. Após se formar na faculdade de teatro, a garota não tinha pretensão alguma de deixar os palcos e apresentações pelas câmeras e o mundo da mídia. E foi assim que Hoyeon seguiu, até que, em uma de suas apresentações, sua atuação chamou a atenção do diretor de uma agência de atores, que posteriormente viria a convidá-la para assinar o contrato com a empresa. Aquele não era o seu sonho, no entanto, era a oportunidade da sua vida.

Mesmo que Hoyeon tivesse muitos anos de experiência, sua bagagem não parecia ser o suficiente quando se tratava de atuar na televisão. E de fato não era: ainda que atuasse de forma notável, a garota acabou imergindo numa realidade completamente diferente da sua – uma em que nada seria aceitável além da perfeição. Tendo estreado há apenas cinco anos, muitos que não conheciam o passado de Hoyeon achavam que a garota não tinha a maturidade necessária para ser a "frente" de alguma produção. E aos trinta anos de idade, Kim Hoyeon ainda era considerada uma principiante naquilo em que era experiente.

Toda essa pressão foi matando aos poucos, dia após dia, o prazer que Hoyeon sentia em exercer o seu trabalho; a euforia de dar vida a um personagem e fazê-lo de tal maneira que as pessoas criassem empatia e, até mesmo, se identificassem com aquela figura. Era disso que Hoyeon gostava: de "viver" outras vidas, contar histórias que pudessem tocar a quem assistia de alguma forma. Representar pessoas. Era essa a sua paixão, que estava morna dentro de si, ofuscada pelas mil e uma preocupações da vida pública.

– Unnie! – Uma das staff's lhe chamou com o telefone em mãos, tirando a garota de seus devaneios. – Estão te ligando.

– Quem é? – Hoyeon perguntou desanimada, encarando o aparelho fixamente por alguns segundos, tentando buscar a coragem necessária para atender quem quer que fosse.

– É a agência. Parece que é algo importante que eles têm para tratar com você. – A mais nova sorri, entregando o telefone à mão alheia. Hoyeon atende, receosa.

Hoyeon-ssi?

– Jung-Soo? – Hoyeon reconhece aquele do outro lado da linha. Era seu empresário, que transparecia certa urgência em sua voz.

Precisamos de você aqui. Venha o mais rápido possível. – Antes que a garota pudesse reagir de qualquer forma, o homem desliga a chamada, trazendo a outra uma certa preocupação. O que seria tão importante para ser tratado pessoalmente?

Kim Hoyeon deixa o local de gravação, rumando à agência. A garota andava pelas ruas de outono de Seul, inserindo-se na bela paisagem que a estação trazia consigo; a brisa gélida movia as folhas caídas das árvores no chão. Hoyeon se perdia nos pensamentos enquanto observava a vista do parque pela qual resolvera cortar caminho. Sentia o sentimento de nervosismo crescer dentro de si, trazendo-lhe calafrios à boca do estômago, enquanto suas mãos suavam no bolso quente. Hoyeon era ansiosa por natureza e esta era uma característica sua que com certeza odiava.

A garota então decidiu se permitir, ainda que por um breve momento, apreciar o cenário diante de si. Observou atentamente o efeito do vento sobre as árvores, que balançavam em resposta. Observou as poucas pessoas que também caminhavam ali, que carregavam um semblante despreocupado, como se naquele momento seus respectivos problemas não lhes importassem. Hoyeon suspirou. Tentou se lembrar da última vez em que esteve feliz ou distraída o suficiente para se esquecer daquilo que lhe afligia. O cansaço lhe dominava a mente a ponto de não se lembrar de tal momento – sua própria cabeça fazia questão de lhe sabotar, auto cobrando-a cada vez mais.

– Isso realmente não é pra mim. – Hoyeon disse baixinho para si mesma, sorrindo fraco. Era um sorriso triste, carregado de aborrecimento, que refletia o quanto se sentia insuficiente em relação à sua própria profissão, ao seu próprio "talento".

Foi quando o celular vibrou no bolso de seu sobretudo caramelo que a garota lembrou de seu compromisso, o que lhe trouxe um arrepio à espinha. Não era uma situação rotineira para si. Alguma coisa estava errada.


[...]


– Dong-Wook, precisamos da sua resposta. – O assessor diz, encarando o outro que observava de forma atenta o roteiro a sua frente.

– Por que está tão apressado? Ao menos tive tempo para ler a trama decentemente. – O homem bufa, passando a mão pelos fios enegrecidos.

– O que tanto tem para se analisar? É um drama como qualquer outro. – Dita, enquanto bate os pés no chão de forma impaciente.

– Eu tenho que saber com o que irei trabalhar... – Dong-Wook diz, pensativo, pousando os olhos sobre um trecho qualquer do texto.

Lee Dong-Wook. Um ator estimado pela crítica devido à sua ilustre atuação, que acabou lhe proporcionando diversos prêmios ao longo de sua trajetória. Com papéis notórios, Dong-Wook se tornara referência na televisão coreana, ganhando reconhecimento em toda a Ásia. Mesmo em seus quarenta anos, o ator seguia no auge da carreira, ganhando cada vez mais o apreço da mídia.

Seu assessor andava de um lado para o outro da sala, aguardando a decisão do homem, que, por sua vez, não esboçava preocupação alguma. Uma proposta de um novo drama lhe havia sido enviada e, como todo trabalho seu, Dong-Wook gostava de dispor tempo para ler o roteiro minuciosamente, atentando-se a cada detalhe – seria o que ele faria naquele momento se aquele consigo não estivesse o incomodando muito.

– Sinceramente, por que você tem que pensar tanto assim? Você não tem nenhum projeto em andamento, eu não enten-

– Eu aceito. – Dong-Wook diz, levantando-se do pequeno sofá em que estava sentado e entregando o roteiro ao outro. – Pelo pouco que li, o enredo parece interessante.

– Pouco? Você passou a última meia hora com os olhos grudados nisso aqui. – O homem arquea a sobrancelha. – De qualquer forma, temos uma reunião para ir.

CutScene | Lee Dong-WookWhere stories live. Discover now