CutScene | Lee Dong-Wook

02. Mise-En-Scène

Hoyeon chega à agência, adentrando o hall de entrada e rumando ao elevador. Os batimentos acelerados da garota indicavam o quão nervosa estava para aquele encontro de última hora; sua respiração ofegante parecia audível dentro da caixa metálica. Assim que o elevador estaciona no andar desejado, Hoyeon caminha em direção à sala de reuniões, onde ela sabia que seus superiores estariam. Sentia um tremor espalhar-se pelas pernas. Mesmo não sabendo sobre o que a reunião repentina se tratava, a garota sairia dali correndo, se pudesse.

- Com licença. - Hoyeon adentra a sala, cumprimentando a todos ali. Dentre os presentes, além de seu empresário e o CEO da agência, a garota pode visualizar alguns rostos novos para si, até que seus olhos pousassem sobre um semblante com o qual ela estava um tanto quanto familiarizada; aquele rosto de mandíbula perfeitamente delineada e orbes negras como a noite. O homem de cabelos pretos levemente ondulados cumprimenta Hoyeon de longe, dando-lhe um breve sorriso, o que a deixa ainda mais curiosa sobre a situação.

- Kim Hoyeon. - O CEO a anuncia àqueles sentados à longa mesa, mesmo que sua presença por si só dispensasse qualquer tipo de apresentação. - Creio que podemos começar a tratar dos negócios agora.

"Negócios?", Hoyeon pensa, sentindo-se cada vez mais confusa. Foi quando o presidente começou a falar que a garota compreendeu, finalmente, sobre o que aquilo tudo se tratava.

- Veio até nós um roteiro de um novo drama. E com isto, um pedido para que Kim Hoyeon interpretasse a protagonista junto a Lee Dong-Wook. As agências de ambos os artistas decidiram que um primeiro encontro para discutirmos sobre isso seria o mais adequado.

Hoyeon se encontrava estática. Primeiro, porque ser protagonista em um drama parecia demais para si. A garota sabia que tal coisa aconteceria um dia, mas não imaginava que seria naquele exato momento. Segundo, porque aquele não era o protocolo: sempre que uma proposta aparecia, discutia-se primeiramente com a agência do próprio artista e, só então, os atores envolvidos viriam a se encontrar na leitura do roteiro posteriormente - o que não era o caso. Lee Dong-Wook já estava ali, em sua frente, com os responsáveis por sua agência. Ao pensar em tal fato, a garota entendeu a situação: estava encurralada e sua resposta não poderia ser outra senão aceitar o papel.

Um staff entrega o roteiro a garota, que toma em mãos o documento, ainda refletindo sobre o que estava a acontecer. Lendo brevemente um trecho ou outro do texto, Hoyeon sentia-se num misto de ansiedade e cansaço, o que tornava difícil para si raciocinar sobre alguma cena ou diálogo. Ao sentir seus olhos pesarem, a garota soube que aquele era um péssimo momento para se tomar alguma decisão, mas já que, ao que aparentava, não havia mais nada a ser decidido, Hoyeon apenas se contentou com o que haviam de lhe determinar. Afinal, essa era uma das grandes desvantagens do mundo da mídia: ter seu futuro, em muitos casos, escolhido por outrem.

- O que achou? - Seu empresário, sentado próximo a si, perguntou, com certa preocupação no olhar.

- É uma trama bem... envolvente. - Hoyeon sorri falso ao outro, que por sua vez exibe um sorriso radiante.

- Então é isso! Creio que já temos uma decisão por parte de Kim Hoyeon. - O CEO dita com entusiasmo, fitando a garota que o encarava, ainda tentando buscar alguma resposta naquela postura, naquela atitude tão confiante, como se servisse de máscara para um desespero iminente. O homem imaginava precisamente o que se passava nos pensamentos de Hoyeon e agradecia a outra mentalmente por ter aceitado o contrato de bom grado; sem muitos questionamentos ou oposições.

Dong-Wook era observador o suficiente para notar que Hoyeon estava desconfortável com toda aquela situação. De fato, a circunstância ali era extremamente desconcertante.

- Temos que dar uma resposta hoje? - Dong-Wook pergunta, olhando para a garota de relance. - Creio que nem eu, nem Hoyeon tivemos tempo para ler o roteiro de forma apropriada. - Ele diz, vendo seu assessor revirar os olhos.

- Seria interessante se começássemos as gravações o quanto antes. - O CEO responde. O homem, que antes se sentava à ponta da mesa, se levanta, parando atrás de Hoyeon e pousando as mãos sobre os ombros alheios. - Nossa atriz já aceitou, não é?! - Ele vê a garota assentir. - Só precisamos da sua resposta definitiva, Dong-Wook-ssi.

- Certo. - Dong-Wook diz, receoso. Ele olha para Hoyeon, que agora lhe encarava com um ar curioso. - Eu aceito o papel. - Afirma, um pouco incerto. O personagem era interessante para si, no entanto, a preocupação de não ter feito a escolha certa para Hoyeon lhe veio à mente.

Na cabeça de Hoyeon, havia um turbilhão de coisas. Uma parte de si estava feliz por "receber" tal oportunidade, enquanto a "outra", estava com medo. Medo de errar. Medo de desperdiçar a chance. Medo das consequências de um possível fracasso. Medo de não dar o seu melhor. Eram tantos os pensamentos que lhe recheavam a mente, que a garota ao menos percebeu a presença de seu mais novo colega de trabalho, que se aproximou quando os demais executivos estavam a sair da sala.

- Você está bem? - Dong-Wook pergunta, tirando a outra do "transe" em que se encontrava.

- Estou. - Hoyeon responde rapidamente. Ouvir a voz aveludada do outro, ali, tão perto de si, havia lhe pegado de surpresa. Nunca imaginara atuar com Lee Dong-Wook, alguém tão renomado na televisão coreana. A garota logo curva a cabeça, cumprimentando-o finalmente. - Obrigada por perguntar. Será uma honra trabalhar com você.

- Igualmente. - O homem diz, dando a outra um breve sorriso. - Vejo você na leitura do roteiro.

[...]

Dong-Wook chega em sua residência, agradecendo aos céus mentalmente por ter se livrado de seu assessor. O homem lhe irritava muito, mas, pela proximidade desenvolvida entre os dois, Dong-Wook não pensava em substituí-lo, por mais que pudesse. Gostava da companhia do outro, no entanto, sua cabeça ansiava por alguns momentos de paz: estava acostumado a viver sozinho. Com o tempo, aprendeu a desfrutar de sua própria companhia.

O moreno adentra o apartamento, retirando os calçados e colocando o sobretudo que usava no cabideiro próximo a porta. Decidiu tomar uma ducha antes de procurar qualquer coisa para comer, sentia-se cansado, ainda que seu dia não houvesse sido cheio, como de costume. Embaixo do chuveiro, Dong-Wook sentia os pingos gelados da água sobre si, que arrepiavam seu corpo por inteiro; tinha a sensação de que a água gelada encaixava cada pensamento em seu devido lugar.

Recapitulava cada acontecimento do dia, até que o rosto de Hoyeon surgiu em sua mente: os cabelos castanho-escuros sobre os ombros; os olhos curiosos que tentavam lhe observar discretamente; a expressão cansada mesclada à uma beleza quase que paradisíaca. A garota lhe chamara a atenção, não apenas pela bela aparência, mas pela postura que trazia consigo. Dong-Wook sentia que Hoyeon era muito mais do que aparentava ser, muito mais do que sua persona de atriz transmitia. No entanto, logo afastou tais pensamentos: com certeza era bobagem de sua parte. Deveria se concentrar em seu trabalho e agir de forma profissional, como sempre.