03. Jump Cut

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Era mais um dia comum em que Hoyeon acordava cansada – como se todo o seu cansaço diurno não lhe fosse suficiente. A garota levanta da cama com o corpo todo dolorido e o típico inchaço matinal nos olhos. Era um dia chuvoso, propício para ficar embaixo dos cobertores, aconchegada no conforto de sua cama e era este o seu maior desejo naquele momento. Como todas as manhãs, Hoyeon se arrumou da forma mais preguiçosa possível e, também como em todas as manhãs, saiu atrasada de casa, tendo uma pequena xícara de expresso como primeira "refeição" do dia.

Neste dia – ao que tudo indicava – habitual, Hoyeon se encontrava trabalhando. Felizmente estavam a gravar cenas para o último episódio do drama, assim a garota teria um momento de descanso, ainda que breve, antes que as gravações com Lee Dong-Wook começassem. Hoyeon sabia que a pressão sobre si seria muito maior, já que iria atuar como protagonista, mas tentava se concentrar em seu atual trabalho e livrar a mente de tais preocupações, tinha que dar o seu melhor àquela altura, afinal. O problema era que manter a cabeça no lugar era quase impossível, uma vez que seu empresário lhe telefonava de hora em hora para lhe lembrar de fazer o trabalho "direito".

Assim que a equipe tem um intervalo entres os takes, Hoyeon decide ir a uma cafeteria perto do local de gravação, ao qual havia descoberto recentemente. Era ali que a garota conseguia se desligar, ainda que minimamente, dos afazeres cotidianos e ter alguns poucos momentos de sossego.

– Boa tarde. Um americano gelado, por favor. – Ela faz o pedido. Após um tempo de espera, a atriz toma o copo em mãos, sentando-se em uma mesa rente a janela.

Hoyeon observa o movimento da pequena cafeteria. Era um lugar não muito conhecido e era disso que a garota gostava: um pouco de privacidade em meio ao caos em que estava inserida todos os dias. O cheiro de café lhe invadia as narinas, trazendo-lhe uma sensação de conforto e calmaria. Aquele momento com certeza era o seu favorito do dia.

A garota se pega imaginando como seria a sua vida longe de tudo aquilo: das câmeras, da mídia, de sua agência. Perguntava-se se estava feliz de fato, se todo o esforço e fadiga valiam a pena, se era aquele o caminho certo para a sua tão sonhada realização. O pensamento de abandonar tudo para trás logo lhe surgiu à mente, mas tratou de calar o súbito desejo com rapidez. Certamente estava apenas passando por uma fase ruim. Tudo se resolveria em breve; ao menos esse era o miúdo pensamento otimista que vez ou outra se revelava em seu consciente.

Absorta em seus pensamentos, os olhos de Hoyeon se depararam com uma figura conhecida por si e, antes que pudesse virar o rosto para não ser reconhecida, o homem acaba a avistando. Ele acena e a garota retribui timidamente, logo tomando um gole de sua bebida e virando-se para encarar a modesta janela que dava para a rua, tentando disfarçar o seu constrangimento causado pela presença do outro ali. Tudo o que Hoyeon desejava era que o homem fosse embora para que ela pudesse retomar seu "ritual" de paz.

– Kim Hoyeon? – Uma voz repentina faz a garota se assustar. Ao levantar o olhar, ela se depara com aquele a quem queria evitar.

– Dong-Wook. – Ela diz, desconcertada. – Que surpresa!

– Perdão pelo susto. Se importa? – Dong-Wook pergunta, apontando para a cadeira livre da mesa. Ele não sabia se sentar-se com ela era o mais certo a se fazer, mas não podia apenas ignorá-la, podia?

– Claro que não! – Hoyeon sorri falso. Ela teria que se acostumar com a presença do outro uma hora ou outra, já que em breve ele seria seu parceiro de cena. A garota se sentia nervosa por ter o outro à sua frente, encarando-a com tamanha naturalidade.

– Não esperava te encontrar aqui. – O homem diz, sentando-se em frente a garota com sua bebida em mãos. De fato, não esperava vê-la tão cedo. Quando reparou que Hoyeon também estava ali, Dong-Wook se sentiu estranhamente feliz por encontrá-la.

– Eu venho a esta cafeteria com frequência.

Hoyeon se sentia completamente perdida. Como puxaria assunto com Dong-Wook? Deveria perguntar sobre as gravações, que era o que tinham em comum? Ou seria melhor não falar sobre o trabalho e perguntar a bebida que o outro pedira?

– Americano? – Como se tivesse lido a mente alheia, Dong-Wook pergunta, vendo a garota assentir. – Pedi um mocaccino.

– Mocaccino? – Hoyeon franze o cenho, encarando a xícara nas mãos do outro. – Não parece ser o seu tipo de bebida.

– E qual você pensou ser o meu tipo de bebida? – Dong-Wook pergunta, interessado.

– Algo mais amargo, talvez? Você parece ser o tipo de pessoa que toma whisky na sua cobertura observando a vista noturna da cidade. – Ela estreita os olhos, tentando imaginar o homem à sua frente no cenário que dissera. A garota sente um arrependimento imediato por fantasiar tal coisa, xingando a si mesma mentalmente por isso. Na cena em sua cabeça, Dong-Wook lhe soava atraente; atraente até demais por se tratar de seu, agora, colega de trabalho.

– Por que diz isso?

– Pela sua... boa aparência. – Hoyeon diz, sentindo as bochechas arderem quase que instantaneamente. O que diabos estava fazendo? E se Dong-Wook achasse que ela estava flertando consigo e tivesse uma má impressão sobre si?

O outro gargalha tímido com a fala da garota. Não podia evitar uma expressão sorridente ao saber que a garota pensava aquilo sobre si. Por algum motivo, Dong-Wook gostava da ideia de que Hoyeon o achava bonito.

– Não que eu não goste de bebidas amargas, mas sempre quando estou por perto gosto de pedir o mocaccino daqui. Não é tão doce quanto em outros lugares. – Ele encara o copo alheio. – O que lhe fez pedir americano?

– É o que eu sempre peço. Eu tenho uma espécie de "ritual" aqui: vir toda segunda e pedir um americano gelado. Sinto que minha semana não começa bem se deixo de fazer isso. Me acha estranha, não é?! - Ela sorri fraco, encarando o moreno a sua frente. A franja caindo sobre os olhos junto a seu sorriso espontâneo o tornavam ainda mais encantador aos olhos de Hoyeon. Naquele instante, a garota já não mais se sentia constrangida ou envergonhada. Sentia-se leve, como se seus problemas houvessem sumido; sentia-se confortável, como se uma lareira aquecesse seu interior; sentia-se ansiosa por querer que aquele momento não acabasse, como se seu coração queimasse apenas com o olhar de Dong-Wook sobre si.

Foi o toque de seu aparelho celular que trouxe Hoyeon de volta a realidade. Era seu empresário a ligando, possivelmente na décima ligação do dia.

– Tenho que ir. – Antes que Dong-Wook lhe dissesse qualquer coisa, a garota se despede, cumprimentando-o e saindo com pressa do local.

Ofegante, Hoyeon acelera o passo para afastar-se da cafeteria o mais rápido possível; afastar-se de Dong-Wook o mais rápido possível. Traria problemas tanto ao outro quanto a si mesma se fosse vista com ele e sua vida já estava conflituosa o bastante.

A mente da garota lhe pregava mil desculpas para justificar sua pressa repentina para deixar a cafeteria. No entanto, tais motivos seriam suficientes para explicar seus batimentos descompassados?

CutScene | Lee Dong-WookWhere stories live. Discover now