Sarah Lee
Acordo sentindo como se eu fosse uma pastilha efervescente borbulhando em um copo d'água. Tudo em mim queima e arde, de ódio e de tesão. A umidade em minha calcinha só serve para me irritar ainda mais, enviando lembretes sensoriais e gráficos ao meu cérebro liquefeito.
Theo me puxando pela cintura no cinema. Theo sem camiseta em meus sonhos.
Solto um grunhido desesperado e me arrumo mecanicamente para a escola.
Os alunos ainda me olham de soslaio quando passo marchando pelos corredores amplos, de paredes longas e teto alto, mas não comentam nada e suspeito que seja pela minha carranca. Sinto meus dentes doerem pela força contínua que dedico a eles. Desde que abri os olhos essa manhã, não consegui relaxar um segundo sequer.
Entro na sala com a certeza de que terei uns minutos sozinha antes de enfrentar seja lá o que for que está prestes a acontecer com meu coração quando Theo Bittencourt passar por essa mesma porta.
A sala está vazia, como sempre, sou a primeira a chegar. Me acomodo em minha carteira no começo da fila encostada na parede de janelas largas com padrões bonitos e respiro fundo algumas vezes. Tiro o material da mochila e aproveito para organizar, por prioridade, minhas tarefas diárias.
Finalmente sinto minha mente sendo absorvida pela concentração dedicada à minha agenda e pouco a pouco, quando os alunos começam a preencher os lugares ao meu redor, quase me esqueço que o dia começou tão ruim.
Já se passaram vinte minutos de aula quando a porta se abre num rompante, interrompendo a fala de Panda.
Olho para o quadro à frente da sala como se nada pudesse me tirar o foco das palavras ali escritas, mesmo que eu já tenha memorizado todas elas.
Não preciso olhar para saber quem é. Mas é quase impossível ignorar a presença de Theo, especialmente quando ele marcha em minha direção, o que é o exato oposto do lugar para onde ele deveria ir, e senta logo atrás de mim.
— Esse não é o seu lugar, né Theo? — professor Rodrigo pergunta, cruzando os braços diante da turma acostumada com as entradas triunfais do metido.
— A Geórgia não tá vindo... — ele começa. — Achei que podia sentar na frente hoje, prestar atenção na aula pra variar... — Não é preciso ser um gênio para saber que ele não fala sério, as risadinhas abafadas ao redor reforçam isso.
O professor o encara desconfiado, mas dá continuidade em sua explicação sem exigir que Theo se sente em seu lugar demarcado, porque afinal de contas não há nada de errado. Ainda.
E é assim que o inferno se refaz em meu dia.
Eu poderia facilmente ignorar Theo, mas é óbvio que ele não veio até aqui para ser ignorado.
A ponta emborrachada de seu lápis vira e mexe se infiltra em meus cabelos, balançando-os de um lado para o outro. Até que seus dedos também passam a tocar insistentemente pequenas mechas.
Às vezes as enrolando, outras só deslizando de cima para baixo em um quase carinho irritante.
Chego a me perguntar se é possível que ele esteja passando algo pelos fios. Tinta, graxa, ou coisas piores e mais desagradáveis. Mas me recuso a virar e descobrir.
Só o perfume de Theo é o suficiente para me transportar para o sonho/pesadelo. Quando ele toca meu ombro jogando um pedaço de papel dobrado em meu colo, eu sinto a pele queimar.
Guardo o bilhete em meu estojo sem me dar o trabalho de ler antes.
Ele bufa e o ar quente que sai de sua boca alcança meu pescoço, perto da nuca. Uma onda incontrolável de arrepio e desejo sobe pelas minhas panturrilhas e interior das coxas. Me remexo na cadeira desejando que o dia acabe logo.
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Eu não sou sua princesa
RomanceO sobrenome de Sarah Lee estampa as fachadas dos hotéis mais bem avaliados do país. Para a adolescente da alta sociedade usufruir dos benefícios que essa vida luxuosa oferece, ela precisa andar na linha e ser excelente em tudo o que toca. Isso é um...