Capítulo 07

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Sarah Lee


Antônia afaga meus cabelos enquanto me entrega a mochila.

Ter a diretora recolhendo seu material em sala de aula aniquila qualquer possibilidade de o assunto ser abafado. Não que eu realmente tivesse esperança de que ninguém fosse saber o que aconteceu, porque tenho certeza que Theo não deixaria o assunto morrer de qualquer maneira.

Mas acho que me perco no meu próprio personagem, quanto mais meu cérebro se esforça para tentar me convencer de que tudo está sob controle, eu meio que acredito. O problema é que desse jeito a ficha demora mais para cair, isso não pode ser bom.

— Eu acredito em você — ela diz massageando meu ombro enquanto me conduz pelo corredor. — Falei pro seu pai que foi um acidente, mas espero que você entenda que eu precisava ligar pra ele.

— Eu sei...

— Não é tão ruim assim, Lee. — Theo fala logo atrás de nós. — Ela liga pros meus pais o tempo todo, faz parte.

Pode fazer parte da vida dele, mas definitivamente não faz parte da minha.

Sigo em minha caminhada da vergonha em silêncio, sentindo os olhos que me julgam através das fotografias que tomam conta de toda a extensão da parede, enfileirando os alunos espetaculares onde um dia sonhei ter minha foto pendurada e hoje não me acho digna de tal feito.

Quando atravesso a porta, um vento gelado e inesperado invade meus pulmões, mas nada dói mais do que ver o carro de meu pai me esperando, com seu motorista a postos para me receber.

Meus pés travam porque não estou preparada para esse encontro e Theo esbarra em mim, me segurando pelos ombros e tropeçando desajeitadamente tentando não nos levar ao chão.

O motorista de meu pai encara os sapatos em uma tentativa fajuta de fingir que não viu nada, mas a vergonha que sinto já não cabe mais em mim. Obrigo minhas pernas a se moverem mesmo com a mobilidade reduzida e deixo as mãos e a voz de Theo para trás.

Emmanuel abre a porta para mim. Ele não se oferece para tirar minha mochila como Claudio sempre faz e tudo bem, porque não acho que ele conseguiria mesmo. Meus dedos se apertam ao redor das alças e deslizo pelo banco de couro com o coração esmagado entre as costelas.

— Você me tirou do trabalho no meio da manhã. — É tudo o que meu pai diz.

Encaro seus pés ao lado dos meus. O sapato de bico fino, brilhante e engraxado batuca o chão do carro em um ritmo impaciente.

— Desculpa, pai.

Ele desliza o braço para me alcançar, acaricia minha bochecha e puxa a alça da mochila por meu ombro enquanto pede para que eu coloque o cinto de segurança.

Só então o motorista dá partida.

— O que você estava fazendo com Theo Bittencourt? — ele pergunta.

Engulo em seco porque flashes invadem minha cabeça e reproduzem sensações musculares inconvenientes. Theo excitado na biblioteca e depois entre minhas pernas.

— Fomos até a biblioteca pegar uns livros que o professor pediu.

— Não sabia que vocês eram amigos — ele arrisca.

— Não somos — me apresso em dizer. Talvez apressada demais, porque meu pai geme um "uhum" pouco convencido.

— Ele é problema, filha. Você sabe disso, não sabe?

— Sim, senhor.

— Olha pro pai — ele pede com a voz tenra. Obedeço e seus olhos azuis me encaram exatamente do jeito que imaginei que estariam. Decepcionados. — Não quero você envolvida com ele, entendeu? A Adriana vive reclamando que ele é um caso perdido, não quero que ele acabe levando você pelo mesmo buraco.

Eu não sou sua princesaWhere stories live. Discover now