Capítulo 27 - Favores

1.2K 86 3
                                    

Letizia

Puxei um travesseiro e deitei minha cabeça, estava cansada e queria dormir:

- Então? O que é tão importante assim para eu ficar acordada até essa hora, Giuliano?

Ele respirou fundo:

- Preciso de um favor.

Sentei. Tudo o que eu precisava era que ele me devesse algo:

- Pode ser mais específico?

- Meu pai decidiu que devo assumir metade dos negócios. E sugeriu que você me ajudasse.

- Que eu te ensine, você quer dizer?

- Eu nunca acompanhei de perto as famílias e os negócios.

Virei meus olhos. Eu ia ser babá do filho do mafioso que não queria ser mafioso.

Levantei e fui até o closet, em dúvida se vestia um pijama ou minhas roupas de trabalho, visto que já eram 3:35 da manhã. Optei pelo pijama, sentei na cama novamente:

- E até agora você fazia o quê? Qual era sua função?

- Chefe da segurança.

- Sabe manusear armas, lutar?

- Sim. Fiz treinamento nos Estados Unidos. Foi a desculpa que usei para ajudar Manoela na fuga.

Fiz uma nota mental no meu cérebro sonolento e sob efeito do álcool, para nunca tocar nesse assunto com meu irmão.

Puxei as cobertas da cama, ajeitei os travesseiros:

-Eu vou te ajudar, mas em troca você aceita ter a cessão da venda de armas ao invés do monopólio. Vai trabalhar para mim definitivamente. Vou fazer uma taxa de repasse bem baixa para você, uns 15% . Assim você fica com um lucro alto. Que acha?

- Acho que meu pai vai me matar se eu fizer isso.

- Ele não precisa saber, quando assinar nosso acordo, diga para ele que está tudo ok.

- Vou pensar.

Deitei na cama e puxei os cobertores:

- Ou vai ser ridicularizado por todos. Imagine quando os Capos descobrirem que o filho do Don não sabe dirigir os negócios. O que vai ter de gente querendo o seu lugar – comecei a rir.

Ele levantou da poltrona, irritado:

- Está bem! Fechado!

- Ótimo. Quando sair, apague as luzes e feche a porta.

Virei para o lado, coberta. Ouvi a porta bater.

Pensando em qual local do meu corpo seria ideal para tatuar o símbolo máximo da máfia italiana, fui embalada pelo sono, sorrindo.

Sim, eu ia ocupar a cadeira do Don.


Manoela

Revisei os papéis da adoção de Lucca. Já era a terceira vez. Domenico estava sentado ao meu lado. Perguntei para o advogado, no viva voz:

- A cláusula dos direitos aos bens está correta, certo?

- Sim, Manoela. Você já tem um contrato pré-nupcial com seu marido. Os seus bens estão seguros. Além disso, o testamento de Christian deixa claro que metade da fortuna é sua e que você é a responsável legal de Mathew.

- Eu pedi para vocês alterarem para 75/25. Mathew tem que ficar com a maior parte.

- Só podemos fazer isso quando ele atingir a maioridade. Agora, sobre a adoção, está de acordo?

Peguei a caneta e assinei:

- Sim.

- Agora falta a assinatura da mãe da criança.

Olhei para Domenico, e me levantei da cadeira:

- Por favor, resolvam com o pai. Obrigada por agilizarem os papéis. Eu tenho que sair.

Virei as costas, saí do escritório, atravessei a sala e fui até a piscina, onde Mathew brincava. Ele correu na minha direção e o abracei:

- Você sabe que eu te amo, né?

Sentamos no chão.

Ele riu, sem saber direito o que estava acontecendo:

- Eu gosto de você assim – abriu os braços.

Riu novamente e pulou na piscina.

Mathew era o motivo pelo qual eu estava viva. Christian não tinha parentes próximos e era minha obrigação cuidar daquela criança, eu devia isso à ele.

Katerina se aproximou e sentou-se ao meu lado:

- Soube que assinou os papéis da adoção. Parabéns, mamãe – sorriu.

- Assinei por causa de Nico – olhei para o mar, ao longe.

- Não queria?

- Não é isso, Kat. É que desde que Christian se foi, perdi minha autonomia. Todas as decisões sobre a minha vida se baseiam nos outros.

- Nico é apaixonado por você, Manu.

Olhei ao redor, para certificar que ninguém estava por perto:

- Eu gosto dele. Muito. Mas isso só aconteceu por causa do sequestro e do contrato, não porque quis. Christian foi minha escolha, eu o amava. Foram os melhores anos da minha vida. Sem ameaças, sem violência, com liberdade.

Katerina ficou séria. No fundo, ela sabia que eu tinha razão:

- Prometa que não vai fazer nenhuma besteira. Nico pode não ser perfeito, mas ele te adora.

- Vou me comportar – levantei do chão – já está sabendo que Letizia vai casar?

- Não, com quem?

- Giuliano.

Katerina parecia decepcionada:

- Mas, como assim? Não era o seu padrinho que estava interessado nela?

- Ele é filho dele.

Ela arregalou os olhos:

- Entendi. Uma pena, ele é muito agradável e Letizia não é uma pessoa das mais amigáveis.

- Agradável – comecei a rir – Katerina, você não tem jeito. E Luigi?

- Me afastei. Expliquei para ele que era só diversão. Ficou irritado, dá para entender?

- Se afastou por isso mesmo? Ou porque Giu apareceu?

Ela sorriu:

- As duas coisas, mas agora estou sem muita opção.

Rimos alto. Olhei para ela:

- Espero que ele e Tizia se entendam. Porque Giu é importante para mim.

- Eu sei – ela se levantou também – a amizade de vocês é de muito tempo, não?

- Sim, desde que eu tinha 18 anos – disfarcei.

Fui andando em direção ao escritório. Pensando em Giuliano. Eu e ele, nos Estados Unidos. Eu trabalhava em um bar o dia todo, tentando juntar dinheiro. Ele, no treinamento de armas. Vinha me visitar todos os finais de semana, com flores e uma garrafa de vinho nas mãos.

Ele foi o meu primeiro namorado.

Ex-princesa da máfia (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora