𝟸 • 𝙱𝚎𝚖-𝚟𝚒𝚗𝚍𝚘 𝚊̀ 𝙵𝚘𝚛𝚔𝚜

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Enfim, o grande dia chegou. O dia em que eu teria que me despedir de dezesseis anos de vida. O dia que mais uma temporada de minha vida acabaria.

Eu levava as poucas malas que sobrara para o carro, enquanto Elisa nos ajudava. Agora sim a casa estava completamente vazia, sem móveis, vida, pessoas. A casa onde eu passei toda a minha breve vida agora já não parecia mais um lar, apenas um amontoado de paredes brancas e vazias.

— Vou lhe dar um tempo. - indagou minha mãe enquanto adentrava o carro.

Elisa assentiu e ficou na frente do carro me esperando assim como minha mãe. Respirei fundo e entrei novamente, pela última vez.

Eu conseguia visualizar nitidamente as vezes que eu e Elisa passávamos horas assistindo TV e comentando sobre os filmes e programas, ou da vez que ela me obrigara a dar uma festa na ausência de minha mãe e todos aqueles adolescentes bêbados, ou ver minhas ex-namoradas em cada cômodo. Tantas memórias, tantas vivências, agora já não nítidas pelos anos.

Respirei fundo mais uma vez e fechei a porta. Mais um ciclo se encerrara.

───⊱◈ ◈⊰───

No aeroporto, as lágrimas e aperto no coração tomaram conta. Eu e Elisa não nos desgrudamos, à espera de duas horas até o nosso voo foram preenchidas com lágrimas, abraços, memórias e saudades antecipadas.

Ninguém morreu. Mas era como se tivesse acontecido.

— Me mande e-mails e me ligue todos os dias. Sem exceção. Dane-se o fuso horário. - indagou Elisa quando estávamos em frente ao portão de embarque. Logo ela me abraçou forte, encharcando meu suéter de lágrimas e eu fazia o mesmo com o moletom dela. — Eu amo você.

— Eu amo você. - retribui. A olhando pela última vez.

E logo ela sumiu de minhas vistas.

Minha mãe e eu embarcávamos nesta loucura e neste transporte enorme chamado Avião. O frio na barriga ficara mais intenso, o medo do desconhecido, de repente me senti incapaz, mais uma brincadeira de mal gosto do meu inconsciente.

Quanto mais alto ficávamos, mais eu sentia medo. Não medo do avião cair ou qualquer coisa do gênero, mas medo do que me aguardava, medo de as coisas não mudarem e serem ainda piores, medo de meu inglês não estar bom o suficiente, das pessoas.

Nos filmes teen e americanos sempre mostravam as escolas americanas como uma selva. Relatos de pessoas intercambistas dizendo que não são como o filme, outros dizendo que são iguais, alguns dizendo que são simpáticos, outros que são arrogantes. Tantas possibilidades, versões, medos.

Em poucos meses eu completaria dezessete anos e só faltavam dois anos para que isso que mal começou, terminasse. Pelo menos a escola. Mas depois do ensino médio eu poderia voltar para o Brasil, até lá minha mãe já teria sua vida estável caso quisesse ficar e eu poderia dar início a minha. Apenas dois anos. Você aguenta.

───⊱◈ ◈⊰───

Estávamos no carro a caminho da nossa nova moradia. Passávamos a placa de "Bem-vindo à Forks" e o frio na barriga retornou.

Era como uma cidade do interior de qualquer lugar do Brasil, só que diferente. Haviam mais árvores, pinheiros para ser mais exato, sempre gostei desta árvore em específico, mas julgo ser pelo fato de que no Brasil não há tantas quanto no exterior, então para mim, aquilo era lindo.

O clima era denso, era como se as nuvens conseguissem alcançar a cidade com facilidade, deixando-a embranquecida fazendo contraste com o verde musgo dos troncos das árvores e suas folhagens. No centro da cidade, haviam pequenas lojas de conveniência, pessoas típicas do interior - sem muita novidade -, os carros que pareciam ter muitas décadas de vida, as pessoas inexpressivas, alguns restaurantes rústicos.

𝐃𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫𝐨𝐮𝐬 𝐋𝐨𝐯𝐞 | 𝐑𝐨𝐬𝐚𝐥𝐢𝐞 𝐇𝐚𝐥𝐞Where stories live. Discover now