dirty talk

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Depois da listagem de palavras cotidianas no quadro negro, Lysandra depositou o giz pela metade no apoio de madeira, sentindo o mais brando calor percorrer de dentro para fora, a deixando tão mais nervosa que o costume

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Depois da listagem de palavras cotidianas no quadro negro, Lysandra depositou o giz pela metade no apoio de madeira, sentindo o mais brando calor percorrer de dentro para fora, a deixando tão mais nervosa que o costume.

Não era como se nunca tivesse lecionado para o supletivo antes, na verdade, era uma das coisas que mais gostava de fazer, pois ver o entusiasmo genuíno de cada uma daquelas pessoas ao conseguir fazer as atividades, o quanto eles se esforçam para conseguir compreender e o quanto se divertiam, trazia-lhe mais prazer do que ensinar qualquer outra faixa etária.

Mas, apesar de tudo, descobrir que um de seus clientes estava sentado tão próximo de si, com as malditas orbes castanhas tão fixas em cada palavra sua, a fazia tremer na base.

Acontece que, trabalhar numa empresa de disksex, trazia-lhe uma renda equivalente ao que ganhava lecionando, e mesmo juntando ambas, mal conseguia pagar as contas de casa e ter uma vida confortável, ainda mais num país onde a educação nunca foi levada muito a sério, principalmente quando se tratava de escolas públicas.

Se porventura, o homem falasse algo para alguém, ela de certo perderia o emprego.

— A quem diz que inglês é muito complicado, são muitas regras para aprender, mas cá entre nós — então, ela aproveitou para encostar-se em sua mesa — algum de vocês sabe bem como usar um pretérito mais que perfeito? Domina perfeitamente bem todas as fórmulas de logaritmo? Tabela periódica, alguém?

Fora um riso que escapou de seus alunos, que a fez também esboçar um sorriso enfático, sentindo-se agraciada por conseguir criar algo tão leve.

— O nosso maior problema hoje é encarar o inglês como um vilão, tão ruim quanto todas as fórmulas matemáticas presentes na terra, quando na realidade, deveríamos o ter como nosso amigo. Ele está presente na nossa vida, todos os dias como podemos perceber hoje — então ela apontou sua régua para o quadro negro cheio de palavras — nesse primeiro momento, não quero que vocês se preocupem com pronuncias perfeitas, escritas excepcionais, nós vamos começar pelo inglês que você realmente precisa aprender, afinal quando estamos ali na faixa etária entre nove meses e dois anos, o que aprendemos primeiro?

Fora justamente naquele instante que o maior e melhor de seus pesadelos, pois-se a falar.

— Aprendemos a falar.

Poderia facilmente admitir que sempre teve uma queda por pais solteiros, mas Guilherme Gomes conseguia superar todas as expectativas.

Sua voz era mais nasal, onde um tênue chiado se tornava evidente em palavras com s, que se transformam facilmente em um som de x, entretanto, era diferente do sotaque carioca que também carregava a característica. Mesmo que tenha vindo ainda jovem para a terra da garoa, o sotaque não perdeu-se, o que a fez imaginar que boa parte de sua convivência com pessoas da mesma região tenha ajudado de certa forma.

Era sorridente e simpático. Cabelos escuros e ondulados, pequenas rugas nos cantos dos olhos de avelã denunciando sua idade. Gostava do formato de seu rosto, de como seu casaco estampado lhe caía tão bem...

LASCIVIOUS | HIATUSWhere stories live. Discover now