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Victor Pitbull narrando

Hora do banho de sol.

Me sinto na porra da escola e cá pra nois, eu odiava aquela época. Que merda que eu aprendi naquela merda? Nada diferente do que eu fiz com aquele anão outro dia no refeitório. Eu roubava comida dos mais fracos na escola, era isso mesmo. Por que eu ia deixar de fazer isso agora? Quando era pivete estudava em escola particular, mas não tinha grana pro lanche e meu pai achava que só de eu tá lá já era alguma coisa, já que ele pagava a escola. Corrigindo, não pagava todo mês não. Era só quando dava certo.

Tô olhando o pilantra de longe. Esse pirangueiro mexeu com a milícia errada.

Faço sinal pra um colega e vou na direção do covarde que me mandou pra solitária.

Meu colega agarra o baixinho e dá uma gravata nele, daí vem mais dois colegas e ajudam a segurar o verme.

Se tem algo que eu aprendi no mundo do crime é que a gente sempre tem que ter uma cartinha na manga e eu nunca abri mão da minha. Fechei parceria com uns camarada daqui de dentro. Gente de gang, gente de facção criminosa mesmo. Em troca da amizade desses comédia, eu dou a eles o que os cara pedirem (claro, sempre dentro da "ética" e da "moral"), a verdade é que bandido tem suas próprias regras e a gente vive sob elas. O camarada que for meu amigo de verdade, eu não abandono nunca, agora se for X9 ou tiver de malandragem, não tem vez comigo e eu cancelo o cpf sem nem pensar duas vezes.

— E aí, meu camarada. – digo ao cara encurralado.

ele não pode falar porque o cara atrás tá tapando a boca dele.

— Tu pensou que ia me fazer aquela vergonha na frente de todo mundo na covardia e ia ficar por isso mesmo? Tú é muito filho da puta. – encaro ele com um sorriso de malandro na cara — Se tu quer agir que nem rato, então eu vou agir contigo que nem um rato, porra. Mas tu presta atenção porque isso aqui é só um aviso. Eu tô só te passando o bizu, se tu se meter a besta comigo de novo, eu te mando pra conversar com o capeta no quinto dos infernos. – dou um tapão na cara do homem — Olha pra mim.

— Vai tomar no seu cu, miliciano de merda. – a boca dele ficou liberada depois do tapão.

— Brinca comigo não, porra. Brinca comigo, não. – dou mais um tapão que sangra a boca do vagabundo — Tu tá pensando que é quem? Tu sabe quem eu sou? Esses guarda tudo aqui são meus chapa, esses cara ai que tão te segurando: são meus chapa. Tu vai mesmo encrencar comigo? E escuta só. O que é meu é só meu, mas o que for teu e o de quem eu quiser; vai ser meu também. Tá interado?

Ele não diz nada.

— Vai se foder. – cospe em mim.

— Pau no cu! – dou um socão na boca do estômago dele.

Não consigo me controlar mais.

Aplico uma sequência de socos no cara enquanto ele não pode se mexer.

— Porra, Victor! – um guarda corre pra socorrer o preso — Se tu ferrar com esse aqui também, o presídio que se fode, irmão. Tá tirando com a gente? – o agente me segura pelo braço.

— Vai te foder, porra. Eu vou matar esse desgraçado! – tento me soltar do guarda, mas logo aparece um outro para ajudar o colega dele.

Os caras me arrastam pelos braços e me jogam dentro da solitária.

— Vai ficar aí pra esfriar a porra dessa cabeça. Vai tomar no cu, Victor. A gente confia em tu é tu vem de tiração.

— De rocha que vocês ficaram chateadinhos?

— Vai se fuder, mã. Tu não sabe da responsa.

— Eu sempre disse que tu podia ganhar muito mais sem precisar cumprir a porra dessas carga horárias.

— E perder a nossa farda, o concurso e depois ficar na mesma onda que tu? Não, valeu.

— Tu é muito pau no cu mesmo. – reviro os olhos e sento no chão — Eu não vou ficar aqui por muito tempo, o deputado vai me tirar dessa merda. Eu tenho certeza.

— Vai nessa. – o colega debocha do outro lado da porta — O cara lá vai tá mais preocupado em se reeleger esse ano. Ele não pode ser visto contigo agora.

— Eu sou diferente. Ele vai vir e eu vou rir da tua cara que deve tá ganhando uns quarenta mil por ano e eu fazia isso no mês. – risos.

— Tá certo. Vai nessa...

Nos calamos e fico apenas com o silêncio. Às vezes o barulho de algo passando invade a cela e logo tudo volta à normalidade e às vezes um agente passa batendo na grade e rindo alto porque a essa altura a notícia que eu tô por aqui já se espalhou no meio de geral.

Durmo e acordo com o barulho de um filho da puta batendo na grade como se tivesse querendo da o cu.

— Porra! – vou na ignorância.

— Tá pensando que aqui é hotel, maluco? – Jamerson ri.

— Vai te lascar, Jamerson, me deixa dormir, pau no cu.

— Bora. O diretor novo quer te ver.

— Novo? Já trocaram aquele outro cuzão por esse?

— Já e deixa eu te dizer: esse aí é mais carrasco.

— E o que ele quer comigo?

— Não sei. – dar de ombros — Acho que ele só ficou curioso pra te conhecer mesmo. Sabe como é, né: todo mundo quer te conhecer. – ri debochando da minha cara.

— Vai te fuder, Jamerson.

— Bora, pau nas bera. – me puxa pra fora da cela.

Claro que eu acompanho o cara porque eu quero, não ia adiantar de nada quebrar o Jamerson aqui por ele me acordar. Era eu dar uma de doido e os outros agentes me "salgar" até eu ficar pronto pra ir pro fogo.

Entro na sala do diretor.

— Bom dia. – ele tá sentado na cadeira dele atrás da mesa.

— Bom dia. – vou com um pé na frente e outro atrás.

Pra começar não gosto do sorriso dele, esse cara não tá aqui pra saber como eu tô e acho que ele nem tá interessado em saber se pode me ajudar com alguma coisa. A sala foi toda reestruturada e tá limpa de um jeito que nunca ficou quando era o Josias a dirigir essa porra.

— Senta aí. – ele diz.

— Tô bem em pé. – mostro um desses sorrisos que não querem dizer que eu tô afim de ser amigo de ninguém.

— Senta. – ele faz sinal pro agente atrás de mim e o cara me guia até a cadeira e eu sou obrigado a sentar se não quiser levar um tiro ou uma coronhada agora mesmo. 

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