Capítulo 2

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Eram 6:30 da manhã, o sol parecia se dividir entre as frinchas do meu estore que cobria a janela de quase 2 metros de altura, grande o suficiente para se observar tudo o que acontecia naquela cidade que até mesmo pelas 6:30 já estava tão atrapalhada e mexida como se fossem os meus pensamentos.

Enquanto puxava a escova de dentes para fazer a limpeza oral, coisa que não poderia faltar nunca, lembrava-me de tudo o que tinha acontecido na noite passada, a sensação de prazer e de felicidade ao saber que poderia mudar a minha vida para o lado das estrelas e que tudo seria feito a partir de uma  única chamada telefónica, aquilo dava-me ansiedade constante e logo como sou uma "overthinker" tudo piorava a cada minuto que passava, "Será que vou conseguir o emprego com que sempre sonhei?", "Será que vão me ligar ou simplesmente ignoraram a minha mensagem?", "Tudo isto está a por a minha cabeça tonta, preciso de parar de pensar nisso e ir na fé!".

No meio das ruas era uma algazarra, não se conseguia ver nem o passeio no qual caminhava com a quantidade de pessoas que se moviam por todos os lados, fazia-me lembrar que eu era o Mufasa no meio dos búfalos em manada que corriam pelas suas vidas para não chegarem atrasados ao trabalho, que perda de tempo.

Abri a porta central do prédio editorial, o famoso mas nem tão famoso "Deluxe News" face a face com o arqui-inimigo "Daily Page", o cheiro a papel acabado de ser escrito com as maiores barbaridades noticiarias pairava no ar, a coloração da parede dava um toque sombrio à empresa como se todos os jornais que fabricava fossem colados na parede e deixados a descolorir com o passar do tempo, cada passo que dava para a sala do café parecia uma eternidade, os corredores vazios e apertados davam claustrofobia a qualquer pessoa que por lá passava, não sabia o porquê mas sentia que se fosse para o meu trabalho de sonho, o prédio da empresa seria o único local que me iria dar saudades, mesmo sendo modesto e não muito grande trazia sempre uma sensação de boas-vindas por quem passava a porta principal, as pessoas da receção tinham uma fala aconchegante e chamativa, e por mais que a sala de espera não fosse espaçosa e brilhante tinha sempre o seu modo de aconchegar as pessoas nas suas poltronas e fazerem-nas assistir aos melhores momentos  do jogo da noite passada "Lakers vs Golden State Warriors" que passava naquela televisão de 40 polegadas, uma sensação incrível.

Cheguei ao meu cubículo, tinha-me deparado que a minha minúscula secretária já estava preenchida com papeis que pareciam não ter fim, cada página que via era menos um por cento de sanidade que deixava naquele mesmo sitio, sabia que tinha de continuar a fazer o me davam para a mão com a única esperança de que aquele esperado contacto telefónico aparecesse no ecrã do meu telemóvel como se fosse a mão de Deus a guiar-me para o paraíso.

Deixei esse pensamento de parte e pus mãos à obra até porque era sexta-feira, coisa que a empresa tinha aplicado como regra de quem acabar o seu trabalho poderia sair, foi a única coisa que me deixou mentalmente bem disposta para passar mais um dia no escritório.


Face to FaceWhere stories live. Discover now