005. Andyer, volta aqui!

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Eu nunca vou esquecer o olhar de desgosto com o qual ela me encarou quando eu, por um impulso, acabei cometendo o maior erro da minha vida.

— Lara, ele era o meu melhor amigo! — Segurando o corpo mutilado do loiro no chão e o rosto vermelho de tanto chorar, a minha noiva gritou comigo. — Olha o que você fez! Por que não me escutou quando eu disse para você parar?

— Ele estava dando em cima de você — a minha afirmação saiu sem nenhum pesar. Sabe, nem eu sabia que poderia ser tão fria. 

— Não, não estava! — Ela ter gritado ainda mais alto comigo doeu até na minha alma. — Olha só, agora acabou! A família dele vai te matar, Lara!

Foi nesse momento que a porra da minha ficha caiu. Eu tinha feito uma merda tão grande e tão irreversível que eu estava fudida.

Deixei que o facão ensanguentado que peguei do Boteco do Ripinha caísse no chão. Eu voltei à sã consciência de que não, nada estava sob controle mais. Eu havia acabado de matar uma pessoa, independente de quem fosse. Eu havia cometido uma barbaridade.

Olhei ao meu redor: todo mundo me encarava. E não era para menos, mesmo.

Quando pousei o meu olhar sobre a Andyer novamente, ela se levantou. Chorando muito, se levantou e saiu correndo dali.

Eu fiquei alguns segundos em choque observando a catástrofe que causei, até que fui correndo montar no Rei e seguir a minha noiva.

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— Andyer! — Eu gritei quando desmontei. Estávamos no ponto mais alto da Cachoeira das Onças e ela estava na beiradinha do precipício, olhando para baixo. — Volta aqui!

A minha voz e chegada repentina a assustou, e ela quase se desequilibrou e caiu por minha causa. Eu senti o meu coração paralisando por alguns segundos.

— Não se aproxime! — Ela gritou, sem olhar para mim. — Vai embora!

— Andyer, não faz isso! — Eu ignorei o seu pedido e me aproximei. Consegui segurar no seu pulso, mas ao tentar puxá-la, ela foi mais esperta e se soltou. — Andyer, eu te amo!

— Eu também te amo, Lara — nessa hora ela me olhou fixamente nos olhos. — E é justamente por te amar que eu não vou aguentar te ver sendo morta.

Ela tinha razão sobre uma coisa: por ter matado o Austin, o meu destino era ser morta. 

— Você tem que fugir, Lara — a sua doce voz me fez sentir como se uma faca estivesse entrando no meu peito.

— Vem comigo, Andyer. Vem comigo e vamos ser felizes longe dos demais!

Eu lhe estendi a minha mão, mas ela negou a ajuda para descer da pedra balançando a cabeça.

— Eu prefiro morrer do que fugir e nunca mais ver o meu irmão — de novo, a sua frase me foi como uma facada. — E eu prefiro morrer do que continuar viva sem você por perto. Eu também te amo, e amo demais para viver sem você.

Involuntariamente eu comecei a chorar. O que eu tinha feito?

— Foge, Lara — ela falou. — Eu te amo. Por favor, não olha para mim.

Porém, antes que eu pudesse sequer piscar, ela se jogou de costas do alto do precipício. Eu senti as minhas bochechas arderem por inteiro ao tentar ir para a beira, chorando, pronta para pular também. Mas eu fui impedida por um relincho. Ao olhar para trás, percebi o Rei a poucos metros de distância de mim. Ele havia conseguido se soltar da árvore na qual eu o deixei preso e estava desesperado, batendo as patas e relinchando muito.

Eu fui até ele engatinhando e ainda chorando. Ao chegar perto, eu me levantei e o abracei pelo pescoço. Só assim ele conseguiu se acalmar.

Quando tranquilo, eu montei nele e voltei para casa. Naquele dia juntei algumas roupas e planejei uma rota de fuga para que nunca mais me encontrassem.

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634 palavras.

𝑸𝒖𝒆𝒓𝒊𝒅𝒂 𝑨𝒏𝒅𝒚𝒆𝒓... | Conto ✔Donde viven las historias. Descúbrelo ahora