Wednesday andava para casa sob o sol forte de verão que ela odiava. Era tudo quente e agonizante, ainda por cima usando suas roupas pretas e grossas.
- Não vejo a hora do inverno começar - resmungou sozinha lembrando-se da sua estação favorita do ano.
Wednesday não tinha muitas coisas favoritas na vida, mas o Inverno com certeza era uma delas junto com a música. A música era seu refúgio, era com ela que a garota se protegia e fugiu da realidade que era a bosta da sua vida. Por isso sempre estava com fones de ouvido por perto e no volume máximo. Com eles Wednesday criava um mundo tranquilo só dela que ninguém podia adentrar, mas a barreira que isolava esse mundo estava sendo perturbada por uma certa menina alegre e irritante.
Wednesday revirou os olhos lembrando-se de Enid e suas tentativas de puxar conversa. Ela era só mais uma que faria amizade e depois trairia Wednesday por algum motivo estúpido.
- Não vai rolar - disse a garota vendo a caminhonete vermelha e velha de seu pai fora da garagem.
O que era incomum, ele quase não tocava naquela lata velha. Apressando o passo ela correu até sua casa no bairro pobre de Jericó. Wednesday tirou os fones de ouvido e se aproximou do portão da garagem espiando lá dentro. Seu pai estava de pé e de costas para ela mexendo em uma caixa de papelão nos fundos. Gomez era um homem alto, de ombros largos e fortes, cabelos e olhos pretos. Vê-lo distraído fez Wednesday se lembrar que ele nem sempre foi o babaca alcoólatra que era agora e sentiu uma pontada de saudade no peito. Ele era um pai e um marido carinhoso e atencioso, mas foi afundando cada vez mais no álcool e tudo desmoronou.
Gomez virou-se para mexer em outra caixa e Wednesday se escondeu. Quando teve certeza de que ele não sairia, voltou a espioná-lo e o que ela viu fez seu coração gelar.
O homem estava com uma pistola na mão e verificava o cartucho de balas com uma destreza como se fizesse aquilo sempre.
- Droga - sussurrou Wednesday entrando em casa correndo - Mãe? Mãe?! Mãe! - gritou nervosa.
- Na cozinha.
Wednesday correu para o cômodo e encontrou sua mãe na pia.
- Mãe você está bem? - Wednesday perguntou se aproximando a virando e vendo um corte no supercílio da mulher - Ele bateu em você de novo?
- Não, eu cai.
- Não mãe! Pare de inventar desculpas! - a menina exclamou nervosa - Achei que ele ia embora depois da última briga.
- Nós nos acertamos.
- O que?
- Ele disse que iria mudar - disse a mulher sentando-se a mesa.
- Mãe, quantas vezes ele te disse isso? - questionou Wednesday pegando um lenço e limpando o rosto dela - Ele nunca vai mudar.
Morticia encarou a filha com os olhos cheios de lágrimas.
- Vamos embora. Só nós duas para longe daqui. Para longe dele.
- Não posso.
- Por quê?
Wednesday puxou uma cadeira e sentou também segurando as mãos da mãe.
- Vocês estão se divorciando. Nós podemos ir embora. Podemos recomeçar. Nada nos prende aqui.
Morticia segurou firma às mãos dela e afagou deu rosto.
- Você não merece passar por essas coisas, Wed.
- Nem você. Sabia que ele tem uma arma? - Wednesday murmurou o mais baixo que conseguiu.
- O que? - disse Morticia com as sobrancelhas arqueadas em espanto.
![](https://img.wattpad.com/cover/332610934-288-k580117.jpg)
YOU ARE READING
A corrida dos Excluídos - WENCLAIR
FanfictionWednesday odeia Nevermore e todas as pessoas ao seu redor. Mas depois de perder a Corrida dos Excluídos e ser ameaçada pela diretora Weems, não lhe resta alternativa a não ser usar a aluna nova a seu favor. Mas essa aproximação desperta sentimentos...