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Presídio feminino do estado de Kansas.

Seu corpo foi lançado com força para
a frente, fazendo-a quase cair antes
de conseguir se equilibrar. Seus olhos
azuis percorreram a extensão de
todo o pátio, analisando meticulosamente todas as garotas do local. Enid pôde perceber que andavam em bandos, e que ela aparentemente era a carne nova no pedaço, pois todos os olhares estavam focados nela.

Enormes cercas elétricas eram coladas
com paredes quilométricas. Havia
câmeras de segurança por todos os lados e os uniformes laranjas se destacavam entre os marrons e brancos. Policiais femininas rondavam por ali, prestavam atenção em toda e qualquer aproximação estranha que poderia ser uma possível briga.

Enid não deixou de notar que, em
algum momento, todos abaixaram a
cabeça quando uma morena de pele
extremamente clara e de cabelos pretos
passava por elas. Curiosa como costumava ser, Enid jamais baixou o olhar, vendo a morena subir na mini-arquibancada, feita de ferro e madeira, e se sentar.

A morena percorreu o olhar pelo perímetro, contudo, ele parou em Enid. A expressão solene entregava que ela não queria que a olhasse, mas algo na garota a prendia.

— Sinclair? Estou te chamando! – O grito da policial fez Enid pular de susto.

— Desculpe, eu não te ouvi. – Pediu, vendo a policial, de roupa azul escuro, lhe fitar seriamente.

— Eu não costumo dar avisos para as
presidiárias novatas, mas vi que ficará um bom tempo aqui, então sugiro que não a encare. Ela não gosta. – A policial falou e Enid assentiu, dando uma última olhada para a garota antes de ler o nome no crachá da policial.

— Em que posso ajudar, senhorita Divina? – Enid perguntou e a policial apoiou sua mão direita sobre a arma em sua cintura.

— Tem visita para você, me acompanhe. – Ela disse, prendendo as mãos de Enid em suas costas e a levando dali.

— Visita? Sabe quem é? – Enid indagou.

— Não sou sua escrava, detenta. Da
próxima vez descubra por si só. – Divina disse friamente. — Nem todas as policiais aturam essas perguntas. Algumas são realmente más, entao procure nao falar com elas. – A policial alertou. — Enfim, é sua advogada e sua irmã.

— Obrigada pelo conselho. – Enid disse.
Caminharam o resto do caminho em
profundo silêncio e, quando finalmente
chegaram, a advogada fez questão de
deixar que soltasse Enid das algemas, e
assegurava que ela não era perigosa.

— Por onde esteve? – Enid perguntou
assim que a policial a soltou e se afastou. Sua irmã correu para seus braços e a abraçou fortemente.

— Eu realmente quis tirar férias do
mundo. A assistente social de Judie que
conseguiu me contatar através de um
amigo. – Falou, se separando do abraço.

— Judie ficará com você? – Enid
perguntou e Sophia suspirou, assentindo. Judie era filha de seu irmão mais novo, ele havia tido ela muito novo, porém a mãe da criança morreu na mesa de parto, logo após o nascimento da menina, desde então
Enid que ajudava a cuidar da criança,
junto com Sophia.

— Sim, não pude acreditar que mamãe fez isso. – Sophia disse paralisada, prendendo o choro. — Ela nunca havia feito nada mais do que nos agredir, mas isso há muito tempo. Nós deveríamos ter...

— Hey... – Enid disse, segurando sua
mão e olhou de relance para a advogada, que mantinha a cabeça baixa esperando o momento íntimo delas acabar. — Não dá mais para mudarmos isso, é melhor não nos machucarmos dessa forma. – A mais
nova assentiu cabisbaixa. — Como você
está?

— Como eu estou? – A irmã dela perguntou incrédula. — Você é que foi presa injustamente, não eu. Como você está? – Enid suspirou.

— É, mas você também perdeu um irmão.

— Você não precisa ser tão empática o
tempo inteiro, Nid. Eu estou me virando
aqui fora e eu vou te tirar daqui. – Sophia disse com determinação. — Essa é nossa advogada, Ally Brooke, perdão não lhes apresentar antes. – A mulher estendeu a mão para Enid e apertou de modo formal.

— Temos boas e más notícias para você,
senhorita. – A advogada Brooke anunciou. Enid analisou que ela vestia um conjunto social cinza, com uma blusinha branca por baixo. Sua saia batia um pouco abaixo do joelho e sua expressão era solene.

— Diga qualquer uma primeiro, pior do
que estou, só morrendo. – Enid disse
dando de ombros.

— Certo. A boa é que ainda nessa semana juntaremos provas o suficiente para te tirar daqui. – Ally disse, apoiando as duas mãos sobre a mesa de alumínio. — E a má é que, embora sejam uma família rica, a juíza decretou o próxima audiência somente em seis meses. – Os olhos de Enid se esbugalharam.

— O quê? – Exclamou atônita. — Vou ter que ficar seis malditos meses aqui?

— Infelizmente o julgamento já foi
finalizado e para reabrir o processo a fila é enorme, é fim de ano, temos poucos juízes neste estado, teremos que esperar. Não posso oferecer dinheiro, seria suborno. – Enid levou as duas mãos até seu rosto e meneou a cabeça, aflita demais para processar a informação.

— Virá me visitar com frequência? – Enid indagou à sua irmã.

— Vou dar meu melhor, com isso das
papeladas da Judie e meu trabalho, você sabe... – Sua frase morreu, contudo, Enid assentiu.

— Se não conseguir vir em menos de três semanas, pode me fazer um favor? – Sua irmã assentiu. — Compre um unicórnio enorme de plástico para nossa sobrinha. É o que ela me pediu de aniversário. – Enid disse tristemente. — E diga que foi presente da tia Nid.

— Tudo bem, agora precisamos ir, mas se cuida, maninha. – Sophia disse, dando um rápido abraço em Enid. — E se mantenha fora do alcance das garotas daí, são perigosas. Não diga a ninguém que você é rica e tudo ficará bem. – Enid assentiu e se despediram.

Quando a policial lhe colocou no pátio
novamente, a primeira coisa que Enid
notou foi o par de esferas escuras sobre
si e, instantaneamente, o aviso da policial Divina soou em sua mente: "Não a encare, ela não gosta."

Se não gosta, então por que fica encarando também? Pensou Enid, mas desviou os olhos mesmo assim, afinal, não queria brigas, muito menos em seu primeiro dia ali.

Presa Por Acaso - WENCLAIRWhere stories live. Discover now