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Enid sentia seu mundo cinza, desmoronando, doloroso. Uma dor
dilacerante inundava seu peito e ela estava decidida a acabar com aquilo.

Foi então que ela notou a presença de
alguém, porém quando se virou não havia ninguém, apenas um lindo arranjo de flores ao seu lado. Ela olhou em volta e não viu sinal de vida, apenas seu segurança conversando com a moça que vendia flores. Eles pareciam estar discutindo, mas Enid desviou a atenção para pegar as flores, inalando o perfume delas.

Era o arranjo mais lindo que já havia
recebido em toda a sua vida. Ela notou que havia um bilhete e o abriu, notando uma letra delicada varrendo as linhas do papel branco.

"Eu nem sequer te conheço, mas sua dor me contagia, me assassina, me corrompe e talvez doa em mim tanto quanto em você."

Não a conhecia? Se perguntou, achando
fofo a primeira parte do bilhete grande,
voltando seus olhos para a leitura.

Sei que se está aqui é porque provavelmente perdeu alguém próximo, tendo em vista a forma dolorosa como está chorando.

Ela voltou a olhar em volta, se perguntando se alguém a observava.

"Eu sei que você não sabe, mas você
me salvou sem nem saber quem eu era, e sei que isso não se compara com o que fez por mim, porém eu gostaria de retribuir. Obrigada por ter espalhado seu brilho em meu mundo escuro, agora você pode se sentir apagada, mas sei que em algum lugar aí dentro sua luz ainda está. Eu ainda a vejo."

Um sorriso triste nasceu nos lábios da
menor e um suspiro doloroso se esvaiu de seus pulmões.

"Trago essas rosas em sinal de meu
respeito e gratidão, não pelo luto. Por
ele te ofereço um abraço. Com carinho de alguém que sabe o quanto você vale."

Os olhos avermelhados olharam em volta confusa. No bilhete dizia que a pessoa oferecia um abraço, mas não havia ninguém ali. Ela viu que o selo das flores era igual aos da moça que discutia com o segurança. Decidida, ela se levantou e foi até ela no intuito de perguntá-la se ela vira quem lhe entregara as flores, mas o timbre ríspido do segurança para com a moça a fez se enfurecer.

O que está acontecendo aqui? – Enid indagou e o rapaz lhe fitou.

— Essa moça está vendendo flores sem a permissão do...

— Essa moça não está fazendo nada de
errado. Deixe-a! – Enid exasperou sem
jamais fitar a garota.

— Mas tenho ordens para...

— Para calar essa boca e me obedecer, a menos que queira ser demitido! – Enid
disse irritada, tendo seu buquê ainda em sua mão. — Meu pai morreu... – A garota de olhos escuros arregalou os olhos com a notícia, vendo a loira quase voltar a chorar, porém se manteve firme. — E você pensando nisso? Por Deus, dê o fora daqui e não volte a importunar essa garota. – O homem suspirou e assentiu, saindo dali.

Ela estava pronta para virar para a garota e perguntar sobre as flores, enquanto a morena estava pronta para dar os pêsames e agradecer, porém o celular de Enid tocou e ela atendeu, começando a chorar novamente ao conversar com alguém próximo. Ela saiu dali para prosseguir a conversa e Wednesday deixou morrer o "Sinto muito por seu pai." Em sua garganta,
vendo a silhueta da mais nova se afastar.

— Você pode não ter visto pelo meu
ângulo, Wednesday, mas naquele dia quem me salvou foi você. – Enid disse, deixando seu polegar arrumar a sobrancelha bagunçada de Wednesday.

— Te salvei como?

— Eu estava meio cega de dor e estava a ponto de cometer uma loucura. – Enid
confessou. — Ainda tinha minha mãe...
Não sei, eu não raciocinava direito, mas
você me fez lembrar que meu pai gostaria que eu fizesse algo de bom no mundo. Como faria se tirasse a minha vida? Não sei se fui útil de lá para cá, mas...

— Você ter ficado viva fez minha vida
ter mais alegria e você não faz ideia do
quanto minhas palavras são verdadeiras, Enid...

— O que ainda esconde de mim, hm? – Enid perguntou ao ver o desespero no tom de voz da morena.

— Quanto mais eu digo, mais frágil me
sinto... – Wednesday confessou e Enid encostou seus lábios nos dela demoradamente, porém com toda a doçura de si.

— Não precisa ter medo de me dizer
as coisas... Eu jamais faria algo para te
magoar ou prejudicar, Wed. Ainda mais
agora, após saber que aquelas flores
vieram de você. – Enid disse baixo e
encostou sua testa na de Wednesday.

— Você é tão importante para mim... –
Wednesday confessou, fazendo Enid sentir seu estômago se revirar e uma enorme felicidade ser irradiada de seu interior.

— Não deveria me ver com heroína de sua vida pelas pequenas coisas que me contou que fiz. – Enid disse.

— As enormes coisas que você por mim
não se comparam com a maior de todas, a parte que não te disse... – Wednesday falou. — Você já fez mais por mim do que qualquer outra pessoa do mundo e sabe qual é a parte mais linda?

— Qual?

— Você sequer me conhecia. – Wednesday falou e Enid projetou um sorriso tímido em seus lábios.

— Eu pensava em suas palavras sem saber que era você. – Enid disse rindo. — O quão irônico o universo pode ser nos fazendo conhecer uma a outra anos mais tarde, hm?

— Irônico a ponto de nos colocar sob o
mesmo teto. Sua teimosia ajudou também nisso... – Wednesday disse rindo e Enid fingiu desapontamento.

— Como ousa? – Indagou. — Você que ficava me olhando paralisada, oras. Culpe seus olhos então.

— Por quê?

— Porque você me secava com o olhar e eu comecei a prestar muito atenção em você por causa disso. Você me deixa intrigada... – Enid disse, arrastando os dentes pelo lábio inferior de Wednesday.

— Você foi admirada por mim por anos,
como queria que eu não te olhasse? Céus, eu queria pular um cima de você e te pedir um autógrafo, perguntar se estava bem, mencionar que você estava trezentas vezes mais linda do que eu me lembrava...

— Uau... Alguém está deixando a máscara de durona cair por completo. – Enid disse rindo e Wednesday suspirou, analisando o rosto delicado em frente ao seu.

— Eu nunca quis te esconder as coisas,
mas... É preciso.

— Por quê? Não confia que possa
guardar um segredo? – Enid indagou
curiosamente.

— Confiaria qualquer coisa em suas mãos. – Wednesday disse, lhe olhando com adoração. — E é exatamente por isso que aos pouquinhos estou te contando as coisas.

— Não tenho pressa então. – Enid falou,
se aconchegando mais nos braços da Addams — Desde que eu tenha você para dormir comigo eu realmente não tenho pressa.

— Quem sair primeiro dessa prisão
leva a outra na mala, tudo bem? – Wednesday  perguntou rindo e Enid assentiu.

— Combinado. – Enid disse sorrindo,
sentindo os lábios macios de Wednesday voltarem a se encontrar com os seus.

O gosto da paixão parecia tão bom que ela não ousaria desperdiçar.

Presa Por Acaso - WENCLAIRDonde viven las historias. Descúbrelo ahora