CAPÍTULO DOIS | Por um Bem Maior

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_Acha que não penso o mesmo? - era a vez de ele respirar fundo - Não fomos nós quem criamos essas leis. Vivemos sob um código que precisa ser cumprido; por mais que eu deteste admitir, o Conselho só este pressionando por que a Organização precisa de um líder, de um Don no controle ou o caos reinará; principalmente tendo em vista como tudo aconteceu. Até agora conseguimos manter outras Organizações sob controle, afastadas das nossas operações - assegura - As poucas dissidências que surgiram; foram sufocadas, mas a história do combate entre Santoro e o próprio irmão já corre o mundo e nossos inimigos logo estarão batendo à nossa porta, Valentina.

_Mais? - questiona tentando ser irônica.

_Mais. - ele confirma - Se eu não conseguir negociar por mais tempo, terei que cumprir a minha parte desse trato - ele afirma, falando mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa e lança um olhar intenso para a mulher a sua frente - Valentina - ele começa - Você entende que caso Sarina realmente aceite seguir adiante com essa loucura, toda essa coisa de casamento será apenas uma formalidade, não entende? - ele tenta se aproximar dela abrandando o tom de voz - Você sabe que eu jamais sequer poderia pensar em tocar na Sarina ou em qualquer outra mulher...

_Gabriel! Pelo amor de Deus! Não comece novamente com isso - ela o corta - Claro que sei que será só uma formalidade! - diz sem deixar que conclua sua declaração de amor e fidelidade a ela - Sei muito bem até que ponto vai a sua lealdade aos Ricceli, Gabriel. - ela o provoca - Mas até você sabe que qualquer homem que sequer ousar pensar em tocar na Sarina será um homem morto, assim que Santoro se recuperar.

_Não estou falando só sobre eles, Valentina. - ele insiste - Estou falando sobre nós; sobre a nossa situação.

_Não existe "nossa situação", Gabriel. - ela se recusa a admitir - Eu somente seria só mais uma das obrigações que você teria que cumprir para a Família e para os Ricceli, mas o nome da sua "obrigação" mudou; agora você terá que reivindicar a Rina e não a mim - diz contrariada - Somos só peças no jogo sujo de vocês...

_Valentina...

_Nem comece com esse assunto, Gabriel. - ela revira os olhos - Até porque, agora já é tarde demais, a coisa toda já mudou completamente e seu trabalho agora é outro. Porque você está demorando tanto aqui dentro? Quanto tempo mais acha que conseguimos manter a Sarina fora do hospital? Resolvam logo isso e pronto! - ela falava fazendo parecer fácil - Quando Santoro acordar; e vai acordar, isso tudo será anulado e voltaremos ao normal - um longo suspiro - Se bem que, levando em consideração essa maldita família, nem dá para saber...- mais um novo respirar fundo.

_Você acha que para mim é fácil chegar lá fora e reivindicar a mulher do meu melhor amigo como esposa e bem na sua frente - ele questionou a olhando dentro dos olhos - Tudo isso depois de tudo o que dissemos e fizemos? Que tipo de homem acha que eu sou, Valentina? Acha que sou de ferro ou de gelo?

_Não, Gabriel, sei que é tão de carne e osso quanto eu, mas sei também que você fará de tudo para o bem dessa família e nesse momento, o melhor para essa família é que você cumpra com o que prometeu.

_E nós, Valentina?

_Não existe, "nós", Gabriel. Não existe, nem nunca vai existir. Assim que Santoro se recuperar e Sarina estiver de volta a seus sentidos, retornarei para minha vida no Brasil ou nos Estados Unidos, para ajudar minha família e vou esquecer que os Ricceli existiram.

_Vai esquecer de mim, também Valentina? Assim, fácil?

_Gabriel...por que você insiste em se machucar dessa maneira? Não vê que o que você quer é impossível?

_Só é impossível porque você quer assim, Valentina. - ele declara - Mas numa coisa você tem razão, insistir nesse assunto no momento é perda de tempo - Gabriel tenta retomar o controle e voltar a ser a pessoa centrada que pensa e age conforme o esperado - Deixe-me tentar mais uma vez conversar com o Conselho. - disse coçando a cabeça se sentindo encurralado - Enrico ficou de nos trazer mais boletim médico e espero que tenhamos melhores notícias. - Gabriel passa a mão pelo rosto - Se eu conseguir segurar mais alguns meses essa deliberação dos velhos... - era aquela oração de todos os dias. Seu pensamento constante. Dar mais tempo a Santoro para se recuperar e reassumir seu posto e sua vida e evitar que ele tivesse que abrir mão da própria vida para ter que cumprir seu juramento.

Mais uma vez ele estava sendo obrigado a tomar decisões de extrema importância e passar por cima de seus próprios interesses e por mais que toda aquela situação fosse insustentável para ele; para Sarina era mil vezes pior: ela tinha visto seu marido e amor de sua vida ser levado sangrando de dentro de casa, alvejado pelo próprio irmão, enquanto estava grávida. Mesmo em seu delicado e avançado estado de gravidez, ela acompanhou Santoro aos prantos e completamente transtornada até a clínica e teve que ser arrastada praticamente à força de cima dele, para que ele pudesse ser devidamente atendido.

Seus gritos diante da porta da sala de cirurgia podiam ser ouvidos da recepção, do outro lado do longo corredor que ligava as duas alas, mas ela pouco se importava. Enrico e sua equipe trabalhavam furiosamente para salvar a vida de Santoro, mas todo aquele estresse foi demais para ela e Sarina também teve que ser hospitalizada. Sua pressão subiu tanto, que temeram pela vida da mãe e da criança e o bebê precisou ser retirado. - Gabriel recordava com um respirar fundo - Na mesma madrugada negra, marido e mulher eram atendidos; ambos lutando com a morte e o bebê deles sendo obrigado a vir ao mundo prematuramente. Tudo por culpa da ambição sem limites daquele maldito sádico do Fabrício...

Gabriel rezava todos os dias e trabalhava dia e noite para manter tudo sob controle esperando que seu Don e melhor amigo se recuperasse. Seu filho nascido prematuramente e agora livre de perigo esperava para ser criado por ele e Gabriel torcia que as projeções médicas se confirmassem. Recordou de uma conversa dias antes, no seu "arremedo de escritório" no hospital:

"...

_Santoro é osso duro de roer meus amigos, ele vai se livrar dessa também! - Enrico dizia, tentando injetar um pouco de ânimo - Da última vez, todos achavam que ele estava acabado e depois de dois meses, ele acordou.

_Só que já fazem três meses, estamos caminhando para o quarto - Enzo lembrava cruzando os braços na frente do corpo - Por sorte o menino se recuperou, se não tivesse sobrevivido também...

_ Nem diga uma coisa terrível dessa! - Valentina dizia.

..."

Aos olhos do Conselho, Valentina seguia sendo a esposa de um traidor foragido, deveria estar presa e isolada em algum lugar, mas quem teria coragem de fazer isso diante dele ou de Sarina? Gabriel jamais permitiria que tocassem em um fio de cabelo dela; não só ele, todos na mansão reconheciam o quanto o apoio dela estava sendo decisivo para superar aquela fase negra que atravessavam.

O pequeno Salvatore Ricceli finalmente havia recebido alta e, mesmo assim, Sarina não saía do lado do marido. Antes, se dividia entre a ala neonatal, montava exclusivamente para atender ao pequeno Don e a UTI, onde Santoro seguia em coma. Como ela se recusava a sair de perto do marido, tiveram que montar um míni apartamento dentro da clínica para que ela ficasse mais confortável; principalmente porque estava passando pelo pós-parto mais estressante do mundo - ele pensava - Segundo a avaliação dos especialistas que a assistiam, era até melhor que ela estivesse mesmo na clínica, qualquer complicação, seria mais rápido de socorrê-la e Sarina parecia prestes a surtar a qualquer momento.


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TRILOGIA STRANI AMORI | LIVRO DOIS - Consigliere : GABRIELWhere stories live. Discover now