CAPÍTULO TRÊS | Como uma bomba relógio

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Valentina e ele estavam praticamente assumindo os cuidados com a criança, uma vez que Sarina se encontrava decidida a não sair de perto de Santoro, mas também não queria ficar longe do filho. Já haviam tentando argumentar que seria melhor mandar o pequeno para a mansão; lá, Dona Sofia ou até mesmo Maria, sua mãe, poderiam com o auxílio dos empregados, cuidar do bebê, mas Sarina não queria ficar longe nem do filho, nem do marido.

Durante todo aquele tempo Valentina não saia de perto dela. Os demais membros da família também demonstravam todo seu amor e seu apoio: dona Sofia, sua mãe, Maria e Vitinho também vinham visitar todos os dias. Ele, claro, também dividia sua vida entre a mansão e a clínica; não só por Santoro e Sarina ou pelo pequeno Sal,; mas, principalmente, para ficar perto de Valentina que quase não saia do lado da amiga, nem de perto do bebê. Até na possibilidade de tomar medicamentos para incentivar a lactação e ela mesma amamentar a criança, Valentina havia pensado; já que devido a sua frágil condição, Sarina não estava conseguindo amamentar o filho. Felizmente o que não faltou foram mulheres da aldeia dispostas a doar leite materno para o pequeno príncipe da máfia e essa medida extrema não precisou ser tomada.

Diante de toda aquela situação, Gabriel transformou um dos consultórios em escritório e "acampou" por lá. Várias vezes ele mesmo, no meio da noite, pedia para ficar um pouco do lado do amigo e mesmo que apenas por hábito pesava relatórios do que estavam fazendo e de como andavam as coisas na Famiglia. Para alguns poderia parecer bem estúpido, mas bem fundo em seu coração, tinha esperança de que seu amigo, de alguma maneira o escutava e queria assegurar a ele de que estava tentando o seu melhor para manter as coisas em ordem.

Ele recordou do dia em que Sarina o havia procurado em seu "novo escritório" no hospital; muito alterada, ela começou a falar sobre o que havia ouvido dos planos do Conselho de alguma enfermeira sem noção e foi até ele, decidida a defender o lugar de direito de Santoro a qualquer custo. Primeiro ele quis socar a pessoa que tinha deixado vazar mais aquela informação crítica para ela, arriscando que tivesse mais um colapso; mas depois, ao ver como se mostrava decidida e inflamada a defender o marido, quase agradeceu. Pelo menos ela estava demonstrando algum tipo de reação que não fosse dor e tristeza.

Ela havia concordado em deixar o marido apenas para enfrentar o Conselho, que estava pressionando Gabriel para declarar Santoro oficialmente incapaz e determinar a escolha de um novo Don. Claro que ele preferiria levar um tiro e ficar ele mesmo em coma antes de fazer aquilo, mas se surpreendeu ao ver como Sarina parecia surpreendentemente focada, para a gravidade da situação, ao conversar com ele sobre o assunto.

Ela lançara sobre ele seus olhos míopes, ajeitando os óculos e secando as lágrimas com as costas das mãos. Ultimamente, era praticamente impossível ver Sarina sem que ela estivesse chorando ou secando as lágrimas. Mas naquele momento ela respirou fundo, olhou séria para ele e exigiu que cumprisse a promessa que fizera ao marido e reivindicasse o comando da Organização em nome do pequeno Salvatore.

_Precisamos fazer tudo para evitar que outro Don assuma, Gabe! – ela pedia emocionada – Santoro está lutando para voltar para nós, tenho certeza – dizia emocionada - O que vamos dizer a ele quando ele acordar e descobrir entregamos o poder a outro, depois de tudo o que passamos; depois de tudo o que ele sofreu por essa Organização? Vai mesmo deixar que outro membro do Conselho se autoproclame Capo di Tutti Capi e me tome como esposa troféu dele? – ela argumentava.

_Não. – ele protestou veementemente – Pelo amor de Deus! Claro que não! Qualquer um de nós está disposto a morrer pela Famiglia se preciso for! – ele assegurou – Iremos à guerra, mas nenhum homem jamais tocará você, Sarina. Você é e sempre será a esposa de Santoro. – ele engolia em seco – A simples ideia de você sendo reivindicada por outro me causa arrepios. – ele se colocava no lugar do amigo, imaginando outro dos membros do Conselho reivindicando Valentina para si, preferiria ser esfaqueado até a morte antes disso - Sei o que está pensando, Sarina, sei que acredita que esse acordo, esse juramento é a única saída – ele falava segurando seus ombros com delicadeza - Mas você entende o que implica cumprir essa promessa que fiz a seu marido? Sabe o que realmente isso vai significar? Por favor me deixe tentar argumentar mais uma vez, ganhar mais tempo...- ele dizia sério, tentando evitar olhar na direção de Valentina, que assistia a tudo embalado o bebê no colo. Enquanto deliberavam sobre seus destinos, ele admirava as curvas esculturais de seu corpo, as ondas sempre impecáveis daquele cabelo dourado perfeito dela e a doçura com que ela segurava o sobrinho nos braços. Ele admirava aquela mulher fantástica carregando Salvatore no colo e era incapaz de não sonhar e ansiar que aquele bebê pudesse ser dela e dele e não de Santoro e Sarina.

_Gabriel, ao contrário desses outros homens que além do poder, também com certeza vão querer outras coisas de mim... – ela dizia constrangida – Sei que posso confiar inteiramente em você e que você não vai tentar nada como isso. Todos nós sabemos que você tem outras coisas em sua mente, nesse sentido – ela lhe dizia olhando um pouco sem graça na direção de Valentina – Além disso, tenho medo que esses homens que estão pleiteando ser o "Novo Don" façam mal ao meu Salvatore para que ele não questione a liderança quando estiver adulto – argumentava com coerência – Não nasci nesse mundo, mas já estou por aqui por tempo suficiente para saber que é bem possível que não queiram que meu filho permaneça vivo. – dizia com estranha calma – Se o que é preciso fazer é casar com você, eu caso. Não vou permitir que nada de mal aconteça nem a Santoro, nem ao nosso filho! – dá uma pausa – Já bastam todas as desgraças que o maldito do Fabrício causou! – diz zangada – Espero que ele esteja queimando no lugar mais quente do inferno nesse momento – ela desejou.

_E que os espetos do diabo estejam bem afiados, amiga! – Valentina completava, sem parar de brincar com o bebê.

_Vamos esperar que não seja preciso chegar a estes extremos, Sarina.

_Gabriel, você sabe que os membros do Conselho já andam se encontrando às escondidas e deliberando "nomes" de possíveis substitutos para Santoro? – ela pergunta pondo as mãos na cintura e surpreendendo o Consigliere.

_Onde você ouviu isso?

_Entre as auxiliares de enfermagem. – ela responde – Elas acham que estou louca de dor e tristeza e comentam como poderei ser de alguma serventia para o novo Don, estando assim doente e louca como eu estou... – ela repete as palavras maldosas que havia escutado, mas que tinham servido para fazê-la entender que já era hora de deixar de ser trouxa.

_Quem disse um absurdo destes a você? – Gabriel estava indignado - Quero nomes. Essas pessoas serão imediatamente afastadas daqui.

_Não vai conseguir calar todo mundo, Gabe. – Sarina retruca com uma serenidade totalmente fora do comum naqueles dias sombrios – Elas não deixaram de dizer a verdade... Estou mesmo louca de dor, de tristeza, de frustração por não ter podido acabar com a raça do Fabricio eu mesma. – enumera - Cheia de raiva, angústia e desespero por ver Santoro naquela cama, cheio de aparelhos... – diz e os olhos voltam a se encher de lágrimas - Ao mesmo tempo que me invade um amor maior que o mundo por causa do meu filho e um medo enorme...- ela diz olhando para o filho – Eu lembro de ter passado muito mal quando ouvi meu Santoro falando com a Fifi sobre as barbaridades que aquele desgraçado tinha feito - fez um muxoxo de desprezo – Pensei que jamais havia me sentindo tão mal...coitada de mim, nem sabia o que me esperava... Lembro de que a única coisa que me deu uma força mínima para, pelo menos chegar ao andar de cima foi pensar no meu bebê...No filho que eu e ele comemoramos tanto que chegaria, que estávamos esperando com tanta alegria... – admite com amargura – Agora sou como uma bomba relógio caminhando pelos corredores desse hospital, Gabe e se não tomarmos alguma providência para resolver essa coisa de "reivindicação do Conselho" e essa gente não deixar a mim e a minha família em paz, eu realmente vou explodir.


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TRILOGIA STRANI AMORI | LIVRO DOIS - Consigliere : GABRIELWhere stories live. Discover now