Capítulo IV

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Stiles

O amanhecer não parecia nenhum pouco reconfortante naquele dia. Saímos com o sol despontando no horizonte enquanto deixávamos Beacon Hills e Scott com um corpo  em cima do vidro do carro. Ah, como a vida de um Rei Lobisomem era tranquila e confortável!

Fiquei observando as nuvens e as árvores passando pelo vidro enquanto Derek dirigia o mais rápido permitido sentido os Sacerdotes de Lycaon. Isaac estava silencioso no banco de trás e tive a impressão de uma lágrima escorria pela sua bochecha, mas que ele tratou logo de secar quando notou que eu reparava, esboçando um sorriso forçado.

Reparei que Derek estava tenso tanto quanto eu. Era óbvio que deveríamos correr o mais rápido possível em busca de respostas e meus instintos gritavam dentro de mim com uma necessidade extrema de voltar para Beacon Hills naquele mesmo instante. Parecia que algo estava me alertando que problemas grandes estavam a caminho (e não, não era sobre o corpo que caiu do céu). Era algo intrínseco dentro de mim, assim como respirar ou piscar, era como uma coisa automática que insistia que meu corpo se movimentasse.

Recostei minha cabeça na janela e tentei respirar fundo o suficiente para sentir o oxigênio preencher e deixar meus pulmões. Senti que a adrenalina da situação mais cedo estava cedendo e que meus olhos começavam a ficar pesados. Deixei que o sono me dominasse e adormeci com uma respiração mais suave e relaxada. Mas não dormiria por muito tempo.

Senti que meu corpo flutuava no ar, como se eu estivesse voando. Aos poucos a escuridão foi sendo substituída por uma visão de um campo de batalha. O campo estava aos pedaços e a poeira estava levantada. Eu conseguia ouvir uivos e um outro som estridente ao qual não conseguia identificar. Enquanto observava aquela cena horrorosa de corpos se despedaçando e sangue sendo espalhado, tentei identificar quais eram as criaturas que eu enxergava. Será que era uma visão do futuro ou do passado? Do que se tratava aquilo?

– Temos que fazer alguma coisa a respeito disso, milorde! – Uma voz grave e desesperada puxou meu corpo para um outro cenário.

Ali na minha frente estava o próprio Lycaon ao lado de um jovem que estava sujo de sangue e com as presas a mostra. Era um lobisomem assim como o primeiro Rei e parecia completamente desesperado com o que fazer naquela situação. Parecia estar falando sobre a cena de batalha que eu tinha visto há pouco.

– O inimigo é muito poderoso... – o jovem falou quase sussurrando.

– Eu sei disso, Ponthos – Lycaon vociferou fazendo com que seus olhos brilhassem de cobre. – Mas o que eles querem afinal?

O suposto Ponthos deu de ombros e jogou seu corpo no chão, deixando o cansaço pesar em seus joelhos.

– Não sei, milorde... Eles só estão nos matando sem precedentes. Começaram com ataques pequenos e agora isso!

– Envie um mensageiro para o acampamento deles com uma escolta. Peça que solicite uma audiência com a liderança deles em prol da paz... Diga que eu mesmo irei ouvir o que eles querem de nós – o jovem se levantou e fez menção de que falaria alguma coisa, porém Lycaon levantou uma das mãos pedindo que ele se mantivesse em silêncio (eu queria ser mais assim com minhas ordens, geralmente eu preciso gritar, uivar ou me exaltar para ser ouvido, principalmente pelos mais próximos de mim).

Lycaon ficou em silêncio por um tempo como se estivesse pensando no que iria fazer e então deu as costas para Ponthos observando as grandes vidraças atrás de seu trono.

– Chame os Sacerdotes, peçam que preparem o Ritual de Pandora – o Rei Lobisomem disse por fim com uma voz pesada.

Você tem certeza disso, majestade? – Ponthos perguntou deixando a insegurança transparecer mais do que talvez ele desejasse. – É um ritual perigoso e que pode dar muito errado... E se os deuses se sentirem furiosos novamente com o senhor.

– Eu duvido que os deuses irão se contrapor a acabar com uma ameaça sanguessuga como essa. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance...

Antes que eu pudesse ouvir mais tudo foi escurecendo novamente e a visão de Lycaon com as rugas de preocupação na testa ficou frisada na minha mente. Senti que alguém me chacoalhava enquanto a visão do dia ensolarado ia se focalizando lentamente na minha frente. Eu estava confuso, mas logo consegui ver que Derek me cutucava com um sorriso charmoso no rosto, que combinava perfeitamente com seus olhos claros. 

– Chegamos, amor – ele disse com um tom de voz calmo.

– Por quanto tempo eu dormi...? – Perguntei um pouco dopado de sono.

– Tempo o suficiente – ele respondeu com uma risadinha brincalhona. – Isaac foi avisar os Sacerdotes, eles já estão esperando por você. Parece que eles tem alguma ideia do que estamos enfrentando...

Por alguns instantes fiquei sustentando o olhar de Derek enquanto o sonho repassava em minha mente.

– Acho que eu também – respondi por fim. 


🐺🐺🐺

Scott


Não demorou muito para que Deaton chegasse até nós. Enquanto isso o jovem loiro não se mexeu nem um pouquinho, mas continuava respirando e com o pulso estável. Quando ele chegou mal me cumprimentou e começou a averiguar o estado do rapaz. Ele parecia compenetrado e tentei não falar muito enquanto ele verificava tudo. Seu olhar parecia tenso, mas com o tempo foi relaxando e então deu um sorrisinho aliviado.

– É um lobisomem e está se recuperando – Deaton disse com calma. – Vai sobreviver, mas deve demorar um tempo para conseguir acordar.

– Pelo menos ele está bem – falei por fim. 

Deaton colocou as mãos na cintura e analisou o ambiente em volta.

– Precisamos tirar ele daqui antes que alguém apareça e comece a fazer perguntas.

Dei uma risadinha imaginando como seria a situação e concordei com a cabeça. Juntos colocamos o corpo do jovem lobisomem com todo cuidado no banco de trás do carro de Deaton e o deixamos o mais confortável possível. Disse para ele que poderíamos levar ele para a clínica que estávamos improvisando para atender as criaturas sobrenaturais da cidade quando ouvi passos vindos da floresta.

Respirei fundo para ver se reconhecia o cheiro que preenchia o ar. Era um odor doce e ao mesmo tempo um pouco salgado, eu sabia muito bem de quem era.

– Malia! – Comemorei quando a vi saindo da mata. – Até que enfim!

– Scott! – Ela disse e começou a correr até o meu lado para me abraçar quando parou e viu meu carro destruído alguns metros de distância e então arqueou sua sobrancelha. – Scott?

Levantei as mãos na intenção de lhe tranquilizar e dei um sorriso descontraído.

– Está tudo bem, foi só um lobisomem que caiu do céu, nada demais – disse tentando parecer engraçado com a situação.

Ao contrário do que eu esperava ela pareceu ainda mais intrigada e então notei que mais alguém saia da mata indo em direção a ela. Era outro lobisomem, com um cheio de milk shake e bata frita de lanchonete de estrada. Ele era jovem e tinha um rosto assustado, com cabelos em um tom de castanho amendoado e as roupas esfarrapadas.

– Engraçado – Malia começou a dizer apontando para o rapaz –, eu também acabei de achar um lobisomem caindo do céu.


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⏰ Last updated: Jan 27, 2023 ⏰

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