22. Esqueça-me, se puderes 1.2

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        Time ouvia de novo aquela canção e sofria de novo. Por que Jon não disse que o amava antes?  Não. Ele não lembra mesmo de tudo o que o namorado disse que lhe fez. Depois da raiva. Despois de conversar com Rupert,  que era dos mais isentos nessa história, tinha deixado de se importar com o que o outro fez. O problema era a certeza que Jon não se declarou antes de saber que ele era um dos Quatro. Na sua mente há esse certeza de que se ele tivesse dito antes, jamais esqueceria.

         Ver Jon o cercando o adoecia porque ele via que ele estava quebrado,  mas a voz que entrava em seu sonho no hospital ainda se repetia: " Ele era livre para ir até hoje, Kinn." Para Anakinn essa era uma declaração de amor. Para Time uma declaração de responsabilidade. E ele quer ser amado e não ser um herói eternizado,  sendo que dentro dele existia a certeza de que ele não era nada digno ou heróico.

         Flores! Jon lhe enviou muitas. Doces. Livros. Convites para passeios. Mensagens que ele não abria,  mesmo que já tivesse desbloqueado o namorado. E tinha a aliança que ele não achava. Procurou no carro. No apartamento. Na casa de Rupert.

         Já tinha voltado a comer,  embora ainda não consiga dormir sentindo falta do calor do outro.  Os pijamas de Jon,  que ele trouxe,  já perderam seu cheiro. Era a sensação de tê-lo por perto que o adormecia antes. Agora, cheiro desgastado, a roupa era só por lembrança que ainda era usada. 

          Rupert veio para irem andar com Tay e Pete e eles estão de novo onde sua vida mudou. Não quis voltar àquele espaço desde o acidente. As pessoas que antes passavam por ele, indiferentes, vieram conversar e elogiar sua atitude. Ele sorri,  sem graça.  É uma farsa. Sempre um falso herói. Lembra da história que Joom Boom conta para explicar sua atitude heróica. Nem ela o seduz. Cada dia que seu sorriso aumenta, seu coração diminui. A falta que Jon faz é insana,  mas ele só o quer se ele de verdade o ama. Falta isso. Falta ele acreditar que o amor jurado e que ele sabe ser verdadeiro,  não nasceu de sua gratidão.

         Amor por gratidão é o mesmo que desejo por piedade. Ele quer viver um amor real. O amor que ele julga  ter direito. Não quer nada descartável.  De ilusão e mundos alternativos viveu até agora.

         Depois do acidente. Depois do enterro de sua mãe e da despedida dos amigos da infância, ele entendeu muita coisa,  mesmo as que não lembra. Ele perdoou os irmãos e está tentando viver apesar da indiferença deles. Aprendeu entender o pai, mesmo que não aceite todas suas atitudes. Entendeu a madrasta voltar para ele, depois que a sua mãe se foi.  Mas entendeu principalmente que não vai viver de ilusão e sentimentos construídos para proteger a crueldade da realidade. Porque sim. Para ele, mesmo que não lembre de nada de antes do sequestro do pequeno,  no parque, tudo o que Jon fez tinha um propósito e por mais que não concorde, ele aceitou receber o que lhe foi oferecido. E se aceitou, mesmo sem conhecer a motivação à fundo,   também é responsável e por isso já perdoou.

         O que ele nunca vai perdoar é Jon o amar só por gratidão. E por isso aceitou o tratamento do pai de Rupert. Ele sabe que depois da Terapia vai esquecer tudo e vai voltar como uma folha em branco. Ele tomou algumas providências, sem que Tay e Rupert saibam. Criou seu livro de memórias.  Ali estão relatos da amizade dele e Tay. A história de amor de Tay e Tem. Os retratos e histórias de Tankhun e recordações de Jon. Sem mentiras. Sem marcas negativas. Só as lembranças de um amor que para ele foi verdadeiro e que acabou. Porque se ele perder a capacidade de amar ao deletar   as falsas  memórias, não vai sentir-se horrível por nunca ter amado alguém.

         Estava arrumando a mala, quando descobriu algo.

         -  Time, está levando tudo?

My Bitter Poison     #JonTimeWhere stories live. Discover now