VIKTOR

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A conversa com eles foi revigorante, era horrível esconder isso. Uma pena que guardamos esse segredo por tanto tempo e agora as meninas foram levadas. Desse modo, depois de explicarmos detalhe por detalhe para eles, enquanto Peter era tratado e ia acordando, fomos bolando um plano. Eu e Mary explicamos como era o QG e como poderíamos invadi-lo. Arturo está me olhando com uma cara de puto, fico triste, pois, eu entendo ele, uma pena que foi assim. Mas sinceramente? Eu me importo mesmo com ela.

Eu perdi tudo desde que isso começou, assim como todos aparentemente, mas não quer dizer que é fácil. Lou trouxe o que eu perdi de volta de alguma forma. Eu estava perdido de mim mesmo, eu acho, era como viver no automático. Ela quebrou meu mecanismo e me trouxe de volta à vida. Louise não é nada fácil. Devo admitir que da primeira vez que a vi era tudo formulado, como era para me infiltrar, eu sabia como agir. Mas sabe como ela é, né? Qualquer plano foi para o céu. É o dom dela, conseguiu fazer com que eu ficasse perdidamente alucinado desde o início.

Algumas pessoas no fim do mundo perdem a fé, no meu caso antes mesmo desse apocalipse já era descrente. Descrente nas pessoas ao meu redor e no mundo mesmo, eram poucas as pessoas que eu me importava. Como pode uma pessoa viver em um apocalipse e continuar acordando todo dia tentando extrair o melhor de alguém? Mesmo ela não estando bem. Lou tira dela e coloca no outro sua energia, energia de não sei onde.

Em muitos momentos em que eu não sabia como agir ou pensar, ela literalmente me ajudou a chegar onde eu não chegaria só. Isso é o que Lou faz comigo, ela me tira de locais que eu nem sabia que estava, com um simples gesto, um sorriso, uma fala....

Eu tinha me esquecido do que era viver, e viver nunca foi tão bom quanto é ao lado dela. Louise é sinônimo de energia, apoio e amor. Nesse sentido, eu faria de tudo, de tudo para proteger ela, porque sinceramente? Sem ela aqui a vida não tem sentido. Eu não sabia o significado de porto seguro, até o dia que estávamos nadando no rio e eu levantei ela da água. Seus olhos entraram nos meus, e eu pude mergulhar naquele oceano que era sua pupila. Um oceano que eu podia explorar a vida toda e eu nunca cansaria de nadar por ele. Eu sou apaixonado por essa garota.

Agora eu estou aqui, desenhando um mapa do local enquanto forço meus olhos a não derramar uma gota d'água. O olhar dela para mim durante a discussão foi um dos piores que eu já senti na vida, pois o pior foi seu olhar depois da conversa. Durante o embate a expressão era de desamparo, traição e decepção. O que eu menos quero na vida é que eu aconteça a ela, e eu não vou exitar em protegê-la. Ver a sua face de decepção para a situação foi como se tivessem pego várias agulhas e enfiado uma por uma na minha pele. Eu sei que errei, mas eu fiz tudo unicamente por ela.

Logo depois da sua expressão de decepção eu achei que seria ódio, mas para minha surpresa, negativa, não foi. Pois o ódio seria melhor do que o que eu vi. Lou estava com um semblante de indiferença, face neutra. E eu sei que ela está sofrendo, isso me assusta. Se ela não quiser mais ficar comigo, simplesmente não sei o que fazer, obviamente quero lhe explicar melhor, mas ela vai me ouvir? Eu entendo ela já não querer mais olhar na minha cara, é só que é muito mais complicado do que parece.

"Então, a gente vai entrar por um buraco atrás do muro que vocês estão cavando faz um tempo?" Peter questiona enquanto segura um gelo na sua nuca depois de ter acordado.

"Isso. Já faz  um time que eu estava achando o local mais fácil de entrar e ninguém ver. Eu e Viktor começamos a cavar um buraco nesse local para atravessar os por baixo." Mary falou.

"Tem quantas pessoas lá mais ou menos?" Lou perguntou a Mary, obviamente não seria para mim.

"Cerca de 15 pessoas mais ou menos. Eles são bem treinados, precisamos entrar com cautela, trazê-las de volta com agilidade e rapidez. Existe uma enorme probabilidade de lutarmos com eles, e não só com eles como com zumbis. Haelena guarda zumbis para fazer experimentos com o DNA deles e também para jogá-los em inimigos." Mary falou.

"Ta com a porra essa mulher é uma maldita!" Peter disse.

"Não dá para ter sossego perto dela. Ela não vai pensar duas vezes antes de arrancar a cabeça de vocês com o machado dela. "

"O que faz você ter certeza que ela ainda não matou a minha irmã e a Bea?" Arturo questionou  baixo.

"Eu não tenho certeza disso. Mas pelo que conheço de Haelena, ela gosta do desespero e se alimenta da angústia. Ela sabe que vamos lutar por elas e vai segurar a morte até chegarmos lá. Quanto mais sangue melhor para ela."

"Ela  está fazendo isso por que motivo? Só poder?! Ela literalmente quer jogar humanos que restaram na morte para ter tudo só para ela? Em nenhum momento ela pensou que poderíamos nos unir?" Peter gritou puto batendo na parede.

"Para ela não se trata de união, sempre vai ter o subalterno. E ela não vai sujar as mãos dela jamais. Essas pessoas que estão com ela acreditam que ela vai achar essa cura aí e desenvolver um local seguro para morarem. Eles são praticamente cegos,  apenas seguem as suas ordens. Então, sim é pelo poder. Ela quer dominar tudo, junte-se a ela sendo seu serviçal ou morra."

Depois de explicarmos tudo, nós nos arrumamos para ir à guerra. Pegamos todas nossas armas e armaduras para invadir esse local. Não tínhamos tempo, quanto mais demorarmos, mais coisas ruins poderiam acontecer com a nossa família. Eles podem não me ver assim, mas eu vejo eles dessa maneira. O carro já estava com tudo praticamente, Arturo estava no volante, Peter no banco de trás e Mary arrumando sua moto. Era minha chance de falar com Lou que tinha entrado na casa para pegar alguma coisa.

"A gente precisa conversar." Falei apoiado na porta do quarto que ela tinha entrado impedindo a sua saída. Minha resposta é o silêncio, Louise continua arrumando sua mochila e não solta uma palavra.

"Por favor." Pedi suplicando e ela, ainda calada.

"Louise, não faz assim!"

"O que eu estou fazendo? Não to fazendo nada." Ela disse seca.

"Exatamente! Você não é assim, me bate, me xinga, me empurra, mas não me de o silêncio." Ela joga sua mochila na cama e vem até mim.

"Viktor, não temos tempo para isso."

"Eu não consigo ir sem me resolver contigo."

"Viktor, se a gente não estivesse junto talvez as meninas estivessem aqui agora, você me enganou e agora as minhas amigas podem estar mortas. A culpa é minha que cai nos seus papos." Lou falou jogando uma lanterna em sua bolsa.

"Eu errei feio, eu não devia ter mentido, mas eu tentei reverter a situação! Por favor, não faça isso."

"O que você quer de mim?!" Louise diz olhando nos meus olhos com ódio e tristeza.

"Eu quero que me perdoe, eu quero ficar contigo! Não vê que eu fiz isso tudo por ti? Eu sei que errei, mas por favor me dê mais uma chance." Falei sem respirar direito.

"Não é assim que funciona, Viktor! Não dá mais..." Ela diz baixo

"Como assim... não dá mais?" Louise olha para baixo e dá um sorriso entristecido, sua mão limpa algumas gotas de água que se acumularam no seu queixo. A cacheada me olha nos olhos com uma expressão não mais de raiva, nem indiferença, mas sim de perda. Um sentimento inebriante que fez com que tudo o que fazia sentido não fizesse mais, e um dia aquele local de admiração que eu tinha, tinha se esvaído junto com as poeiras acumuladas naquela prateleira velha. A garota pega na minha bochecha e alisa, fecho meus olhos e antes que eu me desse conta, as minhas lágrimas já mancharam a madeira escura e antiga do chão.

"Eu não consigo mais... não sei se posso confiar em você." Lou pega na minha pulseira de madeira que eu tinha dado para ela quando lhe pedi em namoro e tira devagar colocando-a na minha mão.

"E a gente?" Falei apertando minha pulseira fortemente. Lou se vira e pega sua mochila, seu corpo fica ao lado do meu e antes de atravessar a porta ela fala:

" Não tem mais a gente." Assim, ela vai até o carro sem nem olhar mais para trás. O que me resta é o nada, eu queria gritar, chorar alto, mas engoli tudo rumo a missão. Não, não vou desistir dela. Haelena que se prepare, porque ela tirou a única coisa que fez eu me encontrar novamente.

Lou, você pode me odiar, querer que eu morra, porém saiba que a última coisa que quis foi te machucar. E ainda vou te reconquistar, não desistirei nunca de você e de nós.

THE LAST ONES STANDING - CONCLUÍDA - APOCALIPSE AUWhere stories live. Discover now