ARTURO

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Faz cerca de 2 meses depois daquele dia. O dia em que eu perdi uma parte de mim, uma parte que deixou um vazio. Uma falta que eu nunca vou conseguir preencher de nenhuma forma. Em nenhum cenário da minha cabeça eu estaria vivendo isso aqui sem ela do meu lado. Eu prometi a mim mesmo e aos meus pais que nada de ruim aconteceria com as pessoas que eu amo, principalmente com a minha irmã gêmea.

Lembro-me de quando éramos crianças, Claire passava o dia enchendo o meu saco. Na verdade não só quando crianças, como quando crescemos também. A garota passava o dia esgotando a minha paciência. Nós nos provocamos muito, todos os dias para ser exato, mas claro que nessa competição ela ganhava. Me tirava do sério por completo. Lembro-me de uma vez que eu era mais novo e gostava muito de uma atriz mirim de uma novela e Claire tinha visto ela no shopping e simplesmente pediu para a garota gravar um vídeo para mim dizendo:

"Oi, ArrrRRRtttuuuRo, soube que você invadiu minha festa de 15 anos. Obrigada pelo carinho e um super beijo!"- sotaque da fer

O pior da história é que eu realmente invadi aquela merda, já que na minha escola eu tinha um amigo que fazia parte do elenco e me deu um ingresso. Como a porra da minha irmã ousou falar para ela, juro. Vou me vingar. Vingança... Sempre falei muito que ia me vingar dela, todavia era praticamente impossível, posto que ela sempre dava um jeito de sair por cima. Agora então... Nunca vou mais dizer que quero me vingar dela e vê-la sorrir com superioridade sabendo que é difícil disso acontecer. Nunca mais vou ficar batendo na porta do banheiro para apressá-la no banho. Nunca mais vou com ela colher morango na floresta. Nunca mais vou deitar em seu colo e receber cafuné. Nunca mais vou me irritar com suas provocações, como eu queria uma dessas hoje.

A verdade é que tudo isso agora é lembrança, e meu único e verdadeiro porto seguro, no qual eu me prendia 100 por cento se foi com uma poeira ao vento. O que me resta é um vazio composto de saudade. Uma saudade latente que me consome mais a cada dia. Sentado na cama, observo uma caixa de madeira escura na minha frente que fica dentro do meu quarto. Desde de tudo o que aconteceu passei basicamente esses dois meses inteiros trancafiado nesse cubículo. Sinto que virei parte da decoração do ambiente, um mero objeto sem energia, sem esperança de vida.

Tiro forças de não sei onde e pego o pequeno recipiente que ganhei do meu avô com as mãos trêmulas. Aqui ficam as únicas coisas que eu ainda tinha de antes. Relutante, abri a caixa. Um misto de angustia, dor e tortura se instaura em mim instantaneamente, vejo uma foto, primeiramente, da minha familia. Eu, Claire e nossos pais no natal, lembro-me de que nesse dia eu ganhei um skate que meu pai prometeu me ensinar a como andar. Detalhe que ele nem sabia usar, mas mesmo assim tentou, né? Resultado, quebrei minha perna. Dou um riso baixo e melancólico segurando o pedaço de papel, em seguida, vejo uma outra foto, dessa vez minha e de Claire. Nessa imagem nós estávamos na nossa formatura da escola e nossos pais mandaram a gente tirar a foto e na hora que a contagem acabou, Claire mordeu meu ombro. Essa garota era foda namoral.

Tinham mais algumas coisas, porém uma última me chamou atenção. E dessa vez não era mais possível conter as lágrimas que eu tanto segurava e impedia de cair. O colar. O famoso colar de Claire que Bea jogou em mim no dia que tirou a vida da minha irmã. Ainda escuto seus gritos de dor e sua face ensanguentada em meus pesadelo, os quais eu tenho todos os dias sem exceções. Eu vejo como se fosse um filme passar, ela sendo mordida, e eu ali, sem fazer nada, sem conseguir protegê-la como eu prometi a eles e a mim mesmo. A culpa deteriora meu corpo.

A tristeza mudou para raiva num estalar de dedos, segurei meus cabelos e joguei a caixa forte na parede lhe espatifando por completo soltando um grito de ódio. Depois que me toquei do que aconteceu, me joguei no chão duro e comecei a juntar as peças, mas sem forças. Olhei mais uma vez para tudo partido no chão, as fotos, objetos e memórias quebradas na minha frente. Me encostei na parede e segurei forte no seu colar, o qual ainda possuía manchas secas de seu sangue.

"Por que não fui eu?" Perguntei olhando para o objeto enquanto as lágrimas escorriam como um rio manchando minha camisa. Era para ter sido eu, e eu nunca vou suportar ficar vivo aqui sem meus pais, sem ela. Eu vivo esperando a morte.

Meu ódio em torno de Bea e Helena era enorme. Por que Claire? O que ela fez de errado? Como ela conseguiu ser essa traidora e por que, por que?! Eu queria tanto me vingar, era só isso que eu pensava. Mas só pensava mesmo, pois não tinha forças nem vontade para isso. O meu estado de dor e desolamento me impedem e eu só consigo ficar deitado o dia todo. Por maior que seja a vontade, eu não consigo mais. Eles são muitos e eu não tenho mais força psicológica para lutar por isso.

Diferente de mim que estou em inércia, Peter não descansou um minuto. Ele está sedento por vingança e não vai parar até pegar as duas de uma vez por todas. Sou acordado do meu transe quando minha porta é aberta bruscamente. Peter adentrou meu quarto com raiva, ele me olhou de cima e viu o estado do local, uma bagunça fudida, assim como eu. O garoto respirou fundo e se abaixou na minha frente.

"Olha irmão, não dá mais, precisamos conversar e você precisa sair desse estado corrosivo." Peter diz segurando meu ombro, eu ia lhe responder quando o garoto fala na minha frente.

"Epa, vamos de banho antes né, você tá que nem o thor fudido e com essa cara até parece que contraiu o vírus VICVIO."

THE LAST ONES STANDING - CONCLUÍDA - APOCALIPSE AUWhere stories live. Discover now