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Haviam se passado três meses que abandonei minha antiga banda.

No começo me doeu ter de abandona-los, mas o que poderia fazer?
Não tinha mais tempo livre pra aproveitar o extra que veio com todo o sucesso e mesmo que me sobrasse algumas noites livres, não tinha ânimo algum pra sair de casa.

Assim que deixei de agenciar os garotos, eles procuraram outra pessoa, e ao que parece, não sentem minha falta mais.

Quanto ao que faço da vida agora, peguei o dinheiro que vinha acumulando em minha conta, aluguei um novo prédio e montei uma cafeteria com espaço pra leitura, chamei de vocábulos e agora aquele lugar é meu santuário.
Voltei com meu hábito de leitura, e isso vem me fazendo muito bem.

Óbvio que tudo que fiz foi apenas depois de um mês completamente parada aonde tudo que eu fazia consistia em dormir doze horas por dia e me arrastar por meu apartamento durante a madrugada.

Durante esse tempo, várias bandas, novas e conceituadas, vieram atrás de mim para propor que eu fosse sua representante, mas em todas as vezes rejeitei, afinal, não queria mais me envolver naquele tipo de situação.

E Bento?

Aaah Bento Hinoto continua fazendo muito sucesso pelo Brasil.
O japa foi premiado como o melhor guitarrista do país e no dia que vi isso meu coração vibrou de alegria por ele.

Dentre tudo que se passou por minha vida meu amor por ele foi a única coisa que não pude superar.
Me doía ainda vê-lo nas revistas de fofoca flagrado saindo com alguém, mas sentia que, de alguma forma, precisava disso pra entender que eu o perdi.

Desperto de meus pensamentos com uma garota me chamando.
Em suas mãos ela tem uma plaquinha com o número de sua comanda e o livro laranja mecânica.
Ela me estende a placa e eu a pego para verificar quanto ela devia.

Ao lhe entregar o troco percebo que usava uma camisa dos mamonas.

E ela, ao perceber o meu olhar, sorri.

-eles são de mais, não são? Daqui uma semana faram um show aqui na cidade. Estou tão animada!

Sorrio sem dentes e concordo com a cabeça.

-verdade, esses caras são incríveis

Logo após a afirmação, a menina vai embora e me deixa pensativa.
A vontade de ir nesse show é gigante, mas estou quase certa que os ingressos estão esgotados e após uma breve pesquisa descubro que estão mesmo.

Suspiro e penso que talvez seja melhor assim.

No dia seguinte, repito minha rotina de todas as manhãs e por volta das oito saio andando até minha loja.

Faço um café expresso para mim mesma, então pego a xícara a deixando entre minhas mãos frias,  com os olhos fechados, sentindo aquele aroma delicioso.

As manhãs de julho costumavam ser assim, mais geladas, mas eu amava aquilo.

Dou meus primeiros goles no café e caminho até o calendário pendurado em minha parede.
Meu aniversário estava chegando.
O primeiro aniversário que passo de vida nova.

Perto do almoço, com alguns clientes sentados, todos em silêncio, vejo duas figuras adentrando meu salão, sua presença ali me causa a mistura de animação com surpresa.

-oi s/n

-oii

Sem responder seus comprimentos, vou até os dois e os abraço.

-que saudade de vocês!

Samuel solta uma risadinha ao me abraçar e, mesmo que não tivesse visto o rosto de Sérgio, sabia que sorria.

-a gente também tá morrendo de saudade de você

Me solto do abraço triplo pra poder olhar pra eles.

-como vocês me encontraram aqui?

Falo após um momento de apreciação.

Nesse ponto, alguns clientes já haviam levantado seus olhos dos livros pra ver o que se passava.

-se acredita que coincidência maluca? A gente estava passando na rua...

-a gente procurou seu nome no Facebook a um tempo atrás e vimos que você abriu um negócio aqui.

Sérgio cortou Samuel, fazendo com que Samuca o olhasse de cara feia.

-Sérgio sendo Sérgio

-independente da forma que me encontraram, fico feliz por terem vindo. Venham, sentem aquilo vou pegar um café pra gente.

Sai andando, e quando voltei com uma garrafa térmica cheia de café, os dois já haviam sentado.
Me juntei aos dois e servi o café.

-e os outros meninos? Eles vem?

Sérgio pegou seu café e deu um gole bem na hora, então Samuel se viu obrigado de contar.

-bom, o Júlio e Dinho tiveram que ir comprar algumas peças de instrumentos novas, mas acho que logo eles tão aí.

Esperei por um instante, mas o que esperava não veio e com medo da resposta, decidi perguntar.

-e o Bento?

Sérgio pareceu ponderar sobre o assunto, mas por fim escolheu a realidade.

-pra ser sincero, ele não quis vir s/n.

A decepção me tomou por um segundo, mas me reprimi no mesmo instante.

-bom, tudo bem!

Sorri e puxei outro assunto em seguida.

Logo Dinho e Júlio apareceram com algumas sacolas, e diante dali tivemos uma tarde incrível, com várias risadas e histórias doidas, bem típicas dos mamonas.

Como senti saudades disso!

Pra que borboletas venham, você precisa cuidar do seu jardim.
E caso elas não venham, ao menos você terá um lindo jardim.

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Isso não é um fim!


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⏰ Last updated: Feb 12, 2023 ⏰

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ᵒ ᵖᵒᵈᵉʳ ᵈᵒ ᵃᶜᵃˢᵒ-Mamonas Assassinas Where stories live. Discover now