Capítulo 33

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POV. Seokjin

O carro acelerava como um raio pela estrada.

Namjoon, no volante, balançava a cabeça, contrariado.

- Katy disse que não é seguro forçar visões. - repetiu.

- Eu sei o que ela disse, Namjoon. - falei - Mas visões não são só do futuro, são do passado e presente também. E eu tenho como ver algo do presente. Eu posso ajudar. Se não fizer, então para quê sirvo?

Ele apertou os lábios, nada contente com minha decisão. Jungkook tinha confirmado minhas suspeitas. Agora para achar a porta o mais rápido possível, só dependia de mim. E eu faria isso.

Estávamos indo para meu apartamento, um lugar mais familiar e aconchegante poderia me ajudar a concentrar e puxar as visões. Um dia ainda seria um vidente poderoso, e isso começava hoje.

Olhei para trás, nos bancos Park Jimin estava no canto, com Jungkook encolhido em seu colo, os dois abraçados. Jeon não parava de tremer, mesmo abarrotado de blusas, não conseguia se aquecer.

Na outra ponta estava Soobin, que se recusou a ficar esperando na mansão e quis vir junto.

Meu prédio se assomou diante do carro, as janelas refletindo o bonito pôr do sol. Me apressei para fora.

- Esperem aqui. Eu preciso me concentrar. - falei.

Soobin desceu do carro e assentiu, encostando no automóvel. O cabelo uma bagunça, as feições sérias e caídas. Jimin se ajeitou para perto da janela aberta do carro, Jungkook tinha adormecido em seu peito.

- Namjoon? - chamei - Você vem comigo?

Ele ficou surpreso, mas concordou. Estiquei minha mão para ele que a segurou, entrelaçando nossos dedos.

Virei para o prédio, erguendo o rosto para o céu e inspirando fundo. Eu podia fazer isso.

O caminho foi rápido e silencioso, entramos no apartamento e Namjoon trancou a porta. Parei no meio da sala, os braços caídos ao lado do corpo, o coração descompensado.

- Vamos lá... - sussurrei para mim mesmo.

Fechei os olhos. Ouvia o som baixinho da geladeira ligada. O assovio do vento que entrava pela janela semi aberta. Senti a presença de Namjoon, alguns metros atrás de mim, silencioso.

- Vamos lá, vovó. - pedi, a imagem da minha avó no hospital psiquiátrico aparecendo na minha lembrança - Por que a senhora não me disse? Por que não me treinou?

- Seokjin... - o sussuro dos meus antepessados gelou minha espinha.

Abri os olhos, a luz laranjada do céu fazendo a transição para a noite atingiu meu rosto. O laranja cortando o azul dos meus olhos, transformando em branco.

Meu apartamento congelou no tempo. Eu podia ouvir sussurros, tocando minhas orelhas, voando de um lado para o outro.

- Por favor... - pedi.

Eu só precisava de uma visão. Só a localização da porta.

Eu sentia minha cabeça latejar. Katy avisou que visões devem ser tratadas com cuidado. E eu estava reivindicando meu poder, impedindo que ele tomasse meu controle, que surgisse apenas quando bem entendesse.

Comecei a andar de um lado para o outro, meus olhos cegos para o mundo. Namjoon paralisado como o apartamento, como o tempo ao meu redor.

- ME DÊ O QUE EU QUERO! - exigi.

O berro de milhões de videntes responderam. Arrancando a trava do meu corpo, irados e ao mesmo tempo com reverência.

O laranja do pôr do sol se condensou em imagens. Vi Soobin morto, como já tinha visto, vi Hoseok e Yoongi exaustos os olhos brilhantes, no meio de uma batalha. Vi Jimin gritando, sua dor rasgando meu peito.

Tremi, segurando minha cabeça com força.

As imagens continuaram, correndo ao meu redor como atores de um filme só para mim. Vi Jungkook estender a mão para mim, mas quando estiquei para ajudá-lo, sua imagem virou fumaça.

- CHEGA! - berrei.

As imagens esvoaçaram e fugiram para fora da janela. Até a poeira parou, tudo lento e silencioso.

Pisquei, meus olhos brancos como leite. Uma porta caiu no meio da sala, rachando o piso. Estava aberta, o vento frio que saía dela me envolveu, as vozes eram mais profundas, roucas. Vi um céu cinzento e então dezenas, centenas de mãos começaram a agarrar o portal, tentando chegar até mim.

A porta caiu aberta em cima de mim e eu gritei de susto.

Mas não fui esmagado. Quando abri os olhos estava no meio da floresta. Me lembrava desse lugar. Foi onde Azazel atacou Jungkook. O coração da Floresta das Bruxas.

- Jin! - Namjoon agarrou meus ombros, me trazendo ao presente.

Notei estar ajoelhado no chão, sangue escorria do meu nariz. O branco desapareceu e o azul dos meus olhos voltaram.

- O que... - sussurrei, minha cabeça voava em todas as direções, agitada, tentando lembrar do que vi e ajeitar tudo no lugar.

- Você estava gritando. - Namjoon falou preocupado - E está tremendo. Precisa parar. Vai se machucar.

De repente o branco encharcou meus olhos de novo, puxando para visões. Vozes contando segredos, querendo vingança, gritando para que eu as escutasse.

- Eu não consigo me concentrar. - falei, sem fôlego. O calor das mãos de Namjoon sendo a única constante no meu mundo turvo - Nam...

Senti um puxão atrás dos olhos, a dor cortante de mãos me arrastando mais fundo em minha mente. Os mortos gritavam na minha orelha, os videntes antepassados sussurravam sobre perdas, mas os monstros me jogavam de visão em visão. Eu não queria ver. Era doloroso. Confuso.

Ainda podia ver o mundo real, como se atrás de uma cortina de poeira. Namjoon me chamava com urgência, mas sua voz era só um murmúrio no meio de tantas.

Eu precisava me concentrar. Assumir o controle.

Me inclinei e beijei Namjoon.

O súbito toque dos seus lábios, seu arquejo baixinho contra minha boca. Suas mãos seguraram meu rosto, mornas e vivas. Ele inclinou a cabeça, aprofundando o beijo.

Me agarrei em sua roupa e me afastei, respirando com dificuldade, mas as vozes sumindo aos poucos.

Toquei minha boca com as pontas dos dedos e arregalei os olhos para Namjoon.

- Desculpe. - pedi - Eu não devia-

Namjoon me cortou, me beijando de novo. Um selinho dessa vez, longo e doce. Quando se afastou, ele sorria.

- Nunca peça desculpas por isso.

Soltei um riso baixo, a calmaria voltando para minha mente. Acho que sempre soube que precisava de Namjoon ali comigo, só não tinha aprendido a prestar atenção na minha intuição.

- Eu sei onde a porta está. - falei.

[não revisado]

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