cap 1.

11 1 0
                                    

___Ano de 2048. POV. Wanda.___


Meu celular tocava incessante no travesseiro ao meu lado, já era a terceira chamada que eu ignorava, mas minha mãe continuava insistindo. Nós tínhamos discutido mais uma vez, eu vim visitá-la depois de 5 meses longe e a primeira coisa que ela fez foi alimentar intrigas passadas. E agora eu estou na casa do meu pai.

Meus pais são separados mas eu sempre acabo ficando na casa da minha mãe quando venho passar uns dias aqui, até porque meu pai passa praticamente o dia inteiro fora a trabalho, já que é major do exército. Minha mãe é professora e só dá aula no período da manhã, então tem o resto do dia para ficar comigo.
A chamada finalmente se encerra, mas poucos segundos depois, volta a tocar. Dessa vez resolvo atender, tanta insistência não pode ser em vão, até porquê minha mãe não é muito de insistir.

- Ai, Graças a Deus! -Sua voz trêmula soa aliviada do outro lado da linha. - Filha, onde você está? Você tá bem?

- Eu tô na casa do papai. Mãe, relaxa, foi só uma discussão idiota, não é pra tanto. - Respondo, meu cenho franzido em confusão pois aquela não é uma reação normal dela. Preocupação.

- Não, Wanda. Não é isso! Não viu o noticiário?! Está acontecendo alguma coisa, estão avisando para que ninguém saia de casa. - A voz dela agora está ofegante e entrecortada, como se estivesse caminhando com pressa.

- Como assim? Do que você está falando?! -Pergunto, ainda mais confusa. Desde ontem após a nossa discussão eu pedi para meu pai me buscar e fiquei trancada no quarto, dormindo ou assistindo alguma sitcoin, a última coisa que vi foi o noticiário.

- Wanda, apenas tranque tudo e feche todas as cortinas, me ouviu?! Não abra a porta para ninguém, seu pai está vindo me buscar e nós chegaremos aí em alguns minutos! - E então sua voz se estabiliza, mas a ligação cai, ou é desligada, no próximo segundo.

- Mãe? Mãe! - Chamo, em vão.

Saio do que um dia fora meu quarto e caminho preguiçosa e ainda de pijamas para a sala, ligando a TV em algum noticiário local. A jornalista loira que apresentava o programa todos os dias em horário de almoço tagarelava em tom de emergência.

Ela falava algo sobre ataques "animalescos" feitos por civis contra animais e até mesmo outros civis, e sobre não ter informações concretas e motivo de tal acontecimento ainda ser dado como desconhecido pela polícia local. Aparentemente o caso também está ocorrendo em outras cidades do estado e até em alguns outros países.
"...o único alerta do delegado é que suspendam todas as atividades e vão para suas casas, se tranquem e não saiam até segunda ordem."

Troquei de canal pelo menos umas 5 vezes, e em todos eles programas rotineiros tinham sido interrompidos para que o mesmo alerta fosse dado. O que está acontecendo?
Decidi entrar nas redes sociais para obter alguma informação mais clara, mas foi só o tempo de desbloquear o celular que ele descarregou.

- Merda! -Murmuro, irritada. Ontem, na pressa de deixar o mesmo ambiente sufocante que dividia com minha mãe, saí sem pegar praticamente nada, inclusive o carregador do meu celular.- Ótimo.

Decidi trancar todas as portas e janelas, claro que antes fui até a calçada para ver se estava tudo bem, e não sei se pelo fato de ser um condomínio fechado, mas tudo parecia tranquilo como sempre.
O problema é que as horas foram passando e meus pais não chegavam. Rodei toda a casa a procura de um carregador compatível com meu celular mas só encontrei um monte fio sem utilidade.

Coloquei num canal de música aleatório e fui tomar um banho, pois já estava me sentindo nos tempos de escola quando chegava o fim de semana e eu podia dormir até tarde. Decidi que não me preocuparia tanto com seja lá que estivesse acontecendo, afinal não poderia ser nada tão grave.

Almocei, limpei a casa, tomei um outro banho, lanchei e assisti série. Onde estão meus pais?
A medida em que foi entardecendo, escutava carros e mais carros dando partida e burburinhos agitados do lado de fora, fiquei tentada a sair para verificar, mas como a bela medrosa e antisocial que sou, me abstive.

Eu já estava completamente inquieta, a todo instante sentia como se meu estômago estivesse despencando de uns 10 metros de altura, ansiosa. No relógio de parede marcavam quase 5 da tarde, e nem sinal dos meus pais. Eu já tinha ouvido até grito do lado de fora da casa e isso me apavorava, estava acontecendo algo realmente grande e eu me limitei a sentar no sofá e esperar, nem sequer liguei os canais de notícias, tinha medo do que encontraria.

Luzes fortes atravessaram o vidro da janela e o tecido da cortina, chamando minha atenção. Me virei para a porta e pelo som do motor desligando imaginei que um carro teria estacionado de frente para a minha casa. Me coloquei de pé, talvez fossem meus pais. Caminhei alguns passos em direção a porta e estava prestes a destrancá-la quando batidas altas e violentas me fizeram pular de susto.

As pancadas eram tão fortes que a madeira tremia, meu coração parecia bater ainda mais forte no topo de minha garganta, prestes a sair pela boca. Dei alguns passos para trás.

- Wanda? Você está aí? -. A voz grave e familiar gritou, e eu quase flutuei de alívio.

- Pai? -Minha voz saiu num fio, falha e paralisada pelo medo.

Corri até a porta, a destrancando com as mãos trêmulas, e meus olhos se arregalaram quando vi a farda do meu pai coberta de sangue, em seu rosto também tinha e se misturava com as gotículas de suor que escorriam por sua pele. Ele estava ofegante e tinha uma expressão indecifrável.

- Pai?! Você tá bem? O que aconteceu?! -Pergunto, procurando por algum machucado em seu corpo, por onde meus olhos alcançavam.

- Temos que ir! -Ele diz agarrando meu braço e me puxando para fora, mas eu reluto.

- Como assim? Ir para onde?! -E de repente um estalo me faz perceber. -Cadê a mamãe? Pai! Onde está a minha mãe?!

E então ele me olha, sua expressão tão desolada e sombria que não deixa espaço para mais nenhuma dúvida.

- Vamos, agora.



Among The Dead.   [Wandanat/Wantasha]Where stories live. Discover now