cap. 3

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           _____Wanda POV._____


Steve me ajudou a entrar na van pela parte de trás e entrou junto comigo. Para minha surpresa o veículo não tem assentos além dos de motorista e os que ficam ao seu lado. É bastante espaçosa e tem algumas caixas de madeira no canto, consigo ver algumas latas e galões de água também. Sinto minha boca salivar, só então me dando conta de que faz horas que não bebo água ou coloco algo no estômago.

Me sento num canto vazio e Steve senta no lado oposto, mas de frente para mim, me observando. Não sei se ele já se deu conta ou foi avisado o quão estranho é ficar encarando as pessoas dessa forma, mas ele não parece se importar em fazer isso. Ouço a porta da frente ser fechada com força quando Natasha entra por ela, sentando no banco do motorista e dando partida.

Em silêncio, abro a minha mochila e tiro de lá duas barrinhas de ração militar. Não vejo seu rosto, mas sinto o olhar curioso de Steve ainda sobre mim.

- O que é isso? -Ele questiona, como uma criança.

- Comida. Quer? -Pergunto, ele assente. Estendo uma das barrinhas para ele e é a minha vez de o observar enquanto ele a desembrulha e dá a primeira mordida. Sua expressão de nojo e confusão é engraçada e ele parece bem arrependido de ter aceitado.

- Uau, é como comer papelão molhado. Isso é horrível! -Ele reclama, embrulhando a ração e me devolvendo.

- Bom, foi a única coisa que me impediu de morrer de fome naquela floresta, então não tenho do que reclamar. - Respondo com uma risada sem muito humor. O fato é que toda a comida de verdade que eu e meu pai traríamos conosco ficou no carro, essas rações militares seriam algo para reserva. Felizmente eu estava com a mochila quando o incidente aconteceu e fomos atacados pelos mortos-vivos, minha única reação foi de correr o mais rápido possível para dentro da floresta quando meu pai me gritou para que o fizesse. Então deixei tudo para trás.

Saí de meus devaneios quando percebi a movimentação de Steve, que se esticou até uma das caixas e tirou de lá uma lata e uma garrafa de água. Ele as jogou para mim, que as agarrei de forma desajeitada, e li o rótulo da lata; sopa de legumes em conserva. O olhei, meio sem reação, e ele assentiu para mim com um sorriso empático no rosto, me encorajando a ir em frente.

Como uma criatura faminta eu puxei o lacre da lata quase que em desespero, comendo da mesma forma. Nem ao menos senti o sabor ou mastiguei a comida, apenas a senti descendo por minha garganta, preenchendo o espaço vazio em meu estômago e saciando a minha fome. Senti meus olhos lacrimejando ao me dar conta da minha situação, mas isso não me impediu de fazer o mesmo com a água quando virei todo o líquido da garrafinha garganta a dentro.

Uma lágrima solitária desceu por meu rosto, finalmente uma sensação boa depois de tantas outras negativas. Enxuguei a bochecha com as costas da mão direita e olhei agradecida para Steve, sussurrando um sincero "obrigada". O homem apenas assentiu novamente, com o mesmo sorriso.

- Descanse um pouco. - Ele diz e se levanta, indo para a parte da frente da van, pulando para o banco do passageiro. Pude sentir que Natasha vez ou outra me olhava desconfiada através do retrovisor, mas não ousei olhar de volta.

Respirei fundo algumas vezes, repassando tudo o que aconteceu no dia de hoje e em como tudo deu uma reviravolta. Senti meu corpo dolorido relaxar e minhas pálpebras ficarem cada vez mais pesadas, até que a escuridão do inconsciente me tomou por completo.

                            {...}


Acordo assustada e em completo alerta quando a porta de correr da van é aberta com brutalidade, apenas para me dar conta de que estamos parados e Natasha acabara de entrar. Ela não me olha, apenas puxa a bolsa que ela mesma estava carregando lá na floresta, e então sai na mesma velocidade que entrou.
Olho em volta, pelas janelas, e vejo algumas árvores.

- Hey! - A voz grave e inesperada me fez pular de susto, levando a mão ao peito ao sentir meu coração extremamente acelerado. É apenas Steve. - Desculpe, não quis assustar. Você precisa descer agora.

Concordo, meio confusa, e ele assente, sumindo de vista. Esfrego os olhos brevemente para espantar o sono e logo me ponho para fora da van, minha mochila junto comigo. Absolutamente todos os músculos do meu corpo doem, os calos em meus pés ardem juntamente com os cortes e arranhões que tenho espalhados pelo corpo, causados por quedas e pelos galhos afiados que acabei trombando diversas vezes durante as corridas na floresta.

Nós estamos parados num tipo de clareira a beira da estrada, tem um trailer um pouco mais afastado e então eu percebo três homens vindo em nossa direção. Natasha está um pouco a frente e ela joga a mala no chão quando os homens já estão perto o suficiente.


- Caramba, vocês demoraram em?!. - Um homem de cabelos pretos e expressão naturalmente irônica diz, de braços cruzados.

- Pois é, houve alguns imprevistos. - Steve responde, coçando a nuca.

- Acabamos vendo um zumbi com roupa de caçador na beira da estrada, próximo a uma floresta, e onde tem caçador, tem arma. -Natasha responde, apontando para a mala no chão aos seus pés.

O moreno e um outro homem, esse mais robusto, se ajoelham e abrem a bolsa, analisando o que tem dentro. De onde estou consigo ver a enorme quantidade de armas e munições ali.

- Uau, esse levava a caça a sério. - O rechonchudo fala, ajeitando os óculos que escorregaram para a ponta de seu nariz.

- E quem é a garota pálida do seu lado? Ou será que eu tô alucinando? - É a vez do outro falar, um cara de estatura mediana e pele clara, um sorrisinho divertido no canto dos lábios. Pareceu ser o único dos três a me notar ali, ou pelo menos se importar o suficiente com a minha presença a ponto de comentar sobre.

Steve me olha, sua boca fecha e abre pelos menos umas 2 vezes, e então ele franze o cenho.

- De repente me dei conta de que não sei o seu nome. - Ele diz, sem graça. E então eu também percebi isso, e afinal só sei o nome dele e de Natasha porque os ouvi se chamando entre si.

- Anh, meu nome é Wanda. Wanda Maximoff. - Respondo completamente sem jeito.

- Bom, Wanda, é um prazer conhecê-la. Eu sou Clint. E esses são Bruce e Tony. - O homem se apresenta e a seus respectivos amigos, apontando para cada um deles. Apenas aceno com a cabeça.

- E o que vocês encontraram? - Steve pergunta aos outros três.

Logo eles começam a conversar entre si, algo sobre não terem sucesso em alguma busca, e eu apenas fiquei lá, parada, tentando não me sentir uma completa intrusa. Alguns minutos de conversa e Steve vasculha algo na bolsa, até que parece encontrar e então se levanta, vindo até mim.

- Sabe atirar, Wanda? -Ele pergunta, me estendendo uma arma de porte pequeno. Engulo em seco.

- S-sim. Meu pai me ensinou. -O fato é que nunca fui fã de armas, mas tive que aprender a manusear enquanto estávamos no bunker.

- Ótimo, você pode ficar com essa então. - O loiro diz, com um sorriso cúmplice, me entregando a pistola.

- Steve, que merda você tá fazendo?! -Quando menos esperei, a ruiva já estava entre nós dois, tomando a arma da minha mão com tanta força que eu quase fui junto.

- Nat, ela está com a gente agora, e você mesma disse que não vai ficar de babá dela então precisamos dar algo com o que se defender. - O loiro se explica, e de repente o clima fica super tenso.

- Eu não vou entregar uma arma na mão de uma completa estranha só porque você simpatizou demais com ela. Não a conhecemos, Steve! -A ruiva rebate, apontando pra mim como se eu fosse uma leprosa.

- Okay, galera, vamos acalmar os nervos. Afinal de contas, o que ela está fazendo aqui? - Bruce pergunta, uma expressão confusa em seu rosto e ele parecia não querer soar rude.

-  Ela precisa de algo que nós podemos oferecer, que é carona, e tem algo que nós precisamos.- Steve responde, tentando pegar a arma da mão de Natasha, que claramente é muita mais rápida e desvia sem muito esforço.

- Que seria? - É a vez do tal Tony perguntar, parecendo entediado.

- Um mapa. Para Sokovia. -O loiro responde, desistindo de pegar a arma, e os outros se entre olham.

- Olha, sem querer parecer rude, longe de mim. Mas já não sabemos o caminho para Sokovia? Quer dizer, Natasha cresceu lá. - Clint questiona, o cenho franzido deixa explícito que minha presença era sua dúvida desde o princípio.

- Não é um mapa para chegar até Sokovia, é um mapa para atravessar a cidade sem ser explodido pelos ares. - Steve explica, suspirando impaciente.

- Okay, e onde está esse mapa?- Tony pergunta, jogando os braços para o ar, já um pouco impaciente.

Natasha solta uma risadinha debochada e me olha, uma das sobrancelhas erguidas em desafio. Encolho os ombros.

- E-eu...- Tentei elaborar algo, mas o olhar cheio de desconfiança e expectativas de todos sobre mim me fez sentir completamente minúscula.

- Gente, ela tem um mapa, okay? Mas precisamos confiar nela. - Steve toma a frente, se pondo diante de mim como se quisesse me proteger. Natasha o olha incrédula, soltando uma risada completamente sombria e sem humor.

- Eu sei que é a porra do fim do mundo e provavelmente não vamos ver um rabo nem tão cedo, mas você não precisa lamber essa garota só porque é carne nova, Rogers. Você ainda é um topa tudo por buceta, garoto?! - As palavras asquerosas da garota soaram tão frias e enojadas que a minha única reação foi encara-la, perplexa.


- Já chega, Romanoff! Você passou dos limites! - O loiro vocifera, puxando Natasha pelo braço e a levando para longe de nós. A garota não parecia relutar, na verdade é como se ela já soubesse que a reação de Steve seria exatamente essa.

Eu não sei onde enfiar a cara, a situação completamente constrangedora na qual me encontro me faz preferir ter tido minha cara mastigada lá na floresta. Os garotos parecem notar meu desconforto e tentam fingir que nada aconteceu, encarando a paisagem em volta. Enquanto isso, um pouco mais distante, Steve gesticula com movimentos contidos enquanto discute sério com Natasha, que apenas o encara com uma expressão neutra, tornando impossível sequer imaginar o que se passa em sua mente.

Uma vontade absurda de dar meia volta e sair andando pra longe dali me atingiu e eu quase o fiz, não fosse um pigarro alto que chamou minha atenção. É Clint, ele me encara com um olhar empático, as mãos nos bolsos da calça jeans e os ombros encolhidos como se quisesse mostrar que não é uma ameaça.

- Vem, vamos procurar um coldre para você. - Ele chama, gentil, e se vira, começando a andar vagarosamente em direção ao trailer do outro lado. Hesitante, me ponho a seguir seus passos.

- E-eu não acho que seja uma boa ideia...- Sussurro quando o alcanço, e olho brevemente para Steve e Natasha, que ainda discutem.

- Ei, eu não sei o que aconteceu ou o que trouxe você a estar aqui agora, mas você não parece o tipo de pessoa que sobreviveria sozinha por aí, então estar com a gente é sua melhor opção. - Ele diz, sincero, e eu entorto o nariz. Apesar de ele estar certo, não precisa esfregar na minha cara, né? Ele solta uma risadinha divertida ao perceber minha chateação. - Sem ofensa.

- Tudo bem, você não errou, de qualquer forma. Só que ela aceitou que eu viesse, não sei por quê ela está fazendo isso agora. Eu não quero ser motivo de briga de ninguém. - Desabafo, soltando um suspiro cansado.

- Olha, não liga para o que a Natasha diz, ela é uma pessoa extremamente difícil no começo, mas isso é só porque ela não gosta do desconhecido. Ninguém aqui sabe nada sobre você e ela só quer nos proteger, apenas dê tempo e espaço a ela e mostre que ela pode confiar em você. Vai ver que a Nat é uma ótima pessoa. -Ele tenta me tranquilizar, mas não funciona. Aquela garota parece ter tudo o que é de mais escroto reunido nela. Já estamos no fim do mundo, qual a necessidade de tratar as pessoas dessa forma?!

- Ela é a... líder de vocês ou algo assim? -Pergunto, mudando de assunto.

- Anh, não. Não temos um líder. Na verdade gostamos de fingir que não, mas todo mundo sempre acaba obedecendo e seguindo as ordens de Natasha. E estamos todos bem com isso. Na maioria das vezes, pelo menos. -Clint responde, rindo e dando de ombros.

- Mas por que?! Ela parece ser insuportável. -Resmungo, o que o faz rir novamente.

- Acredite ou não, Natasha é uma ótima estrategista. Essa frieza que ela tem a faz pensar racionalmente e não se deixa ser levada por emoções, sejam elas quais forem. Isso acaba sendo uma grande vantagem quando se está tentando sobreviver pois não tem sentimento mais paralisante do que o medo, e é como se ela não sentisse nem mesmo isso. E todos os planos dela até agora nos mantiveram vivos, mas ela gosta de dizer que não é líder de nada. - Ele explica, parecendo orgulhoso da amiga. Talvez ela seja tudo isso, mas ainda assim continua sendo uma grande escrota. - Não se preocupe, okay? Ela vai parar de pegar no seu pé em algum momento. Mas só pra deixar claro... ela não vai hesitar em dar um tiro na sua cabeça se no final das contas você não tiver esse tal mapa.

- Obrigada, Clint, isso foi reconfortante. -Digo, irônica, e ele ri mais uma vez.

Alcançamos o trailer e ele abre a porta, me dando passagem, e entrando logo depois de mim. É um trailer comum, e bastante bagunçado. Provavelmente os três garotos "moram" aqui, assim como Steve e Natasha moram na van, e isso explicaria muita coisa.
Ele vai até o fundo onde ficam o que parecem ser beliches e procura por algo, aproveito o tempo para olhar em volta.
Tem uma pequena cozinha com direito a uma mesinha acoplada e bancos de couro meio surrados. Mais ao fundo tem uma pequena cabine, o que suponho ser o banheiro, e mais para trás fica o "quarto", onde Clint ainda vasculha. Na parte da frente tem o banco de motorista e passageiros. É aconchegante, mas fede um pouco (ou talvez seja meu nariz impregnado com o cheiro de morte) e é apertado por causa das várias caixas e galões espalhados por todo lugar.

Sam finalmente volta, me mostrando duas opções de coldres e me pedindo para provar e ver qual ficará menos folgada. Assim o faço, e uma das opções serviu perfeitamente para mim.

- Uau, uma Sig Sauer P365, Steve foi generoso com você. Não sabia que caçadores tinham esse tipo de arma. -Sam comenta enquanto analisa a arma.

- Estamos na Rússia, Clint. Aqui as crianças brincam com pistolas ao invés de chocalhos. -Respondo, revirando os olhos. O moreno dá uma gargalhada alta e sincera, ele é facilmente a pessoa com o riso mais frouxo que eu já conheci. E sinceramente é revigorante estar na presença de alguém com essa energia. Mas ainda assim não o conheço, não conheço nenhum deles, então mantenho um pé atrás.

Conversamos mais um pouco e eu aproveitei para utilizar o banheiro do trailer, mas logo voltamos para perto dos outros quando Steve nos chamou. O clima ainda é tenso e pesado e Natasha não tem uma cara muito boa. Sem muitas delongas, Steve pergunta se alguém do grupo tem alguma oposição sobre a ideia de eu me juntar e seguir viagem com eles. Ninguém disse nada, alguns deram de ombros, Clint sorriu para mim e a ruiva pareceu querer gritar que sim, ela tem uma enorme oposição para com essa ideia, mas no fim das contas nada foi dito por ela.

- Ótimo, então estamos decididos. Bem vinda ao grupo, Wanda. - Steve diz, por fim, se virando para mim e me dando um aperto de mão. É até engraçado a formalidade do momento, como se eu estivesse me juntando a um grupo de feira de ciências na escola.

Eu pude reparar a incerteza no olhar de todos, afinal, não me conhecem e não sabem o que esperar de mim, não sabem se estou ou não mentindo em relação ao mapa ou qualquer outra coisa que sai de minha boca, mas escolheram confiar e me acolher e eu jamais esquecerei disso.

- Bom, agora que já terminamos essa confraternização de boas vindas, recolham suas coisas e vamos! - Natasha gritou a ordem, e não tardou para que todos estivessem se movimentando em obediência.

Me senti um pouco perdida sobre o que fazer então apenas espero enquanto todos recolhem algumas coisas que estão para fora dos carros. Sinto alguém cutucar meu braço, é Steve.

- Vejo que Clint encontrou um coldre para você, ficou ótimo. - Ele elogia, me guiando sutilmente até a porta lateral da van. - Nós temos que seguir viagem agora, então essa sua chance de descansar mais um pouco. Se precisa ir ao banheiro, aproveite a oportunidade e vá até o trailer.

- Estou bem, obrigada. -Respondo, sorrindo agradecida, e Steve se vira para se afastar. - Steve, eu ainda não agradeci pelo que aconteceu lá na floresta. Obrigada, por...ter atirado aquela flecha e salvado minha vida.

- Oh, não fui eu. - Ele responde, dando de ombros.

- O que? - Pergunto, surpresa e confusa.

- Eu tenho uma péssima mira, eu provavelmente teria acertado a sua cabeça ao invés da dele. -O loiro responde, rindo. - Foi Natasha, ela quem atirou.

Foi o que ele respondeu, e então se afastou em direção ao outro lado da van, entrando e sentando no banco de passageiro. Natasha já está sentada no banco de motorista e parece impaciente, então eu logo trato de entrar no automóvel e fechar a porta.
As palavras de Steve ressoam em minha mente e então minha ficha parece realmente cair. Natasha me salvou. Que merda! Agora vou ter que agradecer a ela. Apesar da ruiva ser insuportável, eu só estou aqui graças a ela, e jamais deixaria isso passar despercebido, então preciso passar por cima do meu orgulho e a agradecer por isso. Inferno!

Mas o que eu estou fazendo?! Estamos no fim do mundo, tentando sobreviver sem qualquer expectativa futura, por que diabos eu estou de picuinha com uma garota mal educada que acabei de conhecer?!
Reviro os olhos, é simplesmente ridículo!

Natasha dá a partida e logo a van volta a se movimentar, Steve dessa vez não veio atrás comigo então eu estou sozinha junto com os mantimentos.

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⏰ Last updated: Feb 18, 2023 ⏰

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Among The Dead.   [Wandanat/Wantasha]Where stories live. Discover now