10 | do começo

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 eu sou o fogo, você é a gasolina, venha se derramar sobre mim, vamos deixar esse lugar em chamas

Jimin, prestes a dar a primeira mordida em seu sanduíche, interrompe a ação, mas sua boca se mantém aberta com a cena à frente. Jungkook, como quem não quer nada, está se acomodando na cadeira do outro lado da mesa. O mais irritante da situação, em sua visão? O alfa está agindo como se ele não estivesse aqui.

— O que você está fazendo? — Coloca o lanche na bandeja e apoia os braços sobre a mesa, inclinando o corpo em direção ao intrometido.

É um questionamento genuíno, dá para notar em sua expressão, seu tom de voz nem sequer foi rude. É que, a única vez que teve o alfa assim, compartilhando o mesmo espaço na hora da refeição, foi quando ele quis saber o que o grupo de Yejun queria; por puro ciúmes. Mas nada parecido ocorreu.

E não, o beijo e todo o cuidado e confissões que trocaram nos últimos dias, não mudam em nada o fator: Park gosta de paz na hora da refeição. Principalmente hoje, onde finalmente conseguiu sair do quarto.

Na noite do beijo e da conversa, onde foram parar no prédio desativado, Jimin descobriu outras coisas a respeito do Centro e do Jeon.

O terraço onde estavam, era o módulo onde ocorriam as aulas extracurriculares, os alunos carinhosamente chamavam de o prédio das artes. Desativado há um bom tempo, consequência de um incêndio proposital, que rendeu a destruição de duas salas, a parcial de outra, e a morte de dois alunos.

Jimin ficou chocado com o relato, afinal mora na cidade que ocorreu a tragédia e nunca soube de nada. Jungkook explicou que tudo foi acobertado e que como punição pelo ato de um grupo de alunos que sequer foram expulsos, afinal é o dinheiro que gira a roda do mundo, as aulas extracurriculares foram extintas. Todo o Centro sofreu as consequências.

Quando Park descobriu por qual motivo o alfa tinha uma chave que dava acesso a todo o complexo, ele chegou a travar o passo. Jungkook sabe fazer cerâmica. Questionou como alguém tão destrambelhado pode escolher logo essa disciplina. Então, com os olhinhos marejados, o Jeon contou que sua mãe era artista plástica, e sua paixão? A cerâmica.

Quando soube da aula, entrou sem pensar muito. Queria saber como sua mãe se sentia, entender o que era isso, porque ela amava tanto. Inclusive, ele mostrou a sala ao ômega. Sala essa que por muito pouco não foi destruída.

Park se chocou ao ver que todas as salas estavam intactas, a não ser as que se perderam no fogo. Todos os materiais estavam em seus devidos lugares, a rede elétrica funcionando normalmente, era como se o prédio estivesse esperando para ser usado outra vez.

Jungkook tem a chave por ser um ótimo aluno, e claro, tem um dedo de seu pai nisso. Se o único filho encontrou algum tipo de motivação, ele iria incentivar. Então, dias depois, o garoto estava recebendo uma cópia da chave, tapinhas nas costas e alguém dizendo: nunca desista dos seus sonhos.

Com o passar dos dias, parou de fazer o que descobriu gostar. Era solitário estar num ambiente grande e silencioso. Triste também. A chave nunca foi pedida de volta e ele não fez questão de devolver.

No fim acabaram quebrando coisas parcialmente destruídas da última sala a ser atingida. Esqueceram por instantes o quão cruel a vida foi — e talvez ainda possa ser — com eles.

— Oi, boa noite para você também, querido. — Jeon ignora o revirar de olhos do mais velho. — E respondendo a sua pergunta, o mesmo que você, jantar...

— Sua mesa não é essa, a gente não senta junto, então acho que você se perdeu no caminho — pontua fazendo cara feia, já que Jungkook finge não se importar com a falsa hierarquia de mesas que o lugar possui e começa a comer tranquilamente.

Stay • pjm + jjk • aboWhere stories live. Discover now